As tensões políticas e institucionais foram acirradas nesta terça-feira, 7, durante as comemorações do Dia da Independência. Em discurso na Esplanada dos Ministérios, o presidente fez novas ameaças ao Congresso e ao Judiciário, anunciando ainda que vai convocar uma reunião do Conselho da República. Mais tarde, na Avenida Paulista, criticou prefeitos e governadores por medidas restritivas de combate à pandemia e disse que só Deus o tira do posto.
“Nesse momento eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus, pela minha vida e pela missão, e dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá. Só saio preso morto ou com vitória. E dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”, afirmou o presidente.
Grupos de opositores também realizaram atos em diversos Estados; em São Paulo, o tradicional ‘Grito dos Excluídos’ promoveu um ato conjunto com os organizadores do ‘Fora Bolsonaro’. Autoridades da segurança pública do Distrito Federal, Brasília e São Paulo, entre outros Estados, criaram esquemas inéditos de policiamento para evitar embates entre os manifestantes, especialmente no transporte público.
As manifestações em todo o país, contrariando previsões da grande imprensa e de políticos, transcorreram de forma pacífica e sem incidentes entre governistas e oposicionistas. O tom radical ficou por conta das costumeiras bravatas e ameaças do próprio Bolsonaro endereçadas ao STF
Os principais veículos de comunicação mundiais acompanharam as manifestações que ocorreram no pais, a favor do governo de Jair Bolsonaro. Em pelo menos três desses veículos, o americano New York Times e os britânicos Financial Times e The Guardian, o assunto está na home dos sites jornalísticos.
O NYT menciona que o presidente brasileiro tem caído nas pesquisas de opinião pública e enfrentado vários desafios legais, fazendo, mais uma vez, um paralelo com a história do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, de quem Bolsonaro sempre se disse um fã.
Com uma foto da manifestação na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, o periódico salienta que os atos podem ser um prelúdio para o controle do poder, segundo especialistas consultados pelo jornal. Dias atrás, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil recomendou que seus cidadãos não se aproximassem desses atos, considerando que poderiam ser perigosos.
Na Avenida Paulista, lotada, Bolsonaro começou citando Deus e dizendo que passou por meses difíceis, nos quais recebeu muitas cobranças. Segundo ele, o momento demandou cautela. “Tinha de esperar um pouco mais para que a população fosse se conscientizando do que é um regime ditatorial. Pior do que o vírus foram as ações de alguns governadores e prefeitos”, disse, novamente criticando políticos que optaram por seguir as orientações da ciência relacionadas, especialmente, ao distanciamento social e uso de máscara.
Diante de apoiadores pedindo “liberdade”, Bolsonaro diz que defende a democracia, mas que não pode aceitar participar de uma “eleição que não oferece qualquer segurança”. Sem mencionar nominalmente o ministro Luís Roberto Barroso, disse ainda que o sistema eleitoral não pode ser definido por uma única pessoa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Não posso mais participar de uma farsa patrocinada pelo presidente do TSE.”
‘Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso’, diz Bolsonaro em novo discurso golpista
Já no fim de seu discurso na Avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro voltou a falar de reeleição e disse que só deixa o cargo se for a vontade de Deus. Aos apoiadores, afirmou: “Nesse momento, eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus, pela minha vida e pela missão, e dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasilia que só Deus me tira de lá.”
Em seguida, o presidente afirma que há três opções para o seu futuro político. Disse que pode ser “preso, morto ou sair com a vitória”. E completou na sequência: “Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso.”
‘Não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar nossa democracia’, diz Bolsonaro
Durante o seu discurso na Avenida Paulista, o presidente fez ataques novamente ao Poder Judiciário e especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Disse que não vai mais admitir ordens do ministro, que comanda o inquérito dos atos antidemocráticos e das fake news.
“Não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição Federal. Ele teve todas as oportunidades para agir com respeito a todos nós, mas não agiu dessa maneira como continua a não agir”, afirmou o presidente. Segundo Bolsonaro, o o STF o enquadra, ou ele deve “pedir pra sair”. ( Do Ver-o-Fato, com informações do Estadão)