Em 2017, Márcia Andrade, filha da senhora Alba Barra Andrade, de 84 anos, viúva e inventariante do espólio do marido, Orlando Macedo de Andrade, descobriu que o advogado e atual titular da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Carlos Augusto de Paiva Ledo, não havia repassado todos os valores de uma ação movida contra a empresa Socipe, na qual ele atuou como advogado da viúva.
Questionado por mensagem de aplicativo pela outra filha da viúva, Viviane Andrade, sobre as parcelas que Carlos Ledo, conhecido por “Cacá” deveria repassar referentes à ação contra a Socipe, ele respondeu que a empresa ainda devia algumas parcelas, não lembrando quantas, mas que iria cobrar em juízo novamente.
Ocorre que, segundo a advogada Márcia Barra, outra filha de Alba Andrade, a família descobriu, por meio de documentação levantada no Tribunal de justiça do Pará, que ele já tinha recebido e estaria desviando o dinheiro da idosa.
No acordo judicial celebrado na 10ª Vara Cível de Belém, ficou acertado que Alba Barra Andrade receberia R$ 100 mil, sendo uma entrada de R$ 50 mil e outras cinco parcelas de R$ 10 mil, cada.
A família acusa o secretário da Sedeme, de ter repassado à sua cliente a parcela de R$ 50 mil, já com os descontos dos honorários advocatícios e outras três parcelas. As duas parcelas restantes que totalizavam R$ 20 mil, ele teria se apropriado indevidamente. E até agora não repassou à família, segundo a denúncia.
A família afirma que o secretário sempre justificava que o problema seria a “morosidade da justiça”.
Outras denúncias
Segundo Márcia Barra, em 2010, o advogado Carlos Augusto Ledo havia vendido um imóvel da família, em Belém, e usou a mesma conversa, alegando que o comprador estava em dificuldade financeira e pediu para parcelar a dívida. Ela afirma que procurou o comprador do imóvel, que confirmou o pagamento integral da quantia devida na data fixada e no extrato da conta da mãe, ela deu por falta de R$ 7 mil.
Antes, em 2014, conforme a advogada, Carlos Augusto Ledo pediu para a mãe dela que intermediasse uma compra de antiguidades no Rio de Janeiro, onde a viúva reside, no valor de R$ 11 mil, dividida em quatro cheques, entregues à proprietária da loja, Flávia Garcia. Mas o último cheque não tinha fundos e ele só quitou porque a conta dele foi bloqueada no Banco do Brasil.
Sem saber do fato, a senhora Alba Andrade foi novamente procurada por Carlos Ledo para intermediar uma nova compra, dessa vez, de peças de roupas e casacos de frio para a esposa dele, prometendo que depositaria o dinheiro da conta da dona da loja, mas nunca depositou o dinheiro. Por isso, Alba Andrade se sentiu no dever de quitar a conta.
Ainda de acordo com Márcia, atualmente a dívida de Carlos Augusto Ledo com a mãe dela já passa de R$ 150 mil e a família decidiu procurar a Delegacia de Operações Especiais (DIOE) para registrar uma ocorrência.
“Nessa ocasião chegaram ao conhecimento de dona Alba diversos casos envolvendo o advogado e hoje secretário do governo do Estado contra outros idosos, com denúncia na DIOE”, afirma a advogada.
A ocorrência na DIOE foi feita em 05 de abril de 2019, mas segundo a advogada, a Delegacia demorou muito a tomar as providências e só ouviu o depoimento do atual secretário meses depois, após denúncia feita pela família da idosa ao Ministério Público do Estado.
Em 19 de maio, o delegado titular da DIOE enviou ofício ao Ministério Público informando a instauração de inquérito. Intimado a depor, o advogado justificou que havia recebido antecipação de honorários sucumbenciais.
O mais surpreendente, resume a advogada, foi que em comunicado ao juízo da Vara Penal, o delegado da DIOE informou que não vislumbrava a ocorrência de crimes e o Ministério Público emitiu parecer pelo arquivamento da ação penal.
Não retornou
O Ver-o-Fato procurou falar na manhã desta quarta-feira com o secretaŕio da Sedeme, para ouvir a versão dele sobre as denúncias, mas no gabinete para onde a ligação telefônica foi transferida, a informação é de que Carlos Augusto Ledo não estava no local. Ele estaria em “reunião com o governador Helder Barbalho”.
Foi assegurado que o secretário retornaria a ligação quando voltasse ao gabinete, mas até o final desta tarde isso não ocorreu.
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