O promotor de Justiça Militar, Armando Brasil, determinou abertura de inquérito policial militar (IPM) para apurar a conduta do sargento da Polícia Militar, Valmir Navarro, acusado de espancar e aplicar coronhadas na cabeça do adolescente negro, Kauan Henrique Oliveira, de 15 anos, na cidade de Ourilândia do Norte, na Região do Araguaia, sul do Pará.
Além do espancamento, o militar foi acusado de usar palavras racistas durante a abordagem ao menor, mesmo não estando de serviço e de estar ingerindo bebidas alcoólicas na frente da casa dele. O sargento já foi afastado do trabalho e vai ficar longe das ruas, aguardando o resultado do processo.
Devido às agressões, o adolescente ficou internado em estado crítico no Hospital Regional de Redenção, com ferimentos