Três lideranças indígenas da etnia Tembé, sendo dois homens e uma mulher, foram baleados na manhã desta segunda-feira (7), em Tomé-Açu, na Região do Rio Capim, nordeste paraense e estão internados em um hospital local. Os indígenas acusam seguranças da empresa Brasil BioFuels (BBF) como autores dos tiros. A empresa, em nota, alega que foram os indígenas que invadiram a BBF e promoveram destruição, inclusive de veículos,
Ainda não foi informado o estado de saúde dos três índios, que sofreram o ataque em terras de posse da empresa paulista. Também, ainda não foram confirmadas as circunstâncias do atentado aos Tembé.
Na manhã de hoje, cerca de 30 indígenas Tembé invadiram as instalações da BBF e queimaram vários carros e tratores que estavam no pátio da sede administrativa da empresa.
De acordo com as primeiras informações sobre o caso, a invasão da empresa teria sido concretizada em represália ao atentado contra os índios. Na sexta-feira (4), outro índio teria sido baleado por um segurança da BBF. O índio foi socorrido e transferido para Belém, onde ficou internado.
A promotora de Justiça da região estava sendo aguardada no local para tomar pé da situação. Segundo informações repassadas ao Ver-o-Fato, o clima está tenso entre indígenas, seguranças e funcionários da BBF, que se diz dona de parte do território indígena.
Uma audiência que estava marcada para acontecer hoje naquela cidade, com a participação de membros da Comissão de Direitos Humanos foi cancelada. Entidades protestam e cobram providências
Nota divulgada por entidades de apooio aos povos indígenas diz o seguinte:
“Lideranças indígenas do povo Tembé são baleadas na manhã de hoje, 07/08, durante preparativos para recebimento da visita do Conselho Nacional de Direitos Humanos, em Tomé-Açu/PA. Segundo relatos, três lideranças foram baleadas por seguranças privados da empresa Brasil Bio Fulls – BBF, sendo duas mulheres e um homem. Uma das vítimas afirma em áudio que pegou dois tiros, sendo um no ombro e outro na coxa.
Em razão de estar filmando a ação, Daiane Tembé foi o principal alvo, atingida no pescoço e no maxilar. Neste momento está sendo levada para Belém por meio da UTI aérea. Todos os demais estão recebendo atendimento médico. Ainda há dois indígenas desaparecidos.
Este é mais um dos atentados cometidos contra o povo Tembé, que denuncia a violação de direitos humanos e a falta de consulta prévia, livre e informada no empreendimento de plantação de dendê da BBF. Durante a abertura dos Diálogos Amazônicos, na última sexta-feira, 04/08, Kauã Tembé, 19 anos, também foi baleado e o principal suspeito da ação é um segurança da empresa.
A cerca 200km de Belém/PA, sede do epicentro global de debates sobre mudanças climáticas e alternativas para a proteção de povos e comunidades tradicionais na Amazônia — e que nos dias 08 e 09 de agosto é palco da Cúpula da Amazônia, que reunirá os presidenciáveis e autoridades da Panamazônia —, Tome-Açú testemunhou, em menos de uma semana, atentados contra quatro lideranças indígenas, que foram alvejadas com tiros e sangram na luta pela defesa de seus territórios.
Então, nesse momento, fica o questionamento: quantos indígenas precisam ser baleados ou morrer para chamar a atenção dos órgãos públicos para a responsabilização dos culpados pelos atentados e para garantir a proteção das comunidades indígenas do Alto Acará.
Diante da gravidade da situação e destes recorrentes ataques, exigimos que sejam tomadas providências urgentes no sentido de investigar e apurar rigorosamente estes crimes, com a devida responsabilização dos culpados. Também, exigimos que o governo estadual e federal adote as providências para a solução do conflito territorial existente, garantindo e resguardando os direitos das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. É necessária a intervenção da Polícia Federal.
Tomé Açu/PA, 07 de agosto de 2023.
Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu – AITVA Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu – AITTA Associação Indígena Turiwara do Braço Grande – AITBG Comissão Pastoral da Terra – CPT
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST Movimento dos Atingidos Por Barragens – MAB
Comissão de Direitos humanos da OAB/PA Coletivo de Direitos Humanos na Amazônia Maparajuba
Instituto Zé Claudio e Maria – IZM Comitê Dorothy
Rede Liberdade Instituto Dom Azcona
Organização de Direitos Humanos Terra de Direitos
Cimi Regional norte 2
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais – WRM
Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – MALUNGU
Gesterra (Grupo de estudo sociedade, território e resistência na Amazônia)/Icsa/UFPA (Marcel Hazeu e Solange Gayoso)
ONG- Global Witness Human Rights Watch- HRW”.
Nota da BBF acusa indígenas por destruição na empresa:
Em nota enviada ao Ver-o-Fato, a empresa BBF apresenta sua versão sobre o episódio violento. Leia abaixo:
” O Grupo BBF (Brasil BioFuels) esclarece que o Polo de Tomé-Açu, propriedade privada da empresa composto pela Agrovila, Administração Geral e Áreas de Infraestrutura, foi novamente invadido e teve equipamentos incendiados e edificações destruídas por invasores indígenas na manhã desta segunda-feira.
Na ação, cerca de 30 invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa no local, antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da empresa. Em defesa, a equipe de segurança privada da Companhia conseguiu conter a ação criminosa dos invasores e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local.
A empresa reforça que já tomou as medidas jurídicas cabíveis junto ao poder judiciário bem como também o apoio aos órgãos de segurança pública do Estado do Pará e aguarda uma rápida solução do caso”.
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