Como por sobrevivência, algumas pessoas acabam descobrindo atalhos para serem felizes sozinhos. Aprendem as coisas que aliviam, que acalmam, que distraem e fortalece. Constroem um mundo particular e confortável, com uma cela quase intransitável para o coração.
É que depois de um tempo fica difícil abrir o coração de maneira espontânea. As desilusões no jogo do amor ensinam a canalizar alguns sentimentos e, portanto, gostar de alguém não se torna algo tão natural. São criadas barreiras, exigências, que criam muitos motivos para o não, em detrimento do sim.
Vez ou outra aparece alguém batendo na porta, educadamente, querendo entrar, e por mais que a pessoa mereça uma chance, entregar-se é custoso. O medo é enorme, mas não é de amar. O medo é de dar errado, de machucar, de ser a toa, quebrar a cara…de novo.
O tempo torna forte para a vida, mas sensível para o amor. É como ter medo de altura. Nesse medo acumulado, passam algumas pessoas que poderiam ter valido a pena ficar um pouco mais, mas para isso, é preciso ter motivação. É que lutar por alguém, doar-se para dar certo, custa esforço e a insistência se torna exaustiva. De repente as coisas se tornam práticas: se der certo ótimo, se não, tudo bem. O problema é que acabam ficando práticas demais.
De maneira contraditória, o medo é de dar certo. Então surgem diversos questionamentos quanto ao futuro, os planos, marcados pelo medo de ser apenas mais um dos tantos ciclos já vividos. Covardia? Talvez.
Mas eis a vida: um eterno grande risco infindável de incertezas, onde quebrar a cara é apenas uma das condições por estar vivo. Não há vida sem decepção, ainda bem! A coragem é recuperável e as decepções podem virar aprendizado.
É preciso coragem para sair dessa mediocridade de relações superficiais. Talvez valha a pena encarar o medo, mesmo que precise um tempo de solidão, reflexão e calma no coração. Uma hora é preciso criar coragem, mesmo com medo, porque um dia a alma fica inquieta e pede. Porque estar vivo só vale a pena quando podemos – com toda a sua plenitude – sentir.
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