Chegou a hora de deixar a máscara caseira de lado e buscar uma máscara cirúrgica ou de padrão PFF2 e N95?
A verdade é que hoje a resposta das autoridades sanitárias a essa questão muda de país para país. Embora as políticas variem, cientistas e estudos apontam que as máscaras N95, PFF2 ou equivalente oferecem um grau maior de proteção e devem ser priorizadas em situações de maior risco.
Ao mesmo tempo em que novas variantes do coronavírus se espalham e que a vacinação contra a covid ainda está engatinhando, a necessidade das máscaras como uma das formas de reduzir a transmissão é hoje uma certeza. O debate é a respeito do modelo.
A França decidiu proibir as máscaras caseiras, exigindo o uso das cirúrgicas, FFP2 (semelhante à PFF2 brasileira e à N95) ou máscaras de tecido feitas de acordo com padrões chamados de categoria.
O argumento do governo francês é o de que os modelos caseiros não oferecem a proteção necessária contra novas variantes do coronavírus.
Antes, Áustria e Alemanha já tinham anunciado que exigiriam o uso dessas máscaras (cirúrgicas ou PFF2) em locais como transporte público e comércio, que são mais propícios para a transmissão do vírus.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mantém a indicação de máscaras de tecido, limpas e secas, para a população em geral, enquanto as máscaras cirúrgicas e as N95, PFF2 e equivalentes devem ser usadas “pelos profissionais que prestam assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de covid-19 nos serviços de saúde”.
Procurada pela reportagem, a agência brasileira reconhece que “alguns países europeus indicaram ou passaram a exigir o uso de máscaras N95 e PFF2 ou equivalentes pela população geral”, mas argumenta que hoje não há recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que haja um aumento no nível de proteção das máscaras, “principalmente devido à falta de evidências que sustentem essa indicação e para evitar o desabastecimento dos serviços de saúde com este insumo tão importante para a prestação de assistência aos pacientes com covid-19 durante a realização de procedimentos que possam gerar aerossóis”.
A OMS mantém a recomendação de uso de máscaras de tecido para o público em geral.
Transmissão pelo ar
O engenheiro biomédico Vitor Mori, membro do grupo Observatório Covid-19 BR, recomenda o uso de máscaras PFF2 e N95 para a população em geral em situações de exposição a lugares mal ventilados e inevitáveis, como transporte público.
“Temos que deixar bem claro que a PFF2 é a última linha de proteção e deve ser usada quando não há outra opção de proteção (como priorizar locais ventilados e manter distanciamento)”, diz Mori. “A primeira coisa é: você pode ficar em casa? Se a resposta for sim, fique em casa.”
Pós-doutorando na Faculdade de Medicina na Universidade de Vermont, Mori explica que a defesa do uso de máscaras com maior nível de proteção é reflexo de um progresso no conhecimento em relação às formas de transmissão do vírus, e não de uma característica específica da nova variante de coronavírus.
Inicialmente, houve maior atenção à transmissão pelo contato com superfícies contaminadas e pelas gotículas que emitimos ao tossir ou espirrar. Depois, especialistas passaram a destacar a importância da transmissão por gotículas ainda menores, que emitimos ao falar ou espirrar, e que ficam suspensas no ar por mais tempo, os chamados aerossóis.
Foi só em outubro de 2020 que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de saúde dos Estados Unidos, atualizou suas diretrizes sobre os tipos de transmissão do coronavírus e passou a incluir os aerossóis, considerando que a transmissão pode ocorrer pelo ar. Isso também é importante para entender a necessidade de evitar locais com ventilação ruim ou com muitas pessoas aglomeradas.
“Para a proteção contra essas partículas (aerossóis), as máscaras de pano não funcionam. Então, ao entender a importância da transmissão por aerossóis, você reforça a importância de máscaras de melhor qualidade, bem vedadas ao rosto e com boa capacidade de filtração”, diz Mori.
Como as máscaras N95 e PFF2 protegem mais?
O primeiro ponto importante é que essas máscaras seguem padrões estabelecidos por normas técnicas para garantir um nível alto de proteção, diferente de máscaras artesanais. É por isso que é possível saber a capacidade de filtragem delas. A PFF2 filtra pelo menos 94% das partículas de 0,3 mícron de diâmetro, as mais difíceis de se capturar. A capacidade de filtragem da N95 é 95%.
Embora a N95 seja o modelo mais buscado em pesquisas no Brasil, é a nomenclatura dos Estados Unidos. O padrão no Brasil é a PFF2. E, na Europa, é a FFP2. Esses padrões de respiradores, embora não sejam idênticos, são equivalentes. E a recomendação é usar os modelos sem válvulas, já que elas permitem saída de ar sem filtragem.
