Supostamente, cada região brasileira tem direito inquestionável à preservação de sua identidade cultural.
Posto que tal direito se encontra resguardado pela própria Constituição Federal.
Mas, na imagem da Amazônia veiculada pelas mídias nacional e internacional há completa supressão do seu complexo processo de formação cultural, de mais de 500 anos.
Ela é mostrada quase como um mero santuário ecológico.
Quantas pessoas sabem da presença de influência espanhola na formação cultural da região?
Sabem, por exemplo, que o rio Amazonas foi descoberto por um espanhol Vicente Yanez Pinzón, no século XVI?
Ou que o Maranhão chegou a ser possessão francesa, entre os anos de 1612 a 1614?
Ou que a presença portuguesa na região talvez date de uma época anterior à chegada de Cabral a Porto Seguro.
Pois, segundo uma nova corrente da historiografia lusitana, o navegante Duarte Pacheco, teria chegado à Amazônia, no final dos anos de 1400.
Certamente, poucas pessoas sabem disto tudo.
Isto é, sabem que os habitantes do espaço amazônico têm uma longa História.
Belém, a capital do antigo estado do Gram-Pará, independente do Brasil, dentro do reino português, por mais de 150 anos, é uma cidade marcada em seu espaço urbano por este passado desconhecido.
Já nos anos de 1600, as ordens religiosas, como a dos jesuítas, que enriqueceram com a administração da mão-de-obra indígena, começaram a construir edificações arquitetônicas monumentais, na cidade.
Nos anos de 1700, com a retomada das rédeas da economia da região pela metrópole, durante o governo do Marquês de Pombal, e com seu consequente enriquecimento através da exploração do cacau, à cidade chegou o arquiteto bolonhês Giuseppe Landi.
Ainda hoje ele é considerado o seu maior construtor.
Na cidade, levantou palácio e igrejas dentro de um estilo, o neoclássico, só conhecido pelo Brasil, mais de 60 anos depois.
A Amazônia, portanto, não só tem uma rica História da Cultura, o que afasta muito a região da imagem de um simples ambiente natural.
Como em sua formação cultural incorporou influências de outras culturas trazidas para cá por espanhóis, franceses, italianos, portugueses, judeus, sírio-libaneses, norte-americanos, e, japoneses.
Isto está retratado nas duas mil edificações de diversos estilos arquitetônicos construídas ao longo de quatro séculos no atual Centro Histórico de Belém.
- Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista