Especialista da Unico explica sobre os perigos escondidos nas redes sociais e traz conselhos valiosos para proteger as crianças
Minutos após o parto, lá está a imagem do recém-nascido estampado o perfil dos pais orgulhosos, que ficam felizes com a grande quantidade de curtidas e comentários. O primeiro banho, a troca da fralda, o choro durante a madrugada, o dente de começou a incomodar, a visita ao pediatra, o “mesversário”, as primeiras palavras, o início do caminhar… Enfim, o álbum de família se transferiu para as redes sociais, ganhando novos recursos – com imagem, texto, áudio e vídeo – , e uma exposição sem precedentes
Com o passar do tempo, muitos até criam perfis específicos para as crianças. Dessa forma, apresentam intensamente a rotina dos filhos e, em alguns casos, até mesmo transformam este hábito em profissão, produzindo conteúdos para entreter conhecidos e desconhecidos.
Claro que a vida mudou e não é possível fechar os olhos para a nova realidade. Entretanto, os pais devem ter cuidado com a exposição da vida dos filhos nas redes sociais, prática conhecida como sharenting.
Afinal, o mundo virtual e o uso sem limites das novas tecnologias guardam diversos perigos. Dessa forma, é preciso preservar a imagem digital dos pequenos, evitando consequências graves.
De uma forma prática, a especialista Diana Tropper, Data Protection Officer (DPO) da Unico, aborda nesta entrevista os riscos existentes, apresentando cinco dicas para que os pais consigam buscar um caminho apropriado para preservar a imagem dos filhos na internet.
Agência Unico – Atualmente, muitos pais até mesmo incentivam e expõem o dia a dia dos filhos nas redes sociais, atuando como “atores mirins”. Quais são os riscos para as crianças com relação à exposição excessiva?
Diana Tropper – O primeiro risco associado à exposição excessiva de crianças em redes sociais é o impacto muitas vezes imprevisível na vida delas. Algo que os pais consideram “bonitinho” pode causar constrangimento e bullying e marcar psicologicamente o menor, especialmente porque, uma vez que um conteúdo é postado na internet, ele dificilmente pode ser apagado e a sua propagação por meio das diversas redes sociais é impossível de ser controlada.
As crianças e adolescentes ainda estão em período de formação e submetê-las à superexposição nas redes sociais pode gerar frustração e ansiedade com a possibilidade de suas postagens ou imagens não serem bem recebidas ou de serem criticadas em comentários negativos.
Além disso, imagens de rotina como crianças sem roupas, no banho, entre outras, podem ser utilizadas por atores maliciosos e acabar sendo usadas em redes de pedofilia.
Agência Unico – Qual a importância de preservar a identidade digital de uma criança?
Diana Tropper – A identidade digital de uma criança, assim como em um adulto, permite sua identificação perante órgãos governamentais, entidades privadas, bem como permite o acesso a serviços.
Logo, em uma sociedade cada vez mais digital, protegê-la é essencial para o pleno exercício da cidadania, seja para acessar serviços essenciais, seja para consumir outros bens e serviços
Agência Unico – Outro ponto delicado é o acesso fácil a dispositivos como smartphones e tablets. O caminho é proibir ou existe alguma forma saudável de permitir a utilização?
Diana Tropper – Entendo que o caminho de proibir totalmente o uso e o acesso a smartphones e tablets se mostra irreal com o tempo. Os menores são parte da sociedade atual. Privá-los totalmente de algo tão forte em nossa cultura pode ser um grande estímulo para que eles busquem formas de burlar a regra e se sentirem “parte”.
Além disso, tais regras serão dificilmente cumpridas quando a criança ou adolescente tiver acesso a outros equipamentos, como na escola ou na casa de amigos.
Um caminho mais factível parece ser o de estabelecer regras para o uso, como somente após cumprir tarefas escolares ou em horários previamente delimitados (só nos finais de semana, algumas horas por dia), também estabelecendo o horário limite de uso.
O controle parental (recursos de segurança disponíveis em diversos sistemas operacionais, sites e equipamentos, como roteadores e consoles de jogos para restrição de tempo de uso e moderação de conteúdo) também pode ser utilizado como uma ferramenta.
Mas ele não substitui o diálogo entre pais e filhos, esse essencial para gerar uma relação de confiança para o cumprimento das regras e limites estabelecidos, visando o bem-estar e a segurança do menor.
Agência Unico – Aliás, como monitorar de forma eficiente a forma que os filhos utilizam esses equipamentos? Os aplicativos de controles de acesso são eficientes ou apenas atuam como parte da prevenção?
Diana Tropper – As ferramentas de controle parental são um importante aliado no monitoramento do uso realizado por menores a tais equipamentos, mas se utilizados como única forma de prevenção, dificilmente serão suficientes.
Isso porque ainda que permitam executar regras de limites de uso de tempo ou de conteúdo, eles são passíveis de falhas e podem não estar presentes em dispositivos não controlados pelos pais.
Importante ressaltar, ainda, que as crianças e terceiros não devem ter acesso às senhas de administração dos equipamentos ou do controle parental para que as funcionalidades não sejam desabilitadas ou as regras alteradas sem conhecimento dos pais.
Agência Unico – Nesse contexto, como você avalia a importância da educação digital como forma de prevenção?
Diana Tropper – Nenhuma tecnologia, funcionalidade de controle parental ou mesmo serviço de monitoramento é capaz de substituir o senso de responsabilidade e autocuidado na prevenção.
Por isso, conhecer os perigos e impactos do uso de dispositivos eletrônicos e da internet para a integridade física e saúde mental é essencial para que a criança se desenvolva e crie mecanismos que lhe permita usar a tecnologia a seu favor
Dicas da especialista
Com essas informações, é possível entender a importância do diálogo com os filhos para promover uma educação digital apropriada, estabelecendo limites e acompanhando de forma saudável todo esse aprendizado, tanto das crianças quanto dos adultos
Para contribuir nesse processo, a DPO da Unico, Diana Tropper, apresenta cinco dicas práticas para os pais preservarem a imagem dos filhos na internet.
1 – Evite postar e compartilhar imagens de crianças com pouca roupa ou que exponham a rotina dos filhos. Lembre-se que, além de dificilmente as informações serem apagadas, há pouco ou quase nenhum controle sobre quem pode acessar tais conteúdos, que podem ser usados para práticas criminosas;
2 – Use senha ou biometria para proteger a galeria de fotos do seu celular. Isso dificulta que elas sejam acessadas ou utilizadas por terceiros, em caso de perda ou extravio do dispositivo;
3 – Ao enviar fotos por mensagem para familiares, amigos, ou mesmo o médico, use temporizador para apagá-las posteriormente;
4 – Respeite os limites de idade das redes sociais e de jogos on-line. Além de “dar o exemplo” para seus filhos sobre cumprir regras e combinados, estes ambientes são utilizados por criminosos e as crianças têm fácil acesso a conteúdos impróprios;
5 – Converse com seus filhos sobre privacidade no ambiente digital e sobre a necessidade de se respeitar a individualidade e privacidade dos outros. (Agência Unico)