A perigosa propagação de mitos sobre vacinas pode desencorajar ida a postos de saúde e clínicas de vacinação privadas, deixando a população mais suscetível a doenças
Nos últimos anos, as taxas de cobertura vacinal vêm caindo em todo o país, e por isso doenças antigas como sarampo, voltaram a aparecer. Uma das razões para essa queda é a propagação de alguns mitos sobre vacinação, que acabam desencorajando as famílias a recorrerem a este serviço essencial.
“Desta forma, a população fica muito suscetível, o que pode aumentar o número de internações e a mortalidade. Só vamos conseguir mudar isso se todos se engajarem. Precisamos que as pessoas levem os filhos para vacinar nos postos de saúde ou clínicas de vacinação privadas e mantenham os próprios calendários em dia”, diz a diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Lessandra Michelin.
Segundo o infectologista Emersom Mesquita, gerente da área de vacinas da farmacêutica GSK, enquanto o mundo aguarda uma solução para a covid-19, é importante lembrar que já existem 22 vacinas contra outras doenças infecciosas, disponíveis na rede pública e/ou privada de vacinação.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, e as Sociedades Brasileiras de Imunização e Pediatria, têm calendários indicados para todas as faixas etárias. “Informação correta e com base em conhecimento científico é a melhor forma de combater as notícias falsas”, afirma o médico.
Com exceção do acesso à água potável, a vacinação é a medida que produz melhores resultados na redução da mortalidade e no crescimento populacional. Vacinas salvam de 2 a 3 milhões de vidas por ano em todo o mundo, de acordo com a Unicef.
Conheça seis fake news comuns sobre vacinação — e porque você não deve acreditar nelas:
Fake 1 – Deve-se dar antitérmicos para a criança antes da vacinação.
Fato – O uso de antitérmicos antes da vacinação não é recomendável, pois pode alterar a capacidade do organismo de formar anticorpos, segundo Lessandra. “A exceção se faz para a vacina para doença meningocócica B. Testes em laboratório mostraram que o antitérmico paracetamol não afeta a resposta imune para esta vacina”, afirma a diretora da SBI.
Segundo Emersom, da GSK, reações como febre, vermelhidão e dor fazem parte dos efeitos esperados após a vacinação, que são usualmente benignos e limitados em intensidade e duração. “Em alguns casos específicos, como por exemplo quando há histórico de convulsão febril relacionada à administração de vacinas, pode-se considerar o uso profilático de antitérmicos”, diz.
Fake 2 – Vacinas falham.
Fato – As vacinas são bastante seguras e só podem ser liberadas para comercialização depois de inúmeros testes e com eficácia comprovada, de acordo com Lessandra. “Apenas em situações muito especiais, quando uma pessoa é imunodeprimida, por exemplo, o organismo pode responder de forma diferente. Mas são situações específicas e raras, não é o comum.”, afirma a diretora da SBI.
De acordo com Emersom, para que a vacinação seja efetiva alguns pré-requisitos precisam ser atendidos. Além do sistema imune do indivíduo estar saudável, há critérios que envolvem armazenamento, distribuição e aplicação das vacinas. “Toda essa cadeia precisa funcionar perfeitamente. Por isso é importante não pensarmos apenas na vacina em si, quando se fala em falhas”, diz o gerente da GSK.
Fake 3 – Se a vacina BCG não deixa cicatriz no braço da criança, ela não está imunizada.
Fato – Segundo a infectologista Lessandra, não é preciso ter cicatriz no braço para avaliar a eficácia da BCG, pois estudos comprovam que a proteção ocorre mesmo quando a vacina não deixa marcas. “Desde janeiro de 2019, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), seguindo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), não indica mais a revacinação de crianças que, embora vacinadas, não desenvolveram cicatriz”, afirma Emersom Mesquita.
Fake 4 – Vacinas podem deixar a pessoa doente, com gripe ou até causar autismo.
