O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, pediu demissão do cargo nesta quarta-feira, dia 19, após aparecer em imagens do circuito interno de TV do Palácio do Planalto sem confrontar invasores nos ataques de 8 de janeiro. Veja as imagens no final desta matéria.
O pedido foi imediatamente aceito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o general e ministros palacianos. A queda do general é a primeira de um ministro do governo Lula. E mancha de maneira grave a imagem do próprio governo do petista, porque o general Gonçalves Dias era homem de extrema confiança de Lula e foi indicação pessoal dele para chefiar o GSI.
Essas imagens – segundo é voz corrente em Brasília – já eram do conhecimento do governo Lula, mas só agora geraram indignação dentro do próprio governo. Os opositores do governo, incluindo bolsonaristas, afirmam o envolvimento dos militares do GSI eram o principal motivo de Lula e seus ministros articularem para abortar a CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Esta seria uma das razões de agora petistas e outros partidos governistas mudarem de posição e defender a instalação da CPMI para evitar o protagonismo dos opositores durante os trabalhos da Comissão. As imagens que provocaram a queda do general Gonçalves Dias foram divulgadas com exclusividade pela CNN Brasil. Detalhe: o governo havia decretado sigilo das imagens por cinco anos. Agora, depois do episódio, não dá mais para segurar.
Após o vazamento das imagens, o presidente Lula convocou uma reunião de emergência no Planalto, com ministros de seu círculo mais próximo, para discutir a mais nova crise política. O governo estava convencido de que, após a divulgação dessas imagens, nada mais pode impedir a CPMI que a oposição quer instalar para investigar os atos antidemocráticos. Até agora, o Planalto ainda nutria alguma esperança de retirar assinaturas para a abertura da CPMI, por meio da distribuição de cargos e emendas.
Na avaliação de Lula, a CPMI dará palanque para a oposição e pode atrapalhar votações consideradas fundamentais para o governo, como a do novo arcabouço fiscal. O projeto de lei foi entregue nesta terça-feira ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando nado Haddad.
Orientado a se demitir
O general Gonçalves Dias foi orientado a pedir demissão, diante do intenso desgaste e questionamento. Suas funções já haviam sido substancialmente esvaziadas pelo presidente, após os atos de 8 de janeiro. Lula reclamou publicamente de falhas na inteligência presidencial, desconfiava de militares da ativa e falava de forma recorrente em suspeita de conivência.
Lula aceitou o pedido de exoneração de G. Dias, ainda sem ter um substituto para o cargo. O governo ainda não decidiu o que fará com as atribuições que restavam ao GSI, como a segurança predial de instalações usadas ou frequentadas por Lula e seus familiares, entre outras.
A segurança pessoal do presidente, chamada no jargão de segurança imediata, já era diretamente vinculada ao gabinete de Lula, uma inovação, e realizada por policiais federais, não mais pelos militares subordinados ao GSI.
Em nota, a Secretaria de Comunicação da presidência diz que “todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI”. A nota não cita o ministro-chefe do GSI.
“Retirar manifestantes”, diz general
Em entrevista à TV Globo, o general Gonçalves Dias afirmou que estava no Planalto para retirar manifestantes. “Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do 3º e 4º piso, para que houvesse a prisão no 2º”, afirmou. O general também disse que sua imagem foi retirada do contexto.
As imagens mostram Gonçalves Dias e funcionários do GSI circulando entre os invasores no Palácio do Planalto. Um dos funcionários do GSI conversa com invasores e os cumprimenta. Outro trecho mostra servidores do órgão entregando água aos vândalos.
Segundo o blog do Camarotti, a situação de Dias foi agravada porque o presidente Lula lhe pediu as imagens de frente do gabinete presidencial durante a invasão, mas Dias, segundo fontes, respondeu que elas estavam indisponíveis.
Em nota divulgada após o pedido de demissão, a Secretaria de Comunicação da Presidência diz que “a violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio”.
O GSI, formado majoritariamente por militares, é o órgão responsável pela segurança das instalações da Presidência da República. Até o início de 2023, também fazia a segurança pessoal do presidente e de seus familiares.
Mas Lula decidiu ter sua segurança composta por policiais federais, alguns que já o acompanharam durante a campanha presidencial. Lula e boa parte do governo têm receio da atuação de militares no núcleo da administração federal. A quantidade de militares que participaram do governo Bolsonaro deixou a impressão no governo petista de que parte das Forças Armadas assumiu uma atuação ideológica.
Vídeos gravados durante o dia 8 de janeiro mostram, por exemplo, o então comandante do Batalhão de Guarda Presidencial (BGP) pedindo uma atuação mais branda da Polícia Militar do Distrito Federal com os invasores.
Quem é Gonçalves Dias?
Marco Edson Gonçalves Dias é natural de Americana (SP). Ele entrou para o Exército em 1969, por meio da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais em 1986 e a Escola de Comando e Estado Maior do Exército em 1994.
Chegou a ocupar o cargo de Comandante da Sexta Região Militar e a comandar o 19° Batalhão de Infantaria Motorizado. Foi alçado ao cargo de general e, atualmente, está na reserva (como os militares chamam a sua aposentadoria).
Dentro do governo, já foi Secretário de Segurança da Presidência da República do governo Lula e chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). (Do Ver-o-Fato, com informações da Agência Estado e G1)
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