Sexta-feira, 22 de outubro. Apolo Brito caminhou até o Colégio Nazaré e se sentou numa das cadeiras da banca de tacacá, no calçadão. “O tempo está se esgotando” – pensou. “E tudo o que eu estou fazendo é receber aula e mais aula sobre a Amazônia.”
Pediu uma cuia do tacacá mais famoso do mundo e pensou que aquela iguaria significava um portal para a alma da Amazônia. Aquele tacacá era a Amazônia. Lembrou-se que em Brasília de vez em quando tomava tacacá no Raízes Amazônicas, na Quadra 302 da principal avenida do elegante bairro Sudoeste, o único restaurante a servir comida paraense na capital da República. Um dia, uma garçonete novata, goiana, o atendeu e perguntou como ele queria o tacacá, com ou sem goma.
– Tacacá sem goma? – perguntou, surpreso.
– É que tem gente que só gosta de tomar aquele caldo amarelo – explicou-lhe a garçonete. Depois, conversando com a dona do restaurante, ela explicou que havia muitos goianos que iam lá só para tomar tucupi e provar jambu.
Jambu! Erva encontrada da Amazônia ao Sudeste, mas que somente os paraenses utilizam como tempero em quase tudo o que é prato. Sua propriedade picante provoca adormecimento nas papilas gustativas, transcendendo o paladar e remetendo para um mundo de sensações indescritíveis. Ali estava o elo do portal: jambu.
Anoitecia quando Apolo Brito se dirigiu ao China Bar, um inferninho que bombava a noite toda. O China Bar estava lotado como sempre. Carros amontoavam-se no meio-fio da rodovia Transcoqueiro, próximo ao bar. O terreno de número 155 dormia imerso na escuridão.
Por trás de um muro alto havia uma casa de alvenaria de porte médio, sem nenhuma lâmpada acesa. Apolo Brito verificou o portão de ferro. Aberto. Olhou para os lados. No China Bar, pouco distante, havia bastante movimento, mas ninguém prestava atenção no detetive.
Apolo Brito pôs as luvas cor de pele, entrou portão adentro e caminhou a passos firmes para a casa, contornou-a, já com a lanterna de bolso acesa, e se dirigiu para a porta dos fundos. Viu um canil no quintal. Estava com o portão de ferro escancarado. Voltou-se para a porta dos fundos. Aberta.
Tirou sua Glock do coldre, empurrou a porta com a ponta do pé e avançou, sempre precedido pela luz da pequena, mas potente lanterna. Entrou na casa e encostou a porta. Sentiu um odor adocicado, de carne em decomposição, flutuando na cozinha. Abriu a geladeira. Havia bastante comida e bebida nela. Fechou-a e avançou. Atravessou a sala de jantar e viu dois corredores. Um deles parecia ligar a sala a um banheiro, e o outro levava aos quartos. À medida que avançava o odor ia se tornando mais nítido e ficou mais forte no primeiro quarto. A porta estava só encostada também. Empurrou-a com a ponta do pé e recebeu uma lufada putrefata.
Focou a lanterna e viu algo monstruoso sobre a cama. Guardara a arma e pusera o lenço sobre o nariz. Focou a cama. Alfredão estava lá, mais cinza do que nunca. Seu enorme ventre fora aberto como o de um mero. Seus punhos e tornozelos estavam amarrados à cama com fios de nylon, que entrava na carne inchada e morta. Apolo Brito saiu correndo do quarto, cuspindo pelo caminho. Na cozinha, abriu a torneira da pia e lavou o rosto.
Improvisou uma máscara com o lenço e voltou ao quarto. Foi direto às gavetas. Vasculhou-as, mas não encontrou nada de interessante. Saiu do quarto e da casa. O movimento continuava intenso no China Bar. Aguardou um pouco, no escuro, até que se apresentou uma oportunidade para ele sair. Tomou pelo lado oposto ao do China Bar e caminhou até onde deixara o carro.
“Por que estriparam Alfredão? O sapo, rã ou jia Phyllobatesterribilis, pelo jeito, já deixou um morto. Dona Eleonora está limpa, a menos que essa mulher seja um monstro. E o que isso tem a ver com água? Pelo que pude perceber essa história de tráfico de água é bobagem. Tudo isso seria apenas aquele tipo de conspiração imaginária que povoa o inconsciente coletivo.
