O politicamente correto vai muito além de um termo usado para descrever expressões que evitam ofender, excluir ou marginalizar grupos de pessoas que são vistos como desfavorecidos ou discriminados ao longo da história, pois se tornou uma postura frente aos paradigmas do mundo, um jeito de ser, atuar e combater as injustiças. É uma tentativa civilizatória que visa mudar as relações sociais por um ideal de justiça, que revisa culturas, costumes, palavras e etc. Uma boa ideia, sem dúvidas, mas o que os indivíduos fazem de boas ideias, é algo totalmente aleatório.
Nesse sentido, o politicamente correto chegou ao seu limite e precisa ser repensado? A instrumentalização da prática para uma espécie de “marketing do bem”, ou para ganhar likes nas redes sociais ou mesmo fazer a tal “lacração” – outra que dá grande indícios que chegou ao limite do bom senso -, sugere que uma auto crítica é necessária para continuar ganhando espaço na sociedade?
Nessa quarta-feira, 27/01, o BBB-21 mostrou uma confusão que, em seus meandros, demonstra a preocupação quanto aos limites do politicamente correto. Durante a exibição de um dos patrocinadores (que trabalha com produtos de estética) aos participantes confinados na casa, um dos “brothers” deu a ideia, de maneira despretensiosa e bem humorada, das mulheres maquiarem alguns do homens presentes, o que foi feito, regado a muita diversão. Ao fim, todos bem maquiados, foi sugerido um desfile para finalizar a brincadeira. Tudo bem, todos riram e fim.
Uma das participantes do reality, depois do ocorrido, confessou a outras pessoas que a brincadeira teria sido um ato de desrespeito e violência simbólica contra a comunidade transgênero. Foi até o rapaz que deu a ideia da brincadeira e, aos prantos, relatou que conhece pessoas trans que sofrem muito preconceito e que teria se sentido muito mal ao ver o desfile. Ele foi “cancelado” ao vivo para milhões de pessoas. Passou de uma brincadeira contextual para um violentador de transgêneros. Absurdo!
Ele chegou a pedir desculpas – para ela – e tentou desistir do programa, mas foi impedido pelos colegas. Apesar da inquisidora ter aceito as desculpas, não é natural ficar bem após ser comparado a pessoas que praticam violência de gênero. O episódio lembra muito a campanha para que as pessoas não tirem fotos com o pai no Dia dos Pais, pois milhões de pessoas cresceram sem os pais no Brasil, então se você postar uma foto com o “seu velho”, estarás praticando uma violência. Já imaginou a gravidade disso? Não seria a instrumentalização de uma luta séria para ganhos pessoais? Um dos participantes, famoso por ser filho do Fábio Júnior, só faltou pedir desculpas por ter nascido homem.
Qual o resultado desse tipo de postura na avaliação da maioria do povão? Um Bolsonaro da vida (no sentido de escolha pelo radical)? Pois toda ação sugere uma reação inesperada. Se causa espanto para quem, em tese, tem “cabeça aberta”, imagina na maioria do população. Depois que ouvi ser sugerido que Chico Buarque pedisse desculpas por fazer versos com eulírico feminino, passei olhar criticamente as coisas que normalmente sou inclinado a concordar. Tudo tem limite.
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