O Ver-o-Fato fez um rápido levantamento de casos semelhantes em outros estados e descobriu que em pelo menos dois episódios os bebês morreram após ter leite injetado na veia.
Uma técnica de enfermagem que trabalha no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi afastada depois que administrou leite na veia, em vez de soro, em um bebê. O recém-nascido está internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal do hospital e, de acordo com a instituição, o estado de saúde dele é estável.
Em nota, o hospital disse que “foi aberta uma sindicância para avaliar as circunstâncias técnicas relativas ao fato”. Ao ser questionada a respeito das circunstâncias em que o erro aconteceu, a assessoria de comunicação da instituição de saúde disse que “as notas oficiais sobre o caso são essas, no momento não tenho mais nada a lhe informar”.
Conforme a mãe do bebê, Diulia Passos Magalhães, de 34 anos, Fagner Ravi dos Passos Andrade nasceu prematuro na cidade de Venâncio Aires, a 123 km de Novo Hamburgo, no dia 15 de março. Como tinha apenas 29 semanas, precisou ser transferido a UTI Neonatal mais próxima, que era a do hospital em Novo Hamburgo.
Em 18 de abril, Diulia e o companheiro foram comunicados pela equipe médica do hospital de que um erro havia acontecido: em vez de soro, a técnica administrou leite através de uma sonda. “E por causa disso ele foi entubado. Atingiu o pulmão, podia ter atingido os outros órgãos, podia ter perdido o meu filho. Ela (a médica) foi bem honesta comigo. Que o caso era grave. Tudo por um erro de uma técnica”, conta Diulia.
Sobre o estado de saúde do bebê, o hospital afirma que ele “vem apresentando melhoras consistentes desde os primeiros momentos após o ocorrido”. Os pais do bebê também estariam tendo dificuldades com acomodações para acompanhar a evolução do quadro de saúde do filho, já que são de outra cidade. Sobre isso, o hospital disse que “os pais recusaram o abrigo oferecido desde a noite de sábado (20)”, o que o casal desmente.
“A gente não confia mais, não deixa mais o nosso filho sozinho. Se a gente tivesse que dormir na rua, a gente dormia. A gente não tem mais confiança. Porque a gente estava pensando que ele estava bem, em um lugar seguro, mas não está. E como aconteceu com o meu filho, pode acontecer com outros”, afirma Diulia.
Nota do hospital “A Fundação de Saúde de Novo Hamburgo (FSNH) esclarece que o estado de saúde do bebê é estável e apresenta melhoras. Imediatamente após o ocorrido, a família foi comunicada e todas as medidas assistenciais ao paciente e aos familiares estão sendo tomadas. A FSNH também informa que foi aberta uma sindicância para avaliar as circunstâncias técnicas relativas ao fato, e a profissional em questão foi afastada. A Fundação de Saúde de Novo Hamburgo (FSNH) esclarece que o bebê vem apresentando melhoras consistentes desde os primeiros momentos após o corrido, na quinta-feira passada.
Em relação à acolhida dos pais, a FSNH informa que o hospital desmobilizou um leito e um local de acompanhante, composto de cadeira ou sofá, para a mãe e o pai, além de alimentação, para que os pais pudessem ficar mais perto do bebê. Mesmo os pais terem recusado este abrigamento desde a noite deste sábado, o único possível para a instituição hospitalar, ele segue disponível no hospital”. Com informações do G1RS.
Negligência e desatenção: casos e mortes
Esse tipo de caso não é o único no país. Vários já ocorreram, inclusive com mortes, demonstrando negligência e desatenção. No dia 20 de junho do ano passado, Uma família denunciou a morte de Samuel Ricardo Souza Bastos, de 2 meses, que teria passado mal após ter tido leite injetado no acesso central, na segunda-feira (19), na Maternidade Professor José Maria Magalhães Netto, no bairro do Pau Miúdo, em Salvador (BA). O caso teria acontecido após um erro de uma técnica de enfermagem.
Samuel Bastos recebia medicamentos na veia e se alimentava por meio de sonda. De acordo com familiares, o bebê estava internado na unidade há um mês porque nasceu com cardiopatia.
Outro caso com morte: em outubro de 2018, também no Rio Grande do Sul. O prontuário médico do bebê Miguel Oliveira de Lima, de apenas sete dias de vida, que morreu no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no último domingo (14), indica que uma técnica em enfermagem administrou de maneira errada 35ml de leite na veia do recém-nascido, de acordo com o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).
Conforme o delegado do Cremers e médico do hospital, Carlos Antônio Arpini, o material deveria ter sido administrado por sonda. Segundo ele, uma outra profissional da equipe de enfermagem identificou o erro e avisou a médica.
Em 16 de novembro de 2015, a polícia indiciou por homicídio culposo (sem intenção) a auxiliar de enfermagem suspeita de ter injetado acidentalmente leite materno na veia de um recém-nascido em um hospital público de São Paulo. A auxiliar Maria Neuza Nery Leão, 55, prestou depoimento nesta quarta-feira (16) no 51º DP (Butantã), na zona oeste da cidade.
O caso ocorreu no último dia 7 no Hospital Municipal Maternidade Professor Mario Degni, no Rio Pequeno, e o recém-nascido Kauê Abreu dos Santos, que tinha 13 dias de vida, morreu após receber 10 ml de leite materno na veia, quando deveria ter recebido soro. O leite era aplicado por meio de uma sonda..
E mais um: no dia 16 de abril de 2012, O erro atribuído a uma enfermeira quase matou um bebê de quatro meses internado no Hospital da Baleia, na Região Leste de Belo Horizonte. A mãe da criança, a manicure Mariana Cristina Vieira de Souza, de 21 anos, denunciou que a enfermeira injetou leite materno na veia da criança em vez de soro, o que levou o bebê a ter duas bradicardias (diminuição na frequência cardíaca).
Ainda segundo a mãe, a profissional percebeu o erro e tentou resolver o problema sozinha, sem a ajuda do médico de plantão. A criança só foi salva porque, 40 minutos depois da falha e da recusa da enfermeira em procurar ajuda especializada, Mariana resolveu pedir socorro e o médico foi chamado.
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