A capitoa Yuna Miriam Tembé, liderança da Aldeia I’ixing, registrou boletim de ocorrência na delegacia de Quatro Bocas, município de Tomé-Açu, no nordeste do Pará, denunciando violência, intimidação, agressões e ameaças, inclusive de morte, contra um grupo de indígenas liderados pelo cacique Paratê Tembé, acusado de invadir área de seu povo para retirar dendê e tomar conta do território.
O cacique foi procurado pelo Ver-o-Fato para apresentar manifestação a respeito das acusações a ele atribuídas, mas preferiu dizer que sua comunidade está preparando uma nota relatando sua versão dos fatos para ser enviada a este portal.
No BO, cuja íntegra você lerá no final desta matéria, a capitoa afirma que a situação de sua comunidade “é desesperadora” diante da tensão vivida por todos, temendo que haja um “banho de sangue” perpetrado pelos invasores.
Em outra manifestação, enviada ao Ver-o-Fato no começo desta tarde de sábado, a comunidade da Aldeia I’ixing pede socorro às autoridades e providências urgentes sobre o que está ocorrendo no Vale do Acará.
“Nós, indígenas Tembé da aldeia I’ixing, vimos a público repudiar e denunciar as ameaças de invasão e de morte praticadas pelo indígena Paratê Tembé, contra nosso território e nossa líder, a Capitoa Yuna Miriam Tembé. Circulam informações que neste sábado, 16 de dezembro, Paratê Tembé, juntamente com Marquês Tembé e Raimundo Tembé, estariam tramando invadir nossa aldeia e assassinar nossa capitoa”
Segundo a manifestação, Paratê, Maruês e Raimundo, juntamente com outros parentes de aldeias vizinhas e infiltrados armados com armas de fogo, invadiram a parte leste do território, cerca de dois terços de toda sua extensão. “Agora, tenta aliciar outras aldeias, ameaçando-as de invasão, caso não se somem a eles na invasão ao nosso território. Tentamos todas as formas de diálogo com nossos parentes. Pedimos muitas vezes para que cessassem com este projeto de expansão sobre nossas áreas, algo que só se sustenta pela ganância e se justifica pelas enormes dívidas que os três acumulam na praça de Tomé-Açu e arredores”, enfatiza a comunidade.
Ainda de acordo com a nota, a comunidade lembra que ontem, 15, “nossa capitoa registrou um boletim de ocorrência, sobre as agressões, ameaças e sobre a depredação do seu veículo, que serve de apoio à comunidade”,
Relata ainda que no dia de hoje, 16, as coisas pioraram e tomaram proporções desesperadoras. “Nunca poderíamos esperar por tamanha violência e por tamanho desrespeito vindo de nossos próprios parentes, com os quais tantas vezes lutamos de mãos dadas contra as empresas que destruíram nossos territórios ancestrais.
Nesta ocasião, nos reportamos diretamente aos nossos três parentes: por favor, tomem consciência do que estão fazendo, somos uma família e nossos inimigos são os grandes projetos que contaminam nosso território e nossas forma de viver”.
No final da nota, a comunidade pede a “atenção e apoio da justiça, dos órgãos de segurança pública, incluindo a Polícia Federal, o MPF, a Funai, a Federação dos Povos Indígenas do Pará, a Secretaria dos Povos Indígenas do Pará e o Ministério dos Povos Originários. Por favor, evitem o derramamento de sangue”..
16 de dezembro de
O BO, na íntegra:
“A relatara acima qualificada compareceu nesta Unidade Policial, comunicando que na data 14/12/2023, por volta das 03h00min, sofreu uma invasão em
seu território da Aldeia 1/Ixing, declara que cerca de 150 pessoas participaram da ocupação do território Indígena, o qual é liderado pela relatara; QUE,os líderes dos manifestantes, tratam-se dos nacionais MARQUÊS TEMBÊ (ALDEIA WIRANU), PARATÊ TEMBÉ(ALDEIA TURÉ MARIQUITA), RAIMUnDO TEMB~ (~LDEIA YRIWAR) e KEILA TEMBÉ (ALDEIA NOVA); QUE, toda a invasão foi liderada pelos mencionados acima, ~U~, a ALDEIA 1/IXING, encontra-se neste local desde o ano 2009.
