Um jovem, de 17 anos, foi submetido ao primeiro transplante de tornozelo do Brasil. Ele sofria com dores nas articulações e falta de movimento, efeitos da leucemia linfoblástica aguda, um tipo de câncer que faz as células da medula óssea se reproduzirem com erros no DNA.
A alternativa era o transplante e Victor Miguel Pereira Valentim foi operado, no mês passado no Hospital Mater Dei Contorno, em Belo Horizonte. Mas só agora as informações foram divulgadas, porque os médicos aguardavam a primeira etapa da recuperação do jovem.
E ele está tão bem que já faz planos para voltar a jogar futsal, paixão da vida do Victor.
Precisão cirúrgica
O transplante de tornozelo foi realizado com ajuda de tecnologias avançadas e estudos tomográficos pré-operatórios. A cirurgia é o primeiro transplante homólogo de tornozelo com guia de corte customizados 3D do Brasil, para restaurar a mobilidade comprometida.
No procedimento, foi transplantada uma articulação completa, a articulação tibiotársica (tornozelo) que consiste em dois blocos osteocondrais (osso e cartilagem), um da tíbia distal e outro da cúpula do tálus.
A cirurgia exigiu precisão extrema, para evitar risco de perda de movimentos no local.
“Os riscos específicos desse tipo de transplante são principalmente a não integração do tecido transplantado, ou seja, o organismo não conseguir ‘integrar’ o osso do doador e esse tecido não sobreviver”, disse o médico ortopedista do hospital Mater Dei Rodrigo Simões Castilho, especialista em cirurgia do pé e tornozelo, responsável pela operação.
Início da preparação
O médico Rodrigo Simões precisou esperar para fazer a cirurgia: “Realizamos o diagnóstico do Vitor em 2020, porém, devido à sua idade na época, não podíamos realizar o transplante, pois isso poderia interferir no crescimento da região do tornozelo”, disse.
Mas continuaram acompanhando o garoto no período pré-cirurgico.
“Na época, optamos por uma cirurgia para colocar um espaçador, como se fosse uma prótese de cimento ortopédico, para ficar no lugar de um dos ossos, enquanto aguardávamos seu crescimento e a encontrarmos um doador compatível”.
Esperança e sonhos
Victor Miguel foi cadastrado em um banco de doação e aguardou aparecer alguém compatível. Após um ‘quase’ no mês de janeiro, em maio de 2024 veio a grande notícia.
“Um dia, chegando do trabalho, minha esposa falou: ‘Adriano, tenho uma ótima notícia para você: eles acharam um doador’. Já fomos para os processos da cirurgia, que foi um sucesso. Foi um renascimento para ele”, conta o pai do jovem, Adriano Valentim.
Ele está na primeira fase da fisioterapia que tem como meta ‘reativar’ os tecidos da região do tornozelo, para a região voltar a receber peso. Essa primeira fase do tratamento dura três meses.
“O Victor ficou por muito tempo em imobilização (sem mexer o tornozelo), de três anos e meio a quatro anos. Isso é muito danoso para nosso corpo, nosso organismo tende a ficar muito preso àquela posição na qual ficou parado. Precisamos preparar, mobilizar, soltar esse tecido”, afirmou o fisioterapeuta Nilcio Flávio do Real Cardoso.
O jovem deve ficar em uma maca para receber estímulos na região próxima ao tornozelo, como ligamentos e tendões, além de fortalecimento muscular. Concluída esta fase, Victor poderá colocar o pé no chão e exercitar a panturrilha com pesos e outras atividades cotidianas, como subir escadas.
“A primeira coisa que me chamou a atenção foi o nível de determinação dele. Ele tem muita lucidez sobre o problema dele, sempre pede para fazer os exercícios, sem restrição. Eu proponho um desafio, e ele faz. Isso me motiva mais a ajudá-lo”, observou o fisioterapeuta.
Jogar bola
Tanta determinação tem um motivo especial: Victor Miguel quer voltar a jogar bola e ir para as quadras de futsal. “Com a minha experiência, vai agregar muito, posso falar para as pessoas o que passei. Quero dar a elas essa esperança”, disse o rapaz.
O pai é puro orgulho. “É algo inspirador, não encontro palavras para descrever. Todos o olham na cidade, onde ele vai, como um exemplo”, afirmou Adriano, o pai do jovem, de acordo com o jornal O Tempo. Com informações de Renata Dias, do site Só Boa Notícia.
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