Fato – Eis duas das mais difundidas fake news sobre vacinação, de acordo com o médico da GSK. Segundo ele, o estudo que teria demonstrado associação entre autismo e vacinas foi retirado da revista científica onde foi publicado, e o responsável, um médico inglês, teve o registro profissional cassado. Desta forma, não há nenhum embasamento científico na relação entre vacinas e autismo.
Quanto à vacina contra gripe, ela não causa gripe, pois é produzida com vírus inativados, ou seja, que não possuem potencial de se reproduzir, explica Lessandra. “Esta vacina não é feita com vírus vivos, portanto não há como uma pessoa desenvolver gripe depois”, afirma a diretora da SBI. “Algumas pessoas também podem confundir reações como febre e dores no corpo, bastante comuns após a vacinação, com sintomas de gripe”, diz Emersom.
Fake 5 – Vacinas deixam sequelas em longo prazo.
Fato – As vacinas não causam sequelas, elas são bastante seguras e eficazes, e só podem ser liberadas para comercialização depois de diversos testes, de acordo com Lessandra. Mesmo após o registro e a comercialização, continuam sendo monitoradas, tanto pelos laboratórios como pela agência regulatória. “Pessoas com imunidade alterada, ou problemas incomuns, podem ter reações graves, mas raramente se ouviu falar de uma sequela causada por vacina”, afirma a infectologista.
Fake 6 – Vacina contra pólio oferece risco de paralisia para crianças de até 15 meses.
Fato – Segundo Emersom, as vacinas injetáveis contra poliomielite são feitas com vírus inativados, e neste caso não existe o risco de gerar a doença. “A recomendação das sociedades médicas é de usar este tipo de vacina durante todo o esquema vacinal, que conta com cinco doses para a pólio. Na rede pública, as três primeiras doses, que devem ser feitas até os 15 meses, também são feitas com a vacina inativada”, explica.
De acordo com o médico, o risco de paralisia é raro e está relacionado ao uso da vacina oral contra poliomielite que, diferentemente da injetável, contém vírus vivo atenuado. “Quando digo rara, estou falando em algo na faixa de um caso para cada duas, três milhões de doses aplicadas”, diz.
Mesmo em um momento atípico como o atual, a vacinação para todas as faixas etárias segue sendo uma prioridade, defende Emersom Mesquita. É preciso combater essas e outras fake news quando o assunto é imunização:
“A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e as sociedades de imunização e pediatria já reiteraram que a vacinação é essencial e deve ser mantida, apesar da pandemia. Há recomendações claras para que o serviço transcorra de forma segura para as famílias e os profissionais de saúde. Temos de fazer nossa parte.” Fonte: O Globo.
Referências:
1. FIOCRUZ BRASÍLIA. Aumento de casos de sarampo e baixa cobertura vacinal preocupam especialistas. Disponível em: fiocruzbrasilia.fiocruz.br/aumento-de-casos-de-sarampo-e-baixa-cobertura-vacinal-preocupa-especialistas/. Acesso em 15 jul 2020.
2. FIOCRUZ. Brasil teve 3.629 casos confirmados de sarampo. Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1828-brasil-teve-3-629-casos-confirmados-de-sarampo. Acesso em 15 jul 2020.
3. OPAS BRASIL. Conheça alguns dos principais mitos e fatos sobre vacinação. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5361:mitos-e-fatos-sobre-vacinacao&Itemid=875. Acesso em: 27 maio 2020.
4 – BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Calendário Nacional de Vacinação. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/vacinacao/calendario-vacinacao> Acesso em 17 de Ago de 2020.
5 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário vacinal SBIm 2019/2020: do nascimento a terceira idade (atualizado em 21/01/2020). Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-0-100.pdf>. Acesso em: 06 maio. 2020.
6 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Calendário de vacinação da SBP 2020. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22268g-DocCient-Calendario_Vacinacao_2020.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2020.
7 – PLOTKIN et al. Ch 1 in Plotkin et al. Vaccines. 6th Edition, Elsevier Saunders, 2012.
8 – UNICEF. Immunization Programme. Disponível em:< https://www.unicef.org/immunization> Acesso em 17 de Ago de 2020.
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