Pensar sobre si próprio leva ao encontro de um enigma.
Um enigma desafiador dos limites do nosso entendimento.
Muda o ângulo a partir do qual temos uma visão dos seres e das coisas, fazendo-nos suspeitar que não vemos tudo o que há neles.
Pois, entrevemos a extensão de nossa ignorância.
Que carregamos, mesmo quando gostamos de exibir nosso currículo respeitável.
Alguém duvida que existem doutores incapazes, como nós,de entender e explicar fenômenos muito simples que nós todos provocamos, diariamente?
Por exemplo, as portas de elevador do prédio onde moramos se abrem, entramos nele e apertamos um botão num painel.
O elevador se move e para no andar em que nós queremos descer.
São, todos, gestos quase mecânicos, repetidos incontáveis vezes, ao longo dos dias.
E, que fornecem sempre os resultados esperados.
Porém, peçam para algum de nós, doutor ou não, explicar como conseguimos aquilo tudo com a simples pressão de nossos dedos em botões.
Não é só isto.
Quem sabe por que uma lâmpada acende, quando pressionamos o interruptor, na parede?
Ou entende como as peças do motor de seu carro o fazem andar?
Não é espantoso que tanta ignorância espalhada em todas as direções em nosso dia a dia não nos angustie?
Pior ainda:ignoramos também quase tudo sobre nosso próprio corpo, a base material sobre a qual assenta nossa vida.
Vemos que ele cresce, e, envelhece, sem entendermos bem como isto acontece.
Com tanto desconhecimento e tanta limitação, como poderíamos entender as questões mais profundas, sobre nós mesmos, como as contidas nesta longa indagação:
O que é a experiência pela qual estamos passando, chamada vida, na qual usamos um instrumento – o corpo – cuja complexidade, em grande medida, não alcançamos, tendo à nossa volta, um cenário formado de elementos, cujos funcionamentos não entendemos?
Ou, para encurtar a pergunta: afinal, o que somos?
Ninguém se iluda, pouquíssimas pessoas dedicam algum tempo a pensar sobre estas questões.
Por isto, infelizmente – ou, quem sabe, felizmente -, continuaremos a ser um imbróglio, uma encrenca para nós mesmos.
Uma complicação tão grande que, enquanto objeto de reflexão, nós escapamos da nossa própria compreensão.
Complicação, aliás, que vai parecer maior ainda, caso uma tendência já existente, há algumas décadas, se firme no campo das ciências.
A tendência da admissão de que a realidade na qual estamos imersos é apenas aquela captavel pelo nosso cérebro.
Não é a realidade, de fato.
Apenas uma mostra dos limites da nossa mente em captar algo.
Quem sabe, um dia, terminemos por concluir que somos apenas um delírio, ou um sonho, como queria o poeta Vicente Cecim.
E que, por nos constituirmos apenas disto, findaremos quando o sonho acabar.
Provavelmente, sem saber se o sonho- a que chamávamos vida – é uma criação de nosso cérebro.
Ou se, na verdade, o nosso cérebro é que existe apenas no sonho.
- Oswaldo Coimbra é escritor, jornalista e pesquisador