“E se Alexandre Cunha Silva e Silva, ou Batista Campos, como ele se autointitula, não passar de um louco? Mas, por via das dúvidas, ele não deixa de ter razão: se a morte do senador Fonteles for vital para os que estariam conspirando, eles farão o necessário para matá-lo, e nada melhor para pôr fim ao senador do que uma morte silenciosa, inequivocamente natural; um tremor no corpo e o nada. E então o reinado de Jarbas Barata viverá seu apogeu.
“Espera, estaria Jarbas Barata preparando tudo para vender o Pará inteiro como commodity para os japoneses e americanos? Melhor ainda, ele estaria diretamente ligado à construção da hidrelétrica de Belo Monte; assim, os japoneses e americanos, e europeus, e chineses, já levarão as commodities beneficiadas pela energia elétrica local, e só teriam o trabalho de fabricar os bens finais. A Vale estaria envolvida nisso? Ou estou delirando também na teoria da conspiração?
“E se Jarbas Barata não passar de traficante de drogas, mulheres e crianças? E depois, as últimas pesquisas dão o senador Fonteles como provável vencedor, mas arrastado, e Jarbas Barata, segundo Betão, recebeu um navio de dinheiro do governo federal para ganhar estas eleições. O interesse pelo Pará não é somente de JB, mas também do governo federal.
“Acho que eles têm as eleições sob controle, e como as representações parlamentares, tanto em nível estadual quanto na Câmara dos Deputados e no Senado, estão equilibradas; eleito, o PDB comprará parte da oposição. Mas, e se JB perder? Não creio, porém, que ele receie ter sua vida devassada, e sim perder um grande negócio.
“Já descartei venda de água. Esmeralda fez uma varredura e JB não tem uma ação sequer nas empresas de água mineral, nem contatos com árabes ou europeus que levem à água. E depois, esse negócio de tráfico de água da Amazônia a mim parece mais uma dessas teorias conspiratórias elaboradas por jornalistas paranoicos, ou por ecocomunistas, essa gente que perdeu o discurso stalinista e tenta agora assegurar o galinheiro, disfarçada de ecologista sustentável, ou seja, querendo garantir seu sustento próprio, sob a bandeira da água.
“Os mafiosos são capazes dos planos mais mirabolantes para assaltar os cofres públicos. Só tem uma coisa que ainda me parece obscura: a Confraria Muiraquitã. Meu Deus, o que devo fazer agora? Que linha de investigação devo seguir?”
Domingo, 24 de outubro. Dashiell Hammett, o diretor de redação do jornal Observador Amazônico e agente secreto da Confraria Cabanagem, morava sozinho num casarão em Icoaraci – a Vila Sorriso do jornalista Aldemyr Feio –, subúrbio de Belém a meio caminho do balneário de Outeiro. Apolo Brito sabia que havia dois filas soltos no quintal da casa de Dashiell Hammett. A casa dos fundos fora comprada pela Confraria Cabanagem para que o jornalista fosse espionado também.
Apolo Brito subiu o muro por uma escadinha e avistou os filas, que haviam pressentido a movimentação e estavam atentos. O detetive mirou o rifle de ar comprimido no fila que estava mais distante e disparou. O outro recuou, mas recebeu também um dardo na costela. Os cachorros caíram logo a seguir. Apolo Brito galgou o muro, puxou a escadinha e pô-la do outro lado. Desceu e caminhou para a porta da cozinha. Demorou um minuto para abri-la e entrou na casa.
Um gato esfregou-se na sua perna. Com sua lanterna de bolso ele avançou para o quarto de Dashiell Hammett. Era um quarto amplo e elegante. Havia um escritório contíguo. Ele entrou e deu de cara, na parede do fundo, atrás de ampla escrivaninha, com um óleo sobre tela de Olivar Cunha. Era uma tela quadrada, de um por um metro, soturna. Retratava um mendigo, esquálido como a morte.
