“Se você tem uma laranja e troca com outra pessoa que também tem uma laranja, cada um fica com uma laranja. Mas se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas”.
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O Ver-o-Fato inspira-se no filósofo chinês Confúcio – a frase, acima, é dele -, que viveu no ano 551 antes de Cristo, para sugerir ao governador Helder Barbalho uma profunda mudança, não apenas na velha, falida e apodrecida estrutura do sistema penal do estado – hoje na boca do mundo em razão da carnificina de 62 mortos, dentro e fora do presídio de Altamira -, como na introdução de políticas de geração de oportunidades para tirar os jovens da ociosidade e do crime organizado, sobretudo o tráfico de drogas.
É preciso que se diga – ou tenha a coragem de dizer, como faz o Ver-o-Fato -, que a gestão governamental deste Pará velho de guerra, nos últimos 30 anos, tornou-se uma sucessão de fracassos e da oportunidade perdida de significativos investimentos em políticas públicas eficientes, focadas principalmente na educação, área negligenciada e a única verdadeiramente capaz de libertar um povo da barbárie e da ignorância.
Cadê as escolas de tempo integral e cursos de capacitação – e isto implicaria também na valorização de professores e profissionais do setor – para crianças, adolescentes e jovens, muitos dos quais abandonaram as salas de aula e não sentem vontade de a elas retornar, optando por engrossar as fileiras do tráfico, onde sobra dinheiro para comprar o tênis da moda, a roupa transada ou a motocicleta dos sonhos?
Se isso tivesse sido implantado lá atrás, hoje não teríamos chegado ao estado a que chegamos. De tanto a cabeça bater contra o muro, a cabeça partiu-se, mas o muro da ausência de soluções continuou intacto. A descoberta de talentos e de vocações profissionais, nos jovens que as escolas deixaram de produzir, se perdeu no tempo. O crime organizado foi mais rápido e competente do que os gestores que pensam, pensam e nada, ou pouco, produzem de útil à sociedade.
Não se quer aqui apontar o dedo e acusar quem quer que seja, nem condenar ninguém. Contudo, é importante que cada um, no passado ou no presente, com poder de decisão, assuma seus erros e a própria incapacidade de não ter enveredado por caminhos que levassem à prevenção da violência extremada, matanças e chacinas, nos lares, nas ruas, dentro ou fora de presídios. Humildade no serviço público, principalmente em área de comando, não deve ser artigo em falta.
Helder Barbalho chegou ao poder sob a promessa de fazer diferente e melhor do que fizeram seus antecessores. Tem apenas sete meses no cargo. Ou seja, mais três anos e cinco meses pela frente. E a chance de corrigir os rumos das áreas da segurança pública e educação que herdou.
O antecessor, Simão Jatene, quando confrontado pelos fatos, não admitia erros na educação e segurança durante os 12 anos em que esteve no comando do Estado. Preferiu refugiar-se nos acertos. E os teve, sejamos justos. Isso, porém, não basta. O Pará e seus imensos desafios são muito maiores do que qualquer governante.
Helder não pode, nem deve, cair na mesma armadilha soberba de Jatene. Afinal, negar os erros de um governo é correr o risco de repeti-los.
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