A campanha “Quem é Paysandu não vota no 15”, que se espalha como um incêndio nas redes sociais a apenas quatro dias das eleições para a prefeitura de Belém, expôs um ponto fraco do governador Helder Barbalho, que agora sente o golpe de sua postura pública em relação ao futebol paraense. O apoio descarado ao Clube do Remo, seu time de coração, provocou uma onda de críticas entre os torcedores do maior rival, o Paysandu.
O mal-estar se agravou quando, na tarde de ontem, 2 de outubro, Helder tentou uma manobra desastrada para conter a crescente rejeição que se alastra contra seu primo e candidato, Igor Normando.
Em um movimento que mais pareceu uma tentativa de “comprar” o apoio dos bicolores, Helder anunciou a liberação de R$ 600 mil ao Paysandu, convocando para a ocasião sua esposa, Daniela Barbalho, e a presidente do Banpará, Ruth Mello, fazendo questão de ressaltar que ambas “torcem pelo Paysandu”.
O valor, liberado em plena reta final de campanha, visa “apoiar o clube” nos próximos dez jogos que o time ainda disputará para tentar se manter na Série B. No entanto, o gesto foi recebido com desconfiança e ironia pela torcida, que viu na atitude uma tentativa desesperada de reverter o desgaste gerado pelo suposto favorecimento ao Remo.
O erro estratégico do governador só fez aumentar a tensão entre os torcedores bicolores, que já estavam revoltados com a postura de Helder durante a campanha do Remo. A liberação de recursos públicos, que obviamente a diretoria do Paysandu não poderia recusar, foi vista como uma jogada politiqueira, especialmente após as críticas de que o governo estadual estaria utilizando o poder público para favorecer o Remo, deixando de lado a imparcialidade que deveria ser uma marca de seu mandato.
A tentativa de amenizar a rejeição à campanha de Igor Normando, com o repentino auxílio financeiro ao Paysandu, acabou acirrando ainda mais os ânimos dos bicolores. Nas redes sociais, a repercussão foi imediata, com muitos torcedores afirmando que “não é dinheiro que compra dignidade” e que “não votar no 15” continua sendo uma forma de protesto contra o que chamam de interferência política no futebol paraense.
Para esses torcedores, a manobra foi vista como mais uma prova de que o governador está tentando manipular o cenário, e que o apoio ao Remo foi apenas o estopim de um longo histórico de descontentamento com a administração estadual.
O fato de Helder Barbalho ter se exposto ainda mais ao tentar remediar a situação com um anúncio que só agravou o antagonismo, faz parecer que a emenda saiu pior que o soneto.
Um monstro eleitoral
Sem necessidade, foi o próprio governador quem acendeu com muita gasolina a fogueira da animosidade da torcida do Paysandu contra ele. Vamos a alguns fatos para que se entenda o clima de beligerância hoje alcançado nas redes sociais>
A recente ascensão do Clube do Remo à Série B do Campeonato Brasileiro, celebrada com entusiasmo por milhares de torcedores no último domingo, reacendeu uma controvérsia política no Pará, tendo o governador Helder como alvo das críticas. A apaixonada torcida do Paysandu, maior rival do Remo, elegeu o governador e seu primo, Igor Normando, candidato a prefeito de Belém em 2024, como inimigos políticos do momento, acusando-os de favorecimento ao Remo e mobilizando uma campanha contra Igor nas redes sociais.
A irritação dos bicolores se intensificou após o governo estadual liberar um público maior para o jogo decisivo do Remo, para 55 mil pessoas. Esse gesto foi interpretado como uma atitude tendenciosa, especialmente quando comparado às restrições rígidas impostas pelo Corpo de Bombeiros no ano anterior, durante jogos decisivos do Paysandu na Série C, para cerca de 50 mil pessoas.
À época, o governo justificou as limitações em função de preocupações com a segurança, o que gerou um forte descontentamento da torcida bicolor, que agora aponta para uma disparidade de tratamento entre os dois clubes.
Nas redes sociais, as críticas ao governador foram amplificadas, com torcedores ironizando o acesso do Remo, chamando-o de “mais uma obra do governo do Pará”, numa alusão clara ao slogan amplamente utilizado pela gestão de Helder Barbalho para promover suas realizações no estado.
A revolta não se restringiu às provocações: muitos torcedores do Paysandu iniciaram uma campanha virtual contra os candidatos apoiados pela família Barbalho, direcionando ataques especialmente a Igor Normando.O primo de Helder enfrenta agora a resistência de uma parte significativa do eleitorado bicolor.
A relação estreita entre Helder Barbalho e o Clube do Remo é amplamente conhecida, com o governador comparecendo a várias partidas do time durante a campanha na Série C. Para os torcedores do Paysandu, esse comportamento é um claro indício de que o governador estaria utilizando sua posição para beneficiar o Remo, em detrimento da imparcialidade que deveria manter como chefe de governo de todos os paraenses. A mobilização estatal para organizar a festa de comemoração do acesso do Remo foi vista como mais um sinal desse favorecimento.
Enquanto a celebração continua entre os remistas, o Paysandu e seus torcedores levantam suspeitas sobre o papel do governo nas recentes conquistas do rival, inflamando ainda mais o já acirrado cenário político e esportivo no Pará. A rivalidade entre os dois clubes transcende as arquibancadas e agora atinge o campo eleitoral, colocando a família Barbalho no centro das críticas e ampliando a polarização entre os torcedores.
Tudo isso poderia ter sido evitado. Mas, para Helder Barbalho, o poder absoluto está acima de qualquer coisa. E ele parece “imparável” nessa sanha de poder pelo poder.
VÍDEO DE HELDER, LIBERANDO R$ 600 MIL