Apolo Brito percebeu que o quadro estava ligeiramente inclinado; moveu-o como se fosse endireitá-lo e o quadro começou a se mover para cima, como uma porta de garagem. Atrás da tela não havia nada; apenas bela parede de tábuas em blocos ligeiramente menor do que o quadro. Apolo Brito olhou atentamente para a parede atrás do quadro e percebeu uma pequena irregularidade, que parecia uma verruga na madeira. Pressionou a pequena deformação e uma porta se abriu do mesmo jeito que o quadro.
Dentro, havia um estojo de veludo vermelho e, no fundo, um saco de plástico cheio de um pó branco. Apolo Brito pegou o estojo e o abriu, soltando um assovio. Dentro, havia um sapinho branco, de jadeíta, que colocou em um saquinho e no bolsinho da calça, devolvendo o estojo para seu lugar. Quanto ao saco, não estava lacrado. Apolo Brito molhou a ponta do dedo indicador com saliva, pegou um pouquinho do pó e levou-o à língua. Era cocaína de uma pureza que ele nunca vira. Deixou o saco como o encontrou e fez pressão na porta da parede. Ela voltou ao lugar. Fez a mesma coisa com a tela e ela voltou também ao seu lugar.
Apolo Brito abriu a gaveta do meio, da escrivaninha. Havia uma revista. Focou nela. Era uma revista japonesa intitulada Kendo. Pegou-a e viu que atrás dela havia uma caderneta de anotações Moleskine legítima. “Sofisticado esse sujeito” – pensou, folheando a caderneta. A única anotação que o interessou estava na última página utilizada. Dizia: “Mexiana. Carregamento dia 31”.
Saiu do quarto e entrou na sala. Havia, numa parede, uma impressionante espada de samurai, capaz de eviscerar um mero em um segundo. Apolo Brito sentiu sede e foi à geladeira, bebeu água e notou que havia um pequeno isopor na porta. Pegou-o e abriu-o. Ficou boquiaberto. Tirou do bolso um dos seis telefones celulares que havia comprado e fez uma ligação. Falou durante um minuto e saiu da casa. Fechou a porta da cozinha. Os cachorros estavam no mesmo lugar em que os deixara. Tirou os dardos dos animais e retornou pelo mesmo caminho pelo qual chegara.
Sábado, 30 de outubro. “Vou abrir o jogo também. Há coisa de quatro anos, quando comecei a fazer meu doutorado sobre história da Amazônia, descobri indícios de uma sociedade secreta, dos americanos, denominada Muiraquitã. Pesquisei nos arquivos do Museu e no Arquivo Público do Pará e descobri evidências dessa irmandade. Descobri também que o muiraquitã é o símbolo de um estaleiro em Mexiana. O intrigante é que na minha investigação eu descobri que a maior riqueza da Amazônia não é ouro, nem diamante, nem madeira. É água!” – dissera Montezuma Cruz.
“Certamente é branca, mas não transparente” – Apolo Brito pensou. “Senador Fonteles, Phyllobatesterribilis, muiraquitã, água, Mexiana, tudo isso começa agora a me parecer miragem…”
Mexiana fica no delta do rio Amazonas, ao norte da ilha de Marajó, de que é separada pelo Canal do Sul. Da mesma forma que Macapá, ela é cortada pela Linha Imaginária do Equador. Numerosos rios e igarapés formam um conjunto de pequenas ilhas e florestas densas. É a quarta maior ilha do arquipélago de Marajó.
Sua floresta equatorial, várzeas e mangues são cheios de animais, como capivara, suçuarana, preguiça, caititu, macaco, jacaré, jiboia, e aves como guará, cegonha, tuiuiú, garça, piaçoca, maguari, além de peixes, os mais comuns, tucunaré, tambaqui, piranha, pirarucu, pirarara, filhote, pescada branca, piramutaba, dourada. Quem olha no mapa pensa que Mexiana é banhada pelo oceano Atlântico a nordeste, mas as águas que a banham são sempre as do rio Amazonas.
Ela mede aproximadamente 100 mil hectares, ou campos de futebol, e dista de Belém, em linha reta, 190 quilômetros. Além de pista de pouso, a ilha conta com um hotel de selva, roteiros ecoturísticos, trilhas, passeio no lombo de búfalo, observação de fauna, praias – Jaburu Pinto, Japuá, Quebra-Vara, Matupiri e Malhadas – e pororoca.
