O ‘rei do norte” viaja na maionese ambientalista, mas não diz como vai fazer para resolver os problemas que afligem as comunidades do interior da floresta e das regiões urbanas. Muita narrativa que contraria os fatos.
O discurso do governador do Pará, Helder Barbalho, em torno da suposta preocupação ambiental e desenvolvimento sustentável na Amazônia, parece envolto em falácias que ignoram questões cruciais e prementes na região. Enquanto Barbalho enfatiza a soberania da Amazônia, a bioeconomia e a promoção do uso da floresta viva para o desenvolvimento regional, uma análise mais profunda revela omissões significativas em sua abordagem.
O discurso ambientalista do governador, por um lado, ressoa com a preocupação global em preservar a Amazônia e explorar seus recursos de maneira sustentável. No entanto, uma lacuna evidente surge quando se omite de mencionar o avanço do crime organizado e das facções que já exercem controle sobre vastas áreas da Amazônia. E nem diz como vai combater os criminosos, no território paraense, que aliás já dominam parte do estado numa espécie de governo paralelo.
A atuação desses grupos em atividades como garimpos ilegais, exploração mineral, comércio de madeira clandestina, pesca predatória e contrabando de animais é uma ameaça concreta à integridade da região. Essas questões, que o governador do Pará omite em seus discursos populistas, foram tratadas com preocupação, no meio da semana que passou em Davos, durante conferência do presidente do STF, Luís Roberto Barroso.
Sejamos objetivos: Barroso literalmente derreteu as falácias de Helder Barbalho, que preferiu em Davos trocar figurinhas, verbos, substantivos e reticências com o apresentador da Globo, Luciano Huck, do que abordar temas relevantes sobre a maior floresta do planeta. Aliás, Huck é tão entrosado com as questões amazônicas quanto uma moeda de 3 reais.
Ao falar em soberania nacional, Barroso – mesmo com críticas que a ele se possa fazer sobre seu ativismo judicial no STF que preside – foi direto ao ponto ao abordar a necessidade de combater o avanço dessas organizações criminosas que operam à margem da legalidade e comprometem não apenas o meio ambiente, mas também a segurança e o bem-estar das comunidades locais.
É fato que o desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado sem enfrentar, de maneira eficaz, essas práticas ilegais que minam os esforços para uma gestão ambiental responsável.
Além disso, a ênfase na bioeconomia e no uso da floresta viva como instrumento de progresso demanda uma abordagem equilibrada e sem demagogia política. O discurso de Barbalho parece negligenciar as ações concretas necessárias para preservar ecossistemas e biodiversidade, ao mesmo tempo em que enfrenta as atividades ilícitas que contribuem para a degradação ambiental.
É crucial que o discurso ambientalista do governador não se restrinja a palavras e promessas vazias, mas que seja respaldado por ações concretas e políticas eficazes. Enfrentar o crime organizado, fortalecer a fiscalização e promover práticas sustentáveis são passos essenciais para garantir a verdadeira soberania e preservação da Amazônia, indo além do verniz de uma retórica ambientalista pretensiosa.
Grileiros de terras, poluidores, etc
As constantes viagens do governador do Pará à Europa e Estados Unidos, sob a bandeira de defender a Amazônia, levantam questionamentos sobre a verdadeira eficácia de suas ações em prol do meio ambiente e das comunidades locais. Embora Barbalho faça discursos inflamados sobre a preservação da Amazônia, ganhando aplausos de bajuladores desinformados, há um notável silêncio de sua excelência com relação a questões cruciais que assolam a região, como a grilagem de terras e a poluição dos rios por grandes grupos nacionais e, principalmente, internacionais, que exploram de minerais à soja e óleo de dendê.
O governador, ao gastar recursos públicos em viagens e discursos aparentemente ambientalistas, parece mais inclinado a criar uma narrativa superficial para agradar a audiência internacional em vez de tratar de problemas reais enfrentados pela população amazônica.
A grilagem de terras, prática que envolve a apropriação ilegal de territórios, frequentemente despojando comunidades locais de suas terras tradicionais, é um dos males que persistem na região. No entanto, Barbalho evita tocar nesse ponto sensível, deixando de abordar as dinâmicas socioeconômicas injustas que perpetuam a miséria de nossos caboclos e os conflitos agrários com grupos poderosos de empresários.
A poluição dos rios por esses grupos, tanto nacionais quanto internacionais, também é uma realidade que precisa ser confrontada. Basta pesquisar os processos judiciais que tramitam em vara ambiental para ter uma ideia do que aqui se fala. Em Davos, para variar, todo mundo é santo e protetor do mundo, preocupado com o destino da Amazônia.
Enquanto esses atores proclamam seu alegado compromisso com a preservação ambiental globalmente, suas práticas na Amazônia frequentemente contribuem para a degradação dos recursos hídricos essenciais para as comunidades locais. A poluição resultante impacta não apenas o meio ambiente, mas também a saúde e o bem-estar da população amazônica.
A contradição entre o discurso de Barbalho e a realidade vivenciada pelo povo amazônico destaca a necessidade de uma abordagem mais transparente e eficaz na gestão ambiental e social da região. Em vez de discursos vazios e viagens que parecem mais relações públicas do que ações concretas, é fundamental que o governador se comprometa a enfrentar as questões críticas que afetam diretamente as comunidades regionais.
Somente assim será possível construir uma Amazônia verdadeiramente preservada, respeitando não apenas os recursos naturais, mas também o direito à dignidade e prosperidade das pessoas que chamam essa região de lar. Um lar degradado, diga-se a bem da verdade.