Os números são estarrecedores e deveriam acender um alerta vermelho em todos os níveis de governo e sociedade no Pará. Mais de 700 boletins de ocorrência foram registrados na Operação Hagnos, uma iniciativa da Polícia Civil para combater a violência contra crianças e adolescentes. Esses registros não são apenas números: representam histórias de dor, traumas e famílias que clamam por justiça e proteção.
Ao todo, 1.242 vítimas foram atendidas em uma operação que revela uma realidade alarmante sobre a vulnerabilidade de menores no estado. Desses casos, 325 inquéritos policiais foram instaurados, mas apenas 234 tiveram seus agressores identificados e responsabilizados. É uma taxa de resolução que mostra avanços, mas que ainda deixa margens perigosas para a impunidade.
Enquanto o balanço aponta para 45 medidas cautelares e 61 medidas protetivas de urgência concedidas, a pergunta que ecoa é: por que tantas crianças e adolescentes precisam recorrer ao sistema de justiça para se protegerem de agressões? A resposta não está apenas nos tribunais, mas na ausência de políticas públicas preventivas e eficientes que deveriam garantir a segurança e o bem-estar de nossos menores antes que cheguem a situações extremas.
A violência contra crianças e adolescentes não é apenas uma agressão direta às vítimas, mas também uma violação ao direito fundamental das famílias de serem amparadas e protegidas pelo Estado. O papel do Conselho Tutelar, que realizou 150 intervenções diretas, é crucial, mas também insuficiente diante da magnitude do problema.
As ações educativas da Operação Hagnos, como as 31 palestras e panfletagens que alcançaram mais de 6.590 pessoas, são importantes para conscientizar a sociedade, mas não bastam. É preciso mais do que educação: é necessário comprometimento político e social para transformar essa realidade.
O Pará não pode continuar a ser palco de tamanha negligência com suas crianças e adolescentes. A violência contra eles é um reflexo de falhas estruturais que precisam ser enfrentadas com urgência e responsabilidade. Chega de silenciar as vozes mais vulneráveis. É hora de cobrar ações concretas e garantir que o Estado cumpra seu papel de proteção integral.