Sávio Barreto – advogado *
Aos 43 anos, tenho a compreensão de estar fazendo a curva da vida. Nenhum lamento quanto a isso.
No fundo, essa equidistância entre o início e o fim da existência representa para mim uma posição privilegiada, na qual o passado e o futuro convivem em harmonia, sem que nenhum tenha motivos para desdenhar do outro.
Quem dera esse entreato permitisse o descanso do artista. Pelo contrário. A plenitude da idade adulta nos presenteia com algumas inquietações.
Olho para a nossa Belém, com sua linda arquitetura da belle époque, e vejo-me na pele do parisiense Mathieu Delareu, personagem de um livro de Jean-Paul Sartre que li há mais de 20 anos. O título vem bem a calhar com o que estou vivendo e escrevendo agora: “A Idade da Razão”.
Mas aqui não é a Paris de Charles Aznavour. Isso aqui é a Belém, o Pará, e o Brasil do Mosaico de Ravena.
Isso é, acima de tudo, Amazônia, onde a riqueza natural e a pobreza humana formam uma paisagem desconcertante, perturbando a racionalidade impaciente dos homens de meia idade, como eu.
Mathieu, qu’est-ce qui se passe, maninho?
Por quê os alimentos fartos da nossa região não chegam ao prato da nossa população? Por quê a Amazônia é mais pobre que o resto do Brasil se nela está a maior parte das riquezas nacionais? Por quê ocupamos sempre as piores posições no índice de desemprego, de desmatamento, de desenvolvimento humano, e produtividade da justiça e em tantos outros?
Aceitei hoje, dia 23 de agosto, Dia do combate à injustiça, o desafio de responder a essas perguntas.
Temos muito a conversar.
- Sávio Barreto é advogado militante e professor universitário. Possui graduação e mestrado em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará. É ex-conselheiro titular da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Pará.
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