O fracasso da reunião entre o governador Helder Barbalho e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, expôe a total falta de habilidade política dos governos estadual e federal para lidar com crises e demandas legítimas dos povos indígenas. Após mais de cinco horas de debates tensos e improdutivos, nenhuma decisão foi tomada sobre a desocupação do prédio da Seduc, a revogação da lei da educação indígena nas escolas e a demissão do secretário Rossieli Soares. Helder rejeitou as propostas e os indígenas mantém a ocupação, que já dura 15 dias.
O clima na reunião foi marcado por confrontos verbais, com as lideranças indígenas acusando Helder de ser um “ditador”, o que o irritou bastante, enquanto o governador rebatia com acusações de “fake news” e insinuações de manipulação política dos manifestantes. Essa postura de intransigência e ataques mútuos revela não apenas a incapacidade do governo de construir pontes, mas também o desprezo pelas legítimas reivindicações dos indígenas.
A condução da reunião foi desastrosa desde o início. A imposição de regras restritivas, como a proibição do uso de celulares e a censura à transmissão ao vivo da reunião, demonstrou a falta de transparência do governo do Pará e reforçou a desconfiança dos manifestantes. Além disso, a presença de forte aparato policial e o bloqueio do tráfego na Almirante Barroso agravaram ainda mais a tensão, prejudicando a mobilidade da população de Belém.
No final, a reunião se dissolveu sem qualquer avanço concreto. As lideranças indígenas decidiram que não sairão da Seduc enquanto o governo mantiver a lei e o secretário, consolidando uma crise que agora se aprofunda. Com isso, o governo Helder Barbalho se vê diante de um impasse que não soube resolver, e que pode ter repercussões nacionais e internacionais.
Os riscos da COP 30
O impacto desse conflito vai além da política local. A realização da COP 30 em Belém, prevista para novembro deste ano, pode ser diretamente afetada pela incapacidade do governo de estabelecer diálogo com os povos indígenas, sempre citados por Helder em suas incessantes viagens pelo exterior, vendendo um entendimento que não existe com essas populações e comunidades tradicionais.
A comunidade internacional acompanha atentamente a situação, e a persistência dessa crise pode minar a credibilidade do Brasil no cenário global, passando a imagem de um país incapaz de proteger seus povos originários e garantir direitos básicos.
A falta de sensibilidade política e a insistência em discursos vazios apenas aprofundam o desgaste das instituições e ampliam o sentimento de revolta entre os indígenas. A crise instalada é um reflexo direto da falta de liderança e estratégia de ambos os governos, que, ao invés de buscar soluções reais, optaram pelo confronto e pela negligência.
Se essa postura permanecer, os danos à imagem do Brasil serão irreversíveis, e a COP 30 corre o risco de ser palco de novas manifestações que evidenciem a incapacidade do Estado brasileiro de lidar com suas próprias contradições.