“Andar é só andar” – Ummon/mestre Zen
O título desta VIDA é extraído de um provérbio milenar oriental.
Eu, em mim, me lanço integralmente nisso – até, pelo menos, que um fascista dos tempos modernos venha me demostrar o contrário.
E essa prática, Caminhar, na Antiga Grécia foi a mãe da Filosofia – os filósofos eram peripatéticos: dialogavam, refletiam, entendiam melhor a vida caminhando, passeando, enfim – andando e conversando.
Feita essas duas referências – ao Zen e aos pensadores gregos – surge com uma terceira dimensão o ato de caminhar a partir de Henry David Thoreau, ao qual ele dedicou todo seu terceiro mais célebre livro: Caminhar. O que o difere dos dois outros caminhos tomados pelos movimentos dos pés humanos?
No caso do Zen, trata-se de atingir um esvaziamento pleno da mente – os pensamentos, as ideias, as recordações, as emoções, tudo passa pela mente sem permanecer até ela ficar totalmente vazia: trata-se de atingir o que o mestre Hui Neng chamou de NãoMente. O que é possível, também, pela prática do Zazen, segundo o mestre Dogen – onde é o sentar que é só sentar.
No caso dos pensadores gregos, entre os quais Platão e Sócrates, mas desde os convencionalmente chamados Pré-Socráticos, ao contrário, trata-se como que de se distrair o corpo de si, para preencher a mente com espreitas raras de outros saberes que o cotidiano desconhece.
No caso de Henry David Thoreau, trata-se, direta e integralmente, de desfrutar a convivência do corpo com a Natureza, integrar o corpo nela, se irmanar em ampla, total, plena Alegria de estar existindo – nela, Natureza – ousemos: Vivendo.
Disso, em Caminhar Thoreau nos diz:
” Nossas expedições não passam de excursões, e voltam ao anoitecer para o pé da velha lareira da qual nos apartáramos. Metade do passeio não é mais do que um retrilhar de nossos passos. Devíamos, andando menos, percorrer maior distância, e talvez, no espírito imortal da aventura, nunca mais regressarmos, preparados para enviar de volta os nossos corações embalsamados, apenas como relíquias aos nossos desolados domínios. Somente se estais pronto para deixar pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filho, e amigos, e a nunca mais vê-los — se haveis saldado vossas dívidas, feito vosso testamento, deixado em ordem os negócios e se sois um homem livre, então estais pronto para uma caminhada.
E essas palavras de Thoreau me lembram a Amazônia. – Ó Floresta enquanto dures, quantas caminhadas nos ofereces cheias de mistérios e belezas raras sem fim.
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