De clima equatorial, chove constantemente na ilha. De junho a outubro é o período menos chuvoso. Nos outros meses chove o tempo todo. Depois da pororoca, a pesca esportiva é o maior atrativo da ilha, que já se tornou famosa nos círculos esportivos nacionais e internacionais. Pescadores esportivos de todo o mundo vão para Mexiana em busca da emoção de fisgar peixes que chegam a três metros de comprimento.
De Macapá, são oito horas de barco para se chegar à ilha; de Belém, 24 horas, e 50 minutos de avião, em voos fretados, com saída do aeroporto de Val-de-Cães. A vila tem uma escola, uma igreja, cerca de 50 famílias, e a Pousada Muiraquitã.
Às 5 horas de 31 de outubro, dia do segundo turno das eleições, para governadores, senadores e deputados federais e estaduais, Apolo Brito estava a caminho de um estaleiro na Ponta da Mexiana, na confluência da Linha Imaginária do Equador. Pousou o hidroavião tipo Douglas a uns seis quilômetros do estaleiro e chegou à terra num bote inflável. Era frequentador assíduo do Aeroclube de Brasília, em Luziânia, cidade do estado de Goiás a 56 quilômetros de Brasília.
Pôs-se a caminhar na mata. Usava botas de borracha de cano longo, fechadas em cima, terçado, e carregava uma mochila. Cerca de uma hora mais tarde avistou o estaleiro, um prédio baixo e comprido, de madeira. Havia um navio ancorado. A manhã era muito clara e o sol ardia no rosto. Apolo Brito se esgueirou até próximo ao prédio. Não havia cerca de espécie alguma e as instalações não aparentavam ser de estaleiro. Dois sujeitos desceram do navio e caminharam para o prédio. Apolo Brito julgou ter ouvido a palavra “embarque”.
Chegara a uma porta. Estava apenas encostada. Entrou. Além da saleta onde entrara havia um longo corredor, no meio do qual, uma porta. Abriu-a. Do outro lado encontrou uma fábrica de cocaína, e ninguém ali. Nos fundos, estavam estocadas o que calculou em três toneladas da droga. Furou uma das sacas de plástico e provou o pó branco. Era a mesma que encontrara no escritório de Dashiell Hammett.
“Então é isso…” – pensou. “A tal Confraria Muiraquitã não passa de uma quadrilha de traficantes de cocaína. Certamente estão envolvidos também com o tráfico de crianças do arquipélago de Marajó. Então Dashiell Hammett é agente duplo, e especialista em kendô, eviscerador de mero e colecionador de muiraquitã antigo.”
Trabalhava febrilmente colocando explosivos nos quatro cantos do salão. Saiu por outra porta, que dava, por sua vez, para um corredor curto, no fim do qual havia um escritório. Sobre a maior mesa encontrou um livro contábil. Folheou-o rapidamente e o pôs na mochila. Voltou para o salão e saiu pelo mesmo caminho utilizado ao chegar. Contornou o prédio. Na mão esquerda levava o detonador engatilhado e, na direita, a Glock 9 mm.
– Quieto! – ouviu a ordem.
Ao se voltar, Apolo Brito viu os dois homens que avistara descendo do navio. Cada qual apontava para ele uma escopeta capaz de arrancar sua cabeça. Acionou automaticamente o detonador e ouviu-se uma explosão. Ato contínuo, Apolo Brito fez dois disparos contra os dois homens e se jogou no chão. Fogo e pedaços de madeira se espalhavam ao seu redor. Passado um pouco, correu para o navio e subiu a escada a toda.
Quando chegou ao convés viu três tipos armados. Jogou-se ao chão atirando. Dois morreram na hora, mas um deles levou um tiro no ombro e tentou alvejar Apolo Brito, que voltou a atirar, desta vez atingindo-o no peito. Nesse instante viu um homem de meia idade correndo para a cabina do comandante do navio e foi atrás. Quando chegou lá o sujeito estava tirando uma carabina de um armário.
– Se eu fosse tu deixaria a carabina onde está – disse Apolo Brito. O sujeito se voltou devagar para ele. – Quantos mais estão “construindo” este navio? – perguntou.
