O velho e conhecido ditado popular já afirma categoricamente: “você é o que você come”. E, conforme a ciência avança na descoberta de novos mecanismos que impactam a saúde do corpo humano, vai confirmando a veracidade dessa antiga expressão. Os aspectos nutricionais são, cada vez mais, importantes para a manutenção ou restauração da saúde plena de uma pessoa.
Já se sabe que inúmeras patologias podem ser desenvolvidas ou disparadas por conta dos hábitos alimentares do indivíduo. Excessos e consumo de determinadas substâncias podem ser gatilhos para a instalação de incontáveis problemas de saúde que, invariavelmente, demandam atendimento médico especializado.
“É bem sabido que seguir uma dieta equilibrada sempre foi, e continua sendo, uma das melhores maneiras de se conquistar e manter uma saúde física e mental em dia, evitando o surgimento de vários problemas ou condições crônicas”, aponta Maria Fernanda Cury Rodrigues, nutricionista do Instituto Hélder Polido, centro de referência em saúde de São Carlos e região.
Mas a especialista vai além, e explica que os efeitos benéficos que podem surgir da ingestão de certos alimentos são ainda mais abrangentes, podendo, até mesmo, complementar ou substituir a administração de medicações e outros tratamentos. “O que a população em geral desconhece é que alguns alimentos possuem um enorme potencial como agente terapêutico, podendo ser utilizados nos tratamentos de inúmeras doenças e quadros patológicos”, explica.
Alimentos que podem ajudar na prevenção de infecções urinárias
Maria Fernanda cita o exemplo do cranberry, que vem demonstrando ótimos resultados como agente complementar na prevenção e no tratamento de diversas infecções do trato urinário. Segundo a profissional, esse tipo de infecção é uma das mais comuns na população e, apesar da eficácia dos antibióticos, as taxas de recorrência permanecem significativas entre os pacientes. Além disso, o desenvolvimento de resistência aos antibióticos é uma grande preocupação e leva à procura por opções alternativas de tratamento.
“Algumas meta-análises atualizadas indicaram que a suplementação de cranberry reduziu significativamente a incidência de infecções do trato urinário em populações suscetíveis, e pode ser considerado uma terapia adjuvante promissora na sua prevenção. Em mulheres saudáveis, verificou-se uma redução de 26% no risco de recorrência dessas infecções com a ação do cranberry”, relata a especialista.
Outra substância que vem chamando a atenção da comunidade científica como um remédio complementar no combate às infecções urinárias é a D-Manose. “Ela é um monossacarídeo encontrado naturalmente nas frutas. Quando excretada na urina, a D-manose inibe potencialmente a Escherichia coli, o principal organismo causador de infecções do trato urinário, de se fixar ao urotélio e causar infecção”, explica Maria Fernanda.
Dieta também auxilia no tratamento de doenças intestinais
As doenças inflamatórias intestinais (DII), cujas principais formas são a colite ulcerosa e a Doença de Crohn, são caracterizadas por inflamação crônica em um padrão recorrente no trato gastrointestinal. Segundo a nutricionista, apesar do número crescente de novos medicamentos disponíveis para o tratamento desses quadros, menos da metade dos pacientes alcança a remissão clínica, e o que se percebe é uma diminuição da ação desses remédios em indivíduos que, inicialmente, responderam bem ao tratamento. Isso causa um impacto negativo na progressão da doença e na qualidade de vida da pessoa.
“A origem das doenças inflamatórias intestinais tem sido atribuída a fatores genéticos, desequilíbrio da microbiota intestinal, resposta imune anormal da pessoa e a gatilhos ambientais. Neste cenário, a dieta é um potencial gatilho ambiental”, esclarece Maria Fernanda.
Segundo a profissional, a doença em si já prejudica a absorção de diversos nutrientes importantes, e um estado nutricional abaixo do ideal pode ter um impacto negativo no controle da patologia, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes. “O estado inflamatório crônico e a absorção prejudicada de nutrientes levam também a uma possível deficiência de vitaminas e micronutrientes que são cruciais para o bem-estar geral. Cria-se um ciclo vicioso, assim”, diz.
Maria Fernanda pontua que alguns dos principais micronutrientes e vitaminas que podem ter absorção prejudicados na DII são ferro, selênio, zinco, cobre, manganês, vitamina D, vitamina B12 e ácido fólico, vitaminas A, E, C, K, B1 e B6.
A boa notícia, conforme a profissional, é que a regulação nutricional pode ter um efeito benéfico no tratamento e no controle dos sintomas dessas inflamações intestinais. “As evidências são suficientemente sólidas para mostrar que a doença, quando ativa, está ligada a baixos níveis de micronutrientes. Isso evidencia que inúmeros aspectos nutricionais poderiam induzir um melhor controle dos sintomas, uma remissão mais profunda e, de forma geral, melhorar a qualidade de vida dos pacientes que sofrem com essas doenças”, declara a nutricionista.
Maria Fernanda lembra que essa abordagem está plenamente alinhada com a prática da Medicina Integrativa, implantada no Instituto Hélder Polido. Esse conceito entende o indivíduo como um todo e, em muitos casos, propõe um tratamento multidisciplinar para o problema de cada pessoa. Em resumo, diferentes profissionais de saúde, especializados em áreas distintas, atuam em conjunto para alcançar a cura e promover mais qualidade de vida para o paciente.
“Nesse sentido, a nutrição desempenha um papel importante como mais um ingrediente que ajuda a compor um protocolo amplo e completo, aumentando sensivelmente as chances de sucesso do tratamento proposto”, celebra a profissional. Com informações do G1.