Cerca de 800 toneladas de manganês ilegais foram apreendidas, uma carga avaliada em cerca de R$ 1 milhão
Um comboio de caminhões que seguia pela BR-155, em Marabá, no Pará, foi abandonado às pressas na BR-155, na madrugada do domingo, 15. Todos transportavam centenas de toneladas de manganês extraído ilegalmente da região.
Para escapar da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizou uma operação na região, dez motoristas pararam seus veículos no acostamento, trancaram os caminhões e fugiram às pressas para o mato, conforme informações passadas por Geraldo Almeida, que é chefe substituto da Delegacia da PRF de Marabá.
Cerca de 800 toneladas de manganês ilegais foram apreendidas, uma mercadoria avaliada em aproximadamente US$ 200 mil, o equivalente a mais de R$ 1 milhão. O minério seguiria até os portos do Pará, de onde são despachados, em sua maioria, para a China, usado na produção de aço e siderurgia.
A tentativa de escoamento de grande volume de manganês na região ocorre dois dias após reportagem do Estadão revelar que a mineradora Vale, dona de direitos minerários em oito grandes áreas de Marabá, tenta vender esses títulos a outras empresas. A Vale nunca fez a extração do manganês nas áreas, mas viu suas áreas serem invadidas nos últimos anos pelo crime organizado. Mesmo assim, nenhuma solução efetiva foi dada à situação.
Em comunicado a interessados em comprar as áreas, a própria Vale declarou que não iria levá-los para visitas técnicas na região, justamente por medo dos invasores. “Em virtude das atividades de lavra clandestina que vêm sendo desenvolvidas por terceiros na área do Projeto Buriti, a Vale não patrocinará visitas ao local”, disse a Vale, no documento em que oferece as áreas a interessados.
O Estadão apurou que as denúncias publicadas pela reportagem chegaram ao conhecimento desses invasores e das empresas ilegais que atuam na região.
Durante a operação realizada neste domingo pela PRF, foi dada ordem de parada a um primeiro caminhão, mas o motorista decidiu avançar sobre o bloqueio. Ele foi parado logo em seguida pelos policiais.
Durante as abordagens, agentes da PRF conseguiram prender quatro motoristas que não tiveram tempo de fugir. Os homens e seus caminhões foram levados até a base policial. “Aqueles que conseguimos averiguar até agora, portavam notas fiscais frias. Outras ainda serão verificados”, disse ao Estadão o delegado Geraldo Almeida. Outros dez caminhões seguem abandonados na beira da estrada.
O delegado Geraldo Almeida disse que os casos foram encaminhados para a Polícia Federal, para abertura de inquérito criminal e investigações. Esse trabalho é realizado regularmente pelas equipes da Polícia Rodoviária Federal de Marabá, com o apoio da Polícia Federal.
O transporte do manganês que é extraído ilegalmente da região costuma ser feito de forma menos concentrada, explicou o delegado. Não é comum um volume tão grande de caminhões se deslocar com o minério, disse Almeida, justamente para não chamar a atenção das autoridades.
Crime industrial
Uma série de reportagens publicadas pelo Estadão desde o mês passado tem revelado o modo de operação do crime industrial que domina a extração e a exportação do manganês no País, um dos principais minérios encontrados em terras brasileiras, usado na produção mundial de aço e pela indústria siderúrgica.
Com o uso de notas fiscais frias, empresas têm omitido os verdadeiros locais de onde retiram milhares de toneladas do minério, causando destruição ambiental e prejuízos bilionários. Municípios como Parauapebas e Curionópolis, além de Marabá, estão no coração deste mercado clandestino. O plano dos criminosos consiste em utilizar, sistematicamente, documentos de extração emitidos em outros Estados, onde sequer há minas com atividades de exploração, para camuflar a verdadeira origem do material extraído.
Como revelou o Estadão, em 16 de dezembro do ano passado, a empresa CNB Minerações, dona de uma mina de manganês em Cavalcanti, cidade localizada na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, emitiu uma nota fiscal “com fim específico de exportação”. No papel, a empresa previa o envio de 5 mil toneladas de manganês para a Ásia, ao preço de R$ 2,4 milhões. O documento previa que centenas de caminhões deixariam o interior de Goiás com o minério, com destino a Marabá, no Pará, em viagens de 1.300 quilômetros de distância.
Ocorre que o manganês extraído pela CNB Minerações não saiu de Cavalcanti, local que, na verdade, possui uma mina desativada há mais de 20 anos. Mesmo assim, papéis da empresa forjaram a extração para limpar sua origem irregular, no entorno de Marabá. (As informações são do jornal O Estado de São Paulo)