– Não há mais ninguém. Éramos só nós – o sujeito respondeu.
– Só vocês não dariam conta de carregar o navio com aquela maisena toda, que, aliás, virou mingau queimado – disse Apolo Brito.
– É verdade. O carregamento seria levado somente depois das eleições.
– Humm! E quem é o dono da Confraria Muiraquitã? – Apolo Brito perguntou, surpreendendo o outro, que ficou calado. – Vai tirando a roupa! – disse o detetive. – Anda!, ou tu queres levar um tiro nessa barriga cheia de merda?
À medida que o sujeito tirava as roupas, ia empurrando-a para Apolo Brito, que pegava tudo o que havia nelas e atirava-as para longe. Quando ele ficou completamente nu Apolo Brito ordenou que virasse de costas e lhe aplicou um golpe na nuca. O tipo caiu e quando acordou encontrava-se bem amarrado numa cadeira, à frente da qual o detetive se sentara, segurando uma pequena capsula de vidro, fechada com uma cortiça.
– Tenho, aqui, uma quantidade microscópica de veneno da Phyllobatesterribilis. Há um alfinete engastado na rolha. Uma alfinetada dele na sua pele e tu vais tremer até te esticares todo – disse Apolo Brito. O sujeito olhou apavorado para ele. – Vejo que tu sabes do que estou falando. Bem, vou fazer algumas perguntas e se não ficar satisfeito com as respostas vou te dar uma alfinetada. Além de ti e das cinco pessoas que eu matei, há mais alguém a bordo?
– Não!
– Vocês estavam esperando alguém, hoje?
– Não!
– O que é a Confraria Muiraquitã? – o detetive perguntou.
– É uma empresa. Meu chefe é DashiellHammett – disse o homem.
– Humm! Faz sentido. Como é mesmo tua graça? – Apolo Brito perguntou.
– Carlos. Carlos Chávez.
– Parente do Hugo Chávez? – O sujeito o olhou choroso. – Bem, Carlos, tu és venezuelano? Qual teu posto na organização?
– Sou paraense, mesmo.
– E quem é o chefão da confraria?
Carlos ficou calado um tempo.
– Ninguém sabe. Só sabemos que Dashiell Hammett comanda as coisas por aqui.
– Bem, vou dar uma passeada por aí. Tu estás amarrado com um material que, se pressionado, entra na carne. Assim, é melhor aguardares com paciência – disse Apolo Brito, levantando-se e saindo.
De Glock em punho, o detetive percorreu todo o navio. Aparentava estar arrumado para o embarque da droga que explodira. Apolo Brito pegou um dos seis telefones celulares e fez uma ligação. Conversou durante três minutos, desligou o aparelho, desceu do navio e foi até onde os dois homens estavam caídos. Um deles fora alvejado na barriga e o outro no ombro direito. Estavam gemendo.
Apolo Brito ganhou a mata e pouco mais de uma hora depois estava de volta ao hidroavião. Quando chegou a Belém, o Tribunal Regional Eleitoral já havia começado a conferir os votos. As primeiras urnas contabilizadas foram as de Belém. O senador Fonteles estava ganhando.
A Folha do Norte, jornal de oposição a Jarbas Barata, publicou, na segunda-feira, 1 de novembro, manchete em letras garrafais: “Fonteles perde por 21 mil votos – E volta para o Senado como um dos principais nomes de oposição ao PDB”. No Dia de Finados, estampou a manchete: “Diretor de redação do Observador Amazônico comandava tráfico de cocaína”, e deu a chamada: “Muiraquitã volta para o Museu Emílio Goeldi”.
Quarta-feira, 3 de novembro. Apolo Brito caminhou até a Estação das Docas. A tarde deslizava como um rio de planície, e era povoada de mulheres em vestidos de seda. Vindo de algum lugar remoto ouviu-se merengue. Um iate partiu. “Talvez vá para Macapá, ou Caiena, ou Trinidad e Tobago” – pensou. Acomodado na cadeira de palhinha, tomou um gole da Cerpinha enevoada e pôs-se a sentir o anoitecer. Belém já flutuava, como nave imensa, na baía de Guajará.
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