Através do Manifesto Curau/Flagrados em delito contra a noite, desde 1983 estamos seguindo uma estratégia fundamental para a libertação da grande Floresta. Qual?
Dar Voz à Amazônia. Não é preciso dizer porque essa Voz liberta é urgente. Nossos opressores querem nossos ouvidos – mas ouvir nossas vozes.
Esta prática enraizada no colonial Imperialismo que nos explora, oprime e quer nos emudecer para continuar sua farsa intensificada – mais astuciosa e dissimulada, através de mais persuasivas e mentirosas técnicas de manipulação de massa deste século XXI – repetindo a fabula de La Fontaine, do Lobo em pele de Cordeiro.
O que levou esta semana o jornalista investigativo e editor de Ver-o-Fato, Carlos Mendes, a se manifestar com, menos que uma queixa – uma Denúncia. Carlos Mendes escreveu:
“Como é que a JBS quer integrar os amazônidas em seu projeto se ela sequer dá vez e voz às perguntas de jornalistas da Amazônia sobre questões de interesse da região, do país e do mundo? Assim, com essa visão excludente, fica difícil pedir engajamento. Fica no ar um rastro de desconfiança”. Leia mais em (https://ver-o-fato.com.br/projeto-da-jbs-a-favor-da-amazonia-mas-como-se-a-empresa-foge-de-jornalistas/)
O que nos leva a prosseguir com ainda mais esta série de diálogos VIDA sobre a Amazônia iniciada com o Manifesto, naquele distante ano do século passado – que em sua defesa poética-política da Floresta só tem se atualizado desde então.
Sigamos em frente, pois, atravessando as várias camadas de realidades da Floresta, do natural através do histórico até o seu imaginário.
Havíamos, na VIDA passada, alertado para:
O projeto de permanência do imperialismo ocidental, projeto liderado pelos imperialismos europeu e norte-americano, inclui estratégias mais vastas e invisíveis, que utilizam a cultura – a Cultura, exprime melhor – e todas as suas ramificações, previamente envenenadas com um curare entorpecedor das culturas do Terceiro Mundo, tolhendo na nascente sua afluência e sua chance de uma ação nativa libertadora.
Assim é que esse Ocidente, tendo tudo a perder, nem vivo no real, nem mais vivo ainda na incorporação de um real total pela incorporação do além-fronteiras do onírico humano, quer, insiste em se propor como modelo alienador, das culturas oprimidas.
Freud continua sendo para o Ocidente culto uma ferida aberta no seu inconsciente, perigosa, e que o Ocidente precisa cicatrizar, esquecer, e a conversão de suas descobertas em estratégias terapêuticas é a mais explícita constatação da manifestação do medo ocidental diante do imaginário.
Será compreendendo que, do outro lado do Atlântico e mais acima dos Trópicos, se encena uma farsa, essa, que regiões de fome e de visões como a Amazônia terão direito, um dia, fatalmente, a um solo próprio e à convivência com suas raízes.
Deste ponto do Manifesto, vamos avançar para sua conclusão:
O real está em toda parte, sim, mas sob o domínio do medo ele se transforma em fantasia e fuga ao real. Só a fábula insurreta cravada na vida resgatará estética e historicamente a Amazônia dessa miragem: o padrão colonizador imposto a ela. E, também, da falsa existência que tem sido a nossa até então.
Mas onde está esse subsolo real, o autêntico chão que servirá de base a essa independência histórica e estética, assim exigida com ênfase?
Enquanto ignorarmos isso, esse solo fértil, nem ênfase nem Cultura nos levarão um passo adiante.
E é inevitável que, para saber, será preciso um sacrifício cultural: o sacrifício dessa cultura a que nos habituaram e nos habituamos, será preciso romper tabus, negar-se a velhos cultos.
Quantos de nós se dispõem a tanto?
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