Foi a partir de 2017, que mesmo sem apoio logístico adequado, os garimpos passaram a ser fiscalizados com maior intensidade pelos órgãos federais brasileiros. Naquele ano, entretanto, foram realizadas apenas cinco operações nos estados do Mato Grosso, Pará, Rondônia e Amapá, com a libertação de 48 trabalhadores escravizados, sendo 12 no município paraense de Santa Maria das Barreiras, na Região do Araguaia.
Antes, em 2008 e 2009, no Pará, tinham sido registrados apenas 2 casos de trabalho escravo em Curionópolis (Carajás) e 7 em Anapu (Xingu). Em 2011, foram 13 casos, em Água Azul do Norte (Araguaia). Já em 2018 foram 44 casos em Jacareacanga (Tapajós).
Em 2020, novamente Jacareacanga entrou na lista, com mais 35 casos, perdendo, no entanto para Santa Maria das Barreiras, que teve 40 casos. Este ano de 2021, os casos foram em Cumaru do Norte (Araguaia), com 27 ocorrências e em Rio Maria (Araguaia), com 22 trabalhadores libertados.
Duas operações realizadas em Jacareacanga, em 2018 e 2020, em que mais de 79 trabalhadores foram resgatados, constataram que a dona do garimpo era Raimunda Nunes Oliveira. E mesmo após a operação de 2018, a dona e os filhos conseguiram registrar e aprovar requerimentos minerários na Agência Nacional de Mineração, afirma o coordenador do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, Magno Riga.
O registro de requerimentos na Agência Nacional de Mineração é parte da sofisticação do crime, que incluiu também a criação, em 2020, de uma suposta cooperativa de garimpeiros no Pará, tendo Raimunda Oliveira como presidente e seus filhos como diretores, garante Riga, para quem a cooperativa é uma forma de mascarar o trabalho escravo.
Além do mais, grande parte dos garimpos estão localizados dentro de terras indígenas e área de conservação ambiental.
O combate ao trabalho análogo à escravidão nos garimpos é muito difícil de ser efetuado, porque, ao contrário da pecuária e de outras atividades, os auditores federais não costumam receber denúncias. Há ainda grande dificuldade de logística nas operações que necessitam de deslocamentos mais longos e complexos, com apoio aéreo.
O maior problema da fiscalização é a falta de servidores públicos. O último concurso para auditor do trabalho foi em 2010, quando 400 servidores entraram. Mas, em média, se aposentam entre 100 e 150 servidores todos os anos. Em 10 anos, foram 1.000 aposentadorias sem reposição adequada e hoje são cerca de 2.000 para todo o Brasil.
O Ibama conta com 2.480 servidores para todo o Brasil, pois perdeu quase 60% de seu efetivo em 20 anos. (Com informações do Ministério Público do Trabalho e do Observatório da Mineração)