QUE, os invasores alegam que aquele território da Aldeia Ixingi lhes pertence e faz parte do território da Aldeia Turê Mariquita, a qual fica em uma distância de aproximadamente 13 km; QUE, a relatora ao tomar conhecimento da invasão, deslocou-se da sede de sua Aldeia Ixing até o local onde os invasores
, estavam concentrados dentro do seu território.
QUE, ao chegar no local a relatara foi recebida com agressões físicas,verbais e inclusive ameaças de morte. Que o nacional Juliard (Aldeia Wiranu),desferiu um soco na região da costela direita da relatora e logo em seguida, a empurrou no chão; QUE, após as agressões a relatara tentou diálogo com os invasores e seus líderes, porém, sem sucesso; QUE, agrediram o nacional Ítalo Tembé, filho da relatora, chegando ao ponto de quebrar o celular do mencionado pelo fato que ele filmava toda a violência que estava acontecendo contra a relatara;
QUE, além disso, segundo o vídeo juntado pela relatora esta entende que foi tentado o atropelamento do seu filho por parte do nacional Erison, que dirigia um trator; ~UE, os meliantes também agrediram o nacional Rogério Tembé, o qual é sobrinho da relatora; QUE, os invasores ocuparam o território da Aldeia Ixing com uma intenção, realizar o fruto do dendê que existe nesta propriedade;
QUE, o nacional Paratê Tembé disse que ” a gente entrou nesse território só pra pegar o fruto do dendê, pois vamos pagar nossas contas pois eu não tenho interesse nesse território “. Que os invasores possuíam maquinários para utilizar na colheita do fruto DENDÊ, como:tratores pertencentes ao nacional Marquês Tembé, caminhões pertencentes aos nacionais Raimundo Tembé e Ranieri. Que o nacional é atravessador e compra frutos de dendê no município. Que adentraram no território com esta estrutura de maquinário.
Disse ainda que a comunidade da relatora vivenciou momentos de desespero e muita violência por parte dos invasores. Que ainda na presente data (14) por volta das 10h02 , a relatora entrou em contato, por Whatsaap com a senhora Natália Mariel, procuradora do Ministério Público Federal e responsável pelas demandas indígenas, quilombolas e povos tradicionais da Amazônia, relatando o que estava acontecendo naquele momento na Aldeia Ixing.
Que obteve como resposta o envio de força policial, onde tentaram negociação com os invasores e seus ´líderes acima mencionados, porém sem sucesso. Depois, por volta das 17h, a relatora e os moradores de sua comunidade se retiraram do local onde os invasores estavam instalados, a fim de resguardar suas vidas pois já haviam sofrido diversas agressões naquele momento. Que Marquês Tembé, acompanhado de sua irmã Marcileia Tembé empurraram o filho da relatora, Itálo Tembém em frente de um dos seus tratores que eram utilizados no momento da invasão.
Informa que neste momento o nacional Marquês Tembé falava para o filho da relatora “tu quer morrer agora, tu quer morrer aqui”, colocando sua mãe na cintura e fazendo alusão de sacar uma arma de fogo. Que na mesma data Murukay Tembé depredou o carro pertencente a relatora. Que junto dos líderes e invasores estava o nacional Edivaldo, que é ex-presidiário e declara-se indígena, mas não conta com o reconhecimento dos povos indígenas do Vale do Acará. Que Edivaldo ameaça: “nós estamos fortemente armados e preparados para o que der e vier”. Por fim, disse que os invasores ainda continuam dentro do território da Aldeia I’xing.
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