Evento interinstitucional une música, dança, poesia e artes plásticas no coração do principal cartão-postal de Belém
Com painel gigante de led suspenso no melhor estilo de um grande evento, a segunda edição do “Hip-Hop Acontecendo”, realizada no sábado passado (26) pelo Instituto Ivan Pires com a parceria da Federação Paraense de Breaking (FPAB) em um dos símbolos históricos do complexo do Ver-o-Peso, o Solar da Beira, fundado no início do século XX, teve uma série empolgante de batalhas e cypher de breaking, de MCs, além de mostras de grafite, set de DJs e pocket show de rap.
Um dos pontos altos foi o lançamento de um trio de jovens b-girls considerado de muito talento no Estado: Lívia, do Crew (grupo) Estilo de Belém, e Roberta e Luana, do RPC Crew, as duas primeiras mais acostumadas a disputas de alto nível no País. Formando o inédito Crew “XXT”, uma ramificação coletiva homônima de grafiteiras, elas encantaram o público com graça e beleza e dividiram opiniões, apesar de não terem passado à final em decisão dos três jurados na disputa com os b-boys Noé, Loryn e Hugo, do município de Ananindeua, que acabaram perdendo para Caco, Xamã e Leno, que representaram o RPC do bairro do Telégrafo, na capital.
Muito festejadas pelo público, elas são consideradas potenciais atletas para aumentar o número de integrantes femininas do Estado na seleção brasileira de breaking, atualmente com quatro integrantes, dos quais há apenas uma b-girl, a conhecida MiniJapa, cotada a estar nas Olimpíadas da França em 2024. “Fomos convidadas a participar como b-girls do grupo XXT de grafiteiras e decidimos continuar, até para incentivar outras meninas”, adiantou Roberta. “Aqui ninguém esperava que a gente fosse formar um trio para enfrentar os meninos e fomos muito bem”, considerou.
“Esse tipo de evento é muito bom para a gente manter o ritmo e a preparação técnica, até porque fazer parte da seleção é um sonho que temos”, diz Lívia, que representou o Brasil no Mundial Escolar de Gymnasiade, disputado em maio de 2022 na França, onde conquistou a medalha de prata. Ela também foi a campeã na etapa Belém do Red Bull BC One, em junho.
DUELOS
Tendo como jurados a b-girl Thaysa e os b-boys Jay Rock e Kid Rocking, as batalhas de breaking reuniram oito trios no período da manhã com apresentações que arrancaram aplausos da plateia ao som dos DJs RG e Bakugan. Na parte da tarde, dezoito MCs fizeram duelo pela única vaga patrocinada para representar o Pará no mês de outubro em cinco eventos em Brasília, dos quais os mais importantes são o “Freestyle ao Quadrado”, “Guerra do Flow’ e “Batalha do Museu”.
Na decisão, os dois jurados convidados, Ninsai e Balota MC, produtores com vivência no rap, oriundos do Distrito Federal, deram o título para MC Nativo, do bairro do Telégrafo, que superou Gringuinho, representante do distrito de Icoaraci. Na programação, em que foram distribuídas premiações em dinheiro e sandálias da marca Sandals, houve exposição de grafite com Ireny e Ghasper, referências nas produções, e artes plásticas com Zão Martins.
CRESCIMENTO
De acordo com o produtor cultural Ivan Pires, que preside a FPAB, fundada há pouco mais um ano, o Hip-Hop Acontecendo já teve três edições realizadas há dez anos pelo instituto que leva o seu nome. Com a fundação da Federação em 2022, voltou a ocorrer no espaço multicultural Ná Figueiredo. Em seguida, foram realizadas as duas edições mais recentes no Solar da Beira, prédio já tombado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo e à Secretaria Especial da Cultura.
O diretor da FPAB Mael Rodrigues declarou que “o hip-hop precisa acontecer e voltar a unir as pessoas”. “É o encontro dos elementos e dos amantes dessa cultura, o momento para encontrar os amigos, trocar umas ideias, compartilhar bons momentos. As competições são uma ‘desculpa’ para que a gente possa se reunir e trocar essa energia positiva”, afirmou, salientando: “O hip-hop é uma cultura global, do ser humano, e não pertence a um só país. É música, poesia, dança e artes plásticas.”
APROVAÇÃO
O Hip-Hop Acontecendo vem caindo no gosto do público pela energia, estilos e exibições de seus participantes. A advogada Elen Ferreira, que fazia compras no Ver-o-Peso pela manhã, foi convidada a entrar no espaço por uma irmã e disse ter gostado das exibições. “Eu nem sabia que existia o breaking em Belém com essa força e juntando tantos jovens, que estão aí demonstrando a sua arte”, comentou ela.
A artesã Arlete Barros, que mantém barraca no Solar da Beira, tirou um tempo para prestigiar as exibições de breaking. “Tem de haver mais oportunidades para esses jovens, crianças”, defendeu. “O breaking é muito bonito, cheio de energia que contagia e emociona”, enfatizou.