Os inquéritos policiais que investigaram os assassinatos e esquartejamentos de duas mulheres, uma das quais teve pedaços do corpo, como o coração, guardados na geladeira do criminoso, ao lado de uma garrafa de sangue, apontaram que é possível que Rafael da Silva Ribeiro, o “Canibal de Breu Branco”, tenha cumprido rituais de magia negra.
O homem, de 34 anos, confessou os dois crimes perversos, foi julgado duas vezes e está cumprindo pena de 65 anos de prisão na cadeia de Tucuruí, no sudeste paraense. Ele sempre negou que tivesse comido parte dos corpos das vítimas ou que estivesse envolvido com magia negra.
A história desse homem é obscura, pois ninguém sabe o que ele fazia antes de matar as duas mulheres, uma delas, a própria companheira dele e dona da casa, que o sustentava.
Em uma rara entrevista para uma emissora de televisão local, na época do crime, ele disse que matou as duas por ciúme, pois teria descoberto que elas teriam um caso. Essa declaração dele, entretanto, não foi levada em consideração no processo.
Sentenças somam 65 anos de prisão
No primeiro julgamento ele havia sido condenado pela morte de Maria Zélia Ribeiro, de 46 anos, natural do Piauí, a segunda mulher que ele esquartejou e guardou os restos mortais na geladeira. A sentença foi de 32 anos de prisão.
A segunda condenação do Canibal, a 33 anos de prisão, foi proferida na semana passada (15), durante julgamento em Breu Branco, na Região do Lago. Ele foi julgado desta vez pelo homicídio cometido contra a ex-mulher dele, Joana Cristina da Silva Soares, natural de São Domingos do Capim, então com 48 anos. Na época ele tinha 27 anos e vivia às custas dela.
O Canibal de Breu Branco está preso desde maio de 2015, quando a Polícia Civil encontrou os corpos esquartejados das duas mulheres, enterrados no quintal da casa de Joana Cristina, no Bairro do Batata.
Outras partes do corpo de Maria Zélia estavam na geladeira, junto com uma garrafa de cerca de um litro e meio de sangue, guardada como “lembrança”.
Canibal achava sangue parecido com vinho
Para o delegado Rommel Souza, que atuou nos dois casos, o criminoso não demonstrava sinais de transtornos mentais e agia com frieza. “Ele é uma pessoa muito fria. Ele olhou para mim e disse: ‘delegado, o senhor pensou que o sangue na garrafa era vinho, né? Parece pra caramba’. Ele está sendo interrogado por várias pessoas diferentes e confessou os crimes, mas disse que se deixássemos ele dormir, ele conseguiria nos convencer do contrário”, disse o delegado na época.
A sessão do Tribunal do Júri de Breu Branco, que condenou pela segunda vez o réu, foi presidida pelo juiz Andrey Magalhães Barbosa. Segundo os relatos e provas produzidas, o réu cometeu o crime de homicídio por meio cruel, torpe, sem chances de defesa da vítima e com a qualificadora do feminicídio.
O caso gerou grande repercussão, pois as circunstâncias envolveram as mortes de duas mulheres na casa onde o acusado morava de favor. Conforme as denúncias, ele esfaqueou as vítimas, esquartejou e separou os órgãos.
Restos mortais das vítimas foram ocultados no quintal da casa, onde a perícia criminal recuperou os órgãos e encaminhou para exame. Segundo o inquérito, é possível que o réu estivesse envolvido com rituais de magia negra.
De acordo com os inquéritos, a ex-mulher do Canibal foi a primeira a ser morta, esquartejada e enterrada no quintal da casa. A outra mulher, Maria Zélia, foi assassinada mais de duas semanas depois, no mesmo local.
Sumiço da segunda mulher deu início às investigações
Foi por causa do desaparecimento de Maria Zélia que os policiais da Delegacia Civil de Breu Branco chegaram até o assassino. Um irmão da mulher foi à delegacia comunicar que ela havia sumido, depois de sair de casa e passar a noite fora. Ela havia sido vista pela última vez bebendo com um homem em uma bar da cidade, dias antes.
Os investigadores localizaram o bar onde Rafael Ribeiro e Maria Zélia haviam sido vistos bebendo e descobriram que os dois haviam pegado um mototáxi e seguido para a casa onde ele estava morando. No dia 9 de maio de 2015, os investigadores chegaram na cena dos crimes.
Com toda experiência de investigações em crimes de homicídio com requintes de crueldade, os policiais ficaram perplexos com o que encontraram naquela casa.
O corpo de Maria Zélia foi o primeiro a ser encontrado, enterrado e esquartejado, no quintal. O corpo de Joana Cristina foi localizado em uma segunda busca, no dia seguinte, também esquartejado. Na casa macabra, também foram encontradas uma pá, um cavador e uma enxada, além de um lençol e um colchão sujos de sangue.
A notícia do achado macabro logo correu pela cidade e o acusado teve de ser transferido para a Delegacia de Tucuruí, a 20 quilômetros de distância de Breu Branco, por causa da revolta da população. Ainda segundo o delegado Rommel Souza, surgiram denúncias contra o criminoso no Rio Grande do Norte, em algumas cidades de Goiás, além dos municípios paraenses de Tucuruí, Altamira e Redenção, apontando que ele tinha preferência por vítimas de meia idade.
A entrevista do assassino
Em entrevista a uma emissora de TV, na Delegacia de Polícia de Tucuruí, o Canibal disse que a motivação dos crimes foi ciúme. Ele disse que viu a então mulher dele trocando carícias com Maria Zélia e ficou revoltado. Segundo ele, durante uma discussão do casal, os dois entraram em luta corporal e ele a matou.
“Aí eu fui atrás da Zélia, passei mais de 15 dias atrás dela, até que eu achei. Conversei com ela, que se agradou de mim e então nós fomos para casa. Cheguei lá, ela nem sabia que eu era esposo da Joana. Aí eu perguntei se ela conhecia… eu conheço sim (respondeu)… eu curto… curto mulher (respondeu novamente). Ai a casa caiu pra ela. Aí eu fiz o serviço. Aí, pronto. Ficaram as duas (enterradas) juntinhas no quintal”, disse o criminoso.
Sobre os restos mortais, o coração e o sangue encontrados na geladeira, ele disse que era tudo da Zélia, que estava guardado como prova do crime, porque ele sabia que os “homens” iam chegar uma hora. O Canibal também disse que não se arrependia pelo que fez com Zélia, mas se arrependia em relação à ex-mulher dele, Joana.
Ele disse ainda que gostava de Joana, com quem estava vivendo havia nove meses, mesmo tendo um relacionamento conturbado com ela. “Eu gostava da Joana, a gente brigava e separava, mas a gota d’água foi isso (saber da relação das duas), eu fiquei cego. Mas eu não falei nada disso no meu depoimento. Se não fosse essa Zélia eu não teria matado a Joana. Agora eu deixei as duas juntinhas no quintal. Elas não queriam viver junto?”, completou.