Sem que as pessoas possam ir muito longe, por conta da pandemia, os famosos “Brocões” ganham destaque nas periferias de Belém. Agora vivem lotados, abrindo inclusive nos dias de segunda-feira.
Famosos por serem baratos, cultivando o contraste entre muita gordura e muita salada, esses lugares geralmente estão situados nas esquinas, pontes e praças. Nesse último espaço está um concorrido lanche no bairro do Sideral. Lá é um super esquema familiar, um toytismo braçal que dura a noite inteira.
Tudo começa no pedido: onde se pede, também é onde se paga e de onde vem os puxões de orelha nos funcionários que, aparentemente, são todos da mesma família. Lá também é o call center via whatsapp. Além de tudo, é lá o setor onde se negocia com a polícia uma vista grossa em troca de um lanche para a patrulha.
De lá, chegamos na preparação do lanche. São três pessoas: o primeiro lê o pedido para os demais, abre o pão e joga na chapa; o segundo frita o ovo e a carne; o terceiro separa toda a salada, junta tudo que foi feito pelos outros dois e embala. Eles não param.
É uma sequência intensa de trabalho. Os três de máscara, ou quase, porque o primeiro vive tirando para poder contar melhor suas potocas. O segundo inconformado com a demora da chegada de mais ovo e o terceiro levando esporro da caixa/atendente/negociadora/call center/dona.
Depois disso a pessoa do pedido direciona para garçonete (que também é responsável pela batata frita, suco e refrigerante) ou para o motoboy.
Lá, o entregador é raiz: não usa GPS, é na base da memória, do conhecimento da quebrada. Ele sai para entrega, com o capacete no braço (o que demonstra que possivelmente já fora mototáxi) e vai fazendo umas 5 infrações de trânsito nos primeiros 100 metros.
Volta, mas com um lanche ainda por entregar, explicando, rebarbadamente, que foi devido ao cliente demorar na descida do prédio para receber a entrega. A dona do brocão logo retruca, dizendo que ele que se vire, a taxa de entrega já está paga, no que ele volta, P da vida, mas vai.
E não pára de chegar gente. Macdonald é coisa de antes da pandemia, portanto, passado. Agora é só brocão. E não pára de chegar casal, motorista uber, mototáxis, outras patrulhas, brocados, gente suspeita, enfim, até os admiráveis e esfomeados vira-latas aparecem para marcar presença e, quem sabe, conseguir uma sobrinha de alguém. Vai que cola aquele rostinho de pedichão.
Viva os brocões!
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