E o que elas têm em comum para garantir proteção?
Primeiro, a vedação. Elas têm uma estrutura semi-rígida (algumas em modelo concha e outras dobráveis), uma peça metálica para contornar o nariz e elásticos que ficam presos na cabeça e na nuca, gerando uma tensão maior que em modelos presos apenas na orelha. Depois de ajustá-las ao rosto, a recomendação é checar se não está “vazando” ar pelas laterais.
Essa vedação é o que faz com que todo o ar inspirado e expirado passe pelo filtro, que é composto por várias camadas que fazem filtragem mecânica (partículas colidem e ficam presas nas fibras) e eletrostática (partículas são atraídas por fibras com carga elétrica).
É essa combinação de vedação e filtragem, segundo Mori, que torna a máscara tão eficiente e garante que o usuário também está se protegendo, e não apenas protegendo os outros.
Como higienizar a máscara?
A recomendação dele, para uso em ambientes não hospitalares, é reutilizar a máscara (já considerando que o uso deve ser feito nos momentos em que você não é capaz de evitar local com ventilação ruim e proximidade com outras pessoas).
Para isso, a orientação é deixar a máscara em local arejado, evitando exposição ao sol, por pelo menos três dias antes de usar novamente (e não aplicar álcool, sabão ou qualquer desinfetante).
Em relação à quantidade de usos da mesma máscara, observe a capacidade de vedação da máscara e integridade do material. Segundo Mori, com esses cuidados, pode ser possível usar cerca de 10 vezes. E uma opção para aumentar a vida útil é trocar o elástico quando o original ficar frouxo.
Os preços variam bastante. No Brasil, é possível encontrar boas máscaras por menos de R$ 5 — no entanto, consumidores muitas vezes relatam dificuldade de encontrá-las. Ao mesmo tempo, com a alta procura, há máscaras de marcas mais famosas sendo vendidas por valores tão altos quanto R$ 100.
Antes da compra, é importante verificar se as máscaras PFF2 têm o selo do Inmetro. A regulamentação desse produto é feita pela Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério da Economia e a certificação é dada por organismos acreditados pelo Inmetro.
É essa certificação que indica que o produto passou por auditorias no processo produtivo e ensaios envolvendo questões como inspeção visual, resistência à respiração, penetrações através do filtro e inflamabilidade. No site do Inmetro, é possível consultar os produtos certificados.
O CDC, nos Estados Unidos, traz uma série de imagens de respiradores falsificados e vendidos como se tivessem sido aprovados tecnicamente.
‘Plano B’
Ao mesmo tempo, é muito difícil saber o nível de proteção de cada tipo de máscara de tecido, já que são modelos diferentes entre si, que não seguem norma técnica, e que se ajustam de formas diferentes ao rosto de cada um.
As máscaras cirúrgicas de boa qualidade são mais recomendadas que as caseiras, mas também podem ter níveis de proteção variados, segundo Mori.
Estudo publicado na Science Advances testou diferentes tipos de máscaras, e o resultado mostra a N95 com maior eficiência, seguida por máscara cirúrgica. Também apresenta diferentes resultados para máscaras de tecidos.
Esse tipo de teste, no entanto, mede a eficácia naquele contexto específico e no rosto daquela pessoa.
Protege você
“É muito difícil estender o resultado de estudos que avaliaram a capacidade de filtragem de cada tipo de máscara para o mundo real, uma vez que mesmo máscaras com construções parecidas podem se ajustar de forma diferente no rosto de diferentes indivíduos, o que impacta bastante na eficácia delas”, disse Mori.
De forma geral, as entidades nacionais e internacionais pedem que as máscaras tenham duas ou três camadas e cubram bem o rosto, desde a parte superior do nariz até o queixo. Elas devem ser feitas com algodão ou poliéster, com uma trama de tecido mais densa.
“A máscara de pano foi útil, e ainda é útil, mas funciona para proteger os outros de você, diminuindo a emissão de partículas de quem está usando”, diz Mori.
E se usarmos duas máscaras de tecido (uma em cima da outra), como algumas pessoas têm feito? Em teoria, sobrepor camadas de tecidos finos pode aumentar a proteção. No entanto, Mori aponta que, se as duas tiverem vazamentos, pode não fazer diferença.
“A máscara de pano foi um plano de emergência, um plano B. E, com o tempo, em vez de aumentarmos a escala das máscaras melhores, se normalizou que (a de tecido) era a solução da pandemia. Precisamos de coisas melhores”, diz o pesquisador, que defende empenho dos governos para estimular o aumento da produção e distribuição dessas máscaras. Fonte: BBC Brasil.
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