A disputa pelo controle da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) tem revelado um ambiente de fortes tensões e acusações, evidenciando a resistência de uma gestão que parece mais preocupada em manter o status quo do que em promover avanços reais em uma das entidades mais importantes do país.
Após mais de três décadas no poder, a diretoria da FIEPA foi destituída, e uma série de ilegalidades e irregularidades cometidas pela antiga gestão vieram à tona, resultando na intervenção judicial e na nomeação de uma Junta Governativa para administrar a instituição.
Entre as práticas denunciadas pela chapa de oposição, que provocaram a intervenção do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, estão a prorrogação ilegal do mandato do presidente José Conrado Azevedo Santos, a convocação relâmpago de eleições, e a tentativa de incluir membros que não pertencem ao empresariado industrial paraense na chapa da situação.
Reuniões suspeitas e manobras
Um fato emblemático ocorreu em 30 de novembro de 2022, a chapa da situação realizou uma reunião fechada apenas com membros leais, onde foram discutidas estratégias para desviar decisões judiciais e proteger candidatos impugnados por não serem empresários industriais.
Além disso, houve combinação de versões para lidar com a impugnação da chapa de oposição e a aprovação de uma resolução sem o devido exame, que buscava alterar regras eleitorais em benefício próprio.
Além disso, a decisão de convocar novas eleições em 12 de agosto de 2022, logo após a suspensão das eleições de abril, é um exemplo de como a antiga gestão tentava burlar decisões judiciais. A chapa de oposição denunciou que integrantes do conselho eleitoral da FIEPA, como Alex Dias Carvalho e Clóvis Armando Lemos Carneiro, eram suspeitos por seu vínculo direto com a chapa da situação, levantando questões sobre a imparcialidade do processo.
A Justiça acolheu as denúncias e determinou a dissolução da diretoria, destacando a gravidade das manobras que visavam perpetuar o poder.
No último dia 29, a Junta Governativa assumiu a administração da FIEPA, enfrentando esforços contínuos e manobras da antiga diretoria para retomar o comando. Em uma série de derrotas judiciais, os ex-dirigentes não conseguiram reverter a decisão e, paralelamente, começaram a espalhar rumores na tentativa de desestabilizar o novo comando.
O jogo do vale-tudo, até aqui, tem se revelado um tiro de canhão no próprio pé.
Vacina contra mentiras
Hélio Melo Filho, empresário e presidente interino da FIEPA, tomou a dianteira para trazer estabilidade à entidade. Esta semana, ele reuniu os funcionários da Federação para desmentir os boatos de demissões em massa, reforçando que o objetivo da Junta é corrigir erros e não punir trabalhadores.
“Sigam trabalhando com a mesma competência e tranquilidade de sempre”, afirmou Melo. Ele garantiu que o compromisso da nova gestão é devolver a FIEPA aos empresários industriais paraenses, cumprindo rigorosamente as ordens judiciais e preparando eleições limpas e legítimas.
A reportagem traçou a cronologia dos eventos que culminaram na destituição da antiga gestão. Em abril de 2022, o presidente José Conrado tentou prorrogar seu mandato de forma irregular e convocou eleições sem respeitar o prazo mínimo de 90 dias exigido pelo regulamento. A Justiça suspendeu a convocação, mas Conrado, em uma tentativa desesperada de contornar a decisão, marcou nova eleição sem atender aos critérios legais.
Denúncias de parcialidade na comissão eleitoral, que contava com membros da própria chapa da situação, agravaram a crise.
Renovação e respeito
A decisão judicial que anulou as eleições e destituiu a diretoria sublinhou o desrespeito às regras e à transparência. Em julho de 2024, o TRT reconheceu as irregularidades de forma colegiada e ordenou a criação de uma Junta Governativa, com a responsabilidade de assegurar que o processo eleitoral fosse conduzido de maneira justa.
Mesmo com sucessivas derrotas, a chapa da situação falhou em nomear representantes para a Junta, obrigando a Justiça a designar os integrantes com base na prerrogativa do membro mais idoso da oposição.
Agora, sob a liderança de Hélio Melo Filho, a FIEPA vive um momento de transição, com a promessa de renovação e respeito às normas, enquanto a antiga gestão insiste em lutar por sua volta, usando métodos que críticos apontam como um esforço para perpetuar seu domínio, em detrimento da modernização e da integridade da instituição.