‘Bispo SG’ participou de sessão solene na Alepa requerida pelo deputado Raimundo Santos para debater incentivos no Estado à nova modalidade olímpica
A Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) realizou anteontem (18) sessão especial no formato presencial e virtual para debater a viabilidade de implementação em nível de Estado de políticas públicas com o objetivo de revelar talentos e preparar atletas de alto rendimento do breaking, a modalidade olímpica que estreará nas Olimpíadas da França, em 2024.
A solenidade, que atendeu a requerimento do deputado Raimundo Santos (PSD), teve a participação de convidados como o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley Teixeira, e do diretor técnico de Breaking do Conselho Nacional de Dança Desportiva (CNDD), José Bispo de Assis, b-boy conhecido como “Bispo SG”, representando o presidente do órgão, PatricTebaldi.
Com mais de 120 membros filiados, entre eles atletas, árbitros, técnicos e escolas de dança, além de diversos praticantes da modalidade distribuídos em vários estados, o Conselho é quem promove e regulamenta a dança esportiva no País, tendo por orientação os códigos das regras desportivas e normas legais publicados pela World Dancesport Federation (WDSF), entidade internacional a quem está vinculada como associada.
O presidente do COB e o representante do CNDD fizeram as suas considerações no modo remoto como convidados na programação, que durou duas horas, no Auditório João Batista e contou com representantes da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e de Esporte e Lazer (Seel), além de importantes integrantes do movimento hip hop e do breaking de Belém e do Estado. A seguir, acompanhe entrevista com Bispo SG.
Ver-o-Fato – Quais são as etapas já montadas ou previstas do planejamento olímpico com relação ao breaking por meio do COB e CNDD?
José Bispo de Assis – Teremos uma etapa principal de ranqueamento, que será o Campeonato Brasileiro de Breaking no final do ano. O ranqueamento olímpico só começa oficialmente no mundo inteiro a partir de junho de 2022. Outras ações que dependem de parceria com prefeituras, Estados e iniciativa privada ainda não podemos divulgar de forma oficial. Mas estamos negociando mais um evento nacional e algumas parcerias com eventos já consolidados.
Ver-o-Fato – O calendário nacional de eventos voltado ao breaking já está montado? Quais as programações ano a ano – de 2022 a 2024?
JBA – Até o momento dessa entrevista, ainda não foi assinado o convênio com o COB. Estamos aguardando que isso ocorra ainda nesse mês. Só a partir disso poderemos divulgar todas as ações do calendário, já enviado e aprovado pelo COB, com a segurança de que serão realizados. Posso adiantar, além do Campeonato Brasileiro, o TWG ou The World Games 2022, nos Estados Unidos, nos dias 9 e 10 de julho, envolvendo o b.boy Luan, que conseguiu a vaga no World BreakingChampionship em dezembro de 2021, ficando em 4º lugar. Esse é o primeiro campeonato mundial da modalidade breaking, configurando um resultado expressivo e colocando o Brasil entre os melhores do mundo. Estamos aguardando as informações sobre as etapas internacionais.
Ver-o-Fato – Quantos profissionais e de que áreas específicas e/ou especializações já estão trabalhando no momento? Quantos serão até a reta final?
JBA – No CNDD temos o Departamento de Breaking, formado, em sua maioria, por b.boys e b.girls com excelente histórico dentro da cultura hip hop. São os seguintes: eu, conhecido como “Bispo SB”, diretor técnico de Breaking; a vice-diretora de Breaking e treinadora, Lucimar “B.Girl Lú”; o assessor da Diretoria, Iago Domingues; secretário Samir da Silva, o b.boy Samir; preparador físico: Chieh Chien Chan; na psicologia do Esporte, Tatiane das Graças, a b.girl Tati; fisioterapeuta Claudio Natanael, o “Ceará”; na Gerência Esportiva e Desenvolvimento, José Ricardo, o “Kiko”; Arbitragem Internacional, Naira Pedroso, b. girl “Nay”, além de Chardison Pereira, o “Migaz”, e Allan Barbosa, o “Mixa”. Esperamos, nesse ano, a inclusão de mais sete árbitros. É importante citar também a Comissão de Atletas de Breaking [do CNDD], tendo como presidente o b.boyThiaguin e a b.girlSavaz. É difícil precisar quantos serão até a reta final, visto que algumas contratações serão pontuais e dependem dos recursos que conseguirmos aportar. Temos, entretanto, o suporte de profissionais do COB para treinamentos no Rio de Janeiro e São Paulo e demais solicitações que dependem de aprovação prévia.
Ver-o-Fato – Qual será o investimento financeiro definido ou estimado nesse esporte até os Jogos da França? Como e em que será canalizado?
JBA – O valor aportado muda ano a ano e de acordo com as metas alcançadas em quesitos como governança, resultados esportivos e desenvolvimento da modalidade. Como o breaking só passou a ser olímpico em dezembro de 2020, nossa pontuação em medalhas e resultados olímpicos é zero, então pontuaremos em governança, que é um item mais baixo. Para 2022, existe um aporte de aproximadamente R$ 2, 5 milhões para o breaking por meio do COB/lei das loterias, que é a antiga Lei Agnelo Piva. Desse recurso, o COB fica com 50% para executar por intermédio de projetos que recebe de nós e aprove. Do restante, 25% fica para governança e 75% para o alto rendimento. Como falei anteriormente, somente depois da assinatura do convênio teremos acesso a esses recursos.
Ver-o-Fato – Como será a relação do COB e CNDD com os Estados? Eles terão acesso a investimentos do governo federal para montar infraestrutura voltada ao desenvolvimento da modalidade?
JBA – Os Estados têm autonomia por meio de suas federações, desde que estejam devidamente filiadas ao CNDD. Existem muitas federações de breaking formadas e em formação em contato conosco. Essas federações captam nos Estados, enquanto o CNDD – com a confederação – capta em nível federal. O CNDD cuida da seleção brasileira, campeonatos nacionais, enquanto as federações cuidam dos estaduais e da formação de novos talentos. Perguntei ao COB novamente, e não é previsto nesse recurso das loterias repasse aos Estados. Esse recurso, na verdade, é insuficiente diante de todas as ações obrigatórias que temos que fazer. Então estamos buscando parcerias e patrocínios para complementarmos isso.
Ver-o-Fato – Que incentivos estruturais e financeiros já estão ocorrendo aos b.boys e b.girls?
JBA – Os b.boys e b.girls filiados têm a possibilidade de pleitear a bolsa atleta municipal nos municípios onde ela existe. Ela tem menos exigências. As bolsas atletas estaduais e federais exigem bons resultados em competições oficiais, nacionais e internacionais – como Olímpiadas –, que ainda não ocorreram no breaking. As competições realizadas durante décadas, promovidas por produtores como eu, foram na área de dança, da cultura hip hop, e não do esporte. Como já citei, o breaking só foi reconhecido como modalidade olímpica em dezembro de 2020. Durante a pandemia, as competições estavam proibidas. De nossa parte, estamos buscando patrocínios e oportunidades para filiados e seleção brasileira de breaking.
Ver-o-Fato – O que esperar do breaking brasileiro em nível de competitividade e de chances reais de medalhas?
JBA – O masculino tem chance reais de medalha, visto que o b.boy Luan conseguiu o quarto lugar no primeiro campeonato mundial realizado pela WDSF enquanto modalidade olímpica. Então estamos em quarto lugar em nível mundial nesse momento. Além dele, outros b.boys e b.girls têm conseguido resultados expressivos, figurando entre os melhores do mundo na última década. Na seleção brasileira temos nomes importantes do Pará, como a MiniJapa, o Kapu, Leony e Kley. Estamos muito confiantes e trabalhando intensamente para obtermos bons resultados.