As acusações públicas trocadas pelos irmãos João e Oscar Correa Rodrigues, dois dos donos do Grupo Líder, que abalaram ainda mais a estrutura da família, não foram provadas, mas mexeram em feridas dolorosas do passado, trazendo de volta à lembrança de seus membros, tragédias familiares que não foram superadas.
De acordo com parentes, a história da família milionária, dona de um dos maiores conglomerados empresariais do Norte do Brasil, originária de Igarapé-Miri, na região do Baixo Tocantins, nordeste paraense, é marcada por tragédias, a primeira, ocorrida em 14 de maio de 1981, com duas mortes, de mãe e filha.
Naquele dia, dona Iracema Rodrigues, então com 30 anos, primeira esposa do empresário João Rodrigues, morreu em um acidente de carro, junto com uma das filhas do casal, Jane, de apenas seis anos, em Belém.
As duas outras filhas do casal, Irna, de oito anos e Danise Correa Rodrigues, de três anos, ficaram órfãs de mãe, sob a rigorosa proteção do pai, João Rodrigues, viúvo aos 33 anos, após uma união de 12 anos com Dona Irá, como era mais conhecida a mãe das herdeiras do Grupo Líder.
Conforme narrativas de familiares, quando chegaram à maioridade, as duas filhas reclamaram a herança deixada pela mãe e entraram em conflito com o pai e a madrasta, Regina Pinto Rodrigues, com quem o empresário se casara pela segunda vez, quando ela ainda nem tinha completado 18 anos.
Foi outro episódio traumático, mas não apenas por causa de dinheiro. As duas filhas, já maiores, disseram que durante a infância sofreram maus tratos do pai e da madrasta e que ainda sofriam violência psicológica e patrimonial, pois o pai, João Rodrigues, não teria repassado a herança deixada pela mãe para elas.
Do lado dos parentes ligados a Oscar, a tragédia atingiu o genro dele, o advogado José Francisco Vieira, de 47 anos, então diretor jurídico do Líder, casado com Neuza Maria Rodrigues, filha do comandante do grupo empresarial.
Ele foi morto com um tiro no peito e outro na cabeça, em um provável assalto dentro de casa, perto da mulher e dos filhos, no bairro do Jurunas, no dia 7 de novembro de 2008.
O outro duro golpe sofrido pela família foi a morte do filho de João, “Joaozinho” de Deus Pinto Rodrigues, por overdose de drogas sintéticas, em 2017, durante uma festa de aniversário em uma boate de Belém, frequentada por pessoas ricas.
O rapaz, de 27 anos, era fruto do segundo casamento de João e, para a Justiça, foi vítima de overdose de drogas sintéticas. O caso foi encerrado.
Tragédias usadas como armas de acusação
Na última briga, João acusou o irmão Oscar de ter mandado matar o filho “Joãzinho” e também de ter mandado matar os homens que assassinaram o diretor jurídico do conglomerado empresarial, José Francisco Vieira.
Oficialmente, entretanto, “Joãzinho” morreu por overdose de drogas sintéticas e dois dos assaltantes que participaram do latrocínio contra o advogado e diretor jurídico do líder foram mortos pela polícia, mais precisamente pela equipe do delegado Éder Mauro, atual deputado federal.
Dos homens que assassinaram o genro de Oscar, cinco suspeitos foram acusados de participação no crime, sendo que dois foram mortos pela equipe do delegado Éder Mauro, em alegados confrontos, em locais diferentes, e três foram condenados.
Perseguição aos bandidos
Dias depois do crime, no final de novembro de 2008, três acusados foram presos, em Chorozinho, cidade a 64 km de Fortaleza, no Ceará, por policias locais. Eles foram identificados como Émerson Viana, o “Cearazinho”, de 23 anos, Marcelo Rodrigues Santiago, de 30 anos, e Walber Santana Muniz Franco, de 29 anos.
Os três foram transferidos para Belém e custodiados no presídio de Americano, cumprindo prisão preventiva decretada pela Justiça, mas conseguiram fugir da cadeia, no dia 26 de fevereiro, no Carnaval de 2009, para Santa Inês, no Maranhão, a mais de 500 km de distância.
O delegado Éder Mauro e sua equipe conseguiram localizar o trio perto da rodoviária de Santa Inês. O assaltante “Cearazinho”, apontado com autor dos tiros que mataram o advogado, foi morto no local, após reagir à prisão, segundo a versão oficial.
Marcelo Santiago conseguiu fugir e Walber Santana Muniz Franco foi baleado e preso. Marcelo acabaria morto em Belém, no dia 19 de janeiro de 2010, pela mesma equipe do delegado Éder Mauro, em outra alegada troca de tiros.
Dois anos após o crime, Walber Franco foi condenado a 23 anos de prisão, enquanto que outros dois homens acusados, Diego Carvalho da Conceição, o “Bisteca” e Raimundo do Remédio Rodrigues da Silva foram condenados a 24 anos cada, todos em regime fechado. Dessa forma, o caso foi encerrado.
Dias atrás, o comandante do Líder, ao comentar a agressão de que foi vítima por parte do irmão, disse não ter ódio dele, mas sim “muita pena” por ele não estar bem de saúde e só aparecer na sede do grupo para buscar dinheiro, 759 mil reais por mês, mais 30 mil, sem trabalhar.
Oscar, entretanto, jogou mais gasolina no fogo, ao dizer que a esposa de seu irmão “morreu em um acidente de trânsito, muito mal explicado até hoje, porque eles estavam em uma grande briga”. Nesse tal acidente morreram a primeira esposa e uma filha pequena de João.
Nessas discussões e um desforço físico – este já publicamente exposto nas redes sociais -, a Polícia Militar tem sido chamada na sede do Grupo Líder para apaziguar os ânimos e evitar que eles se matem. Além disso, “bombeiros” têm entrado em ação para promover a paz, mas as incursões têm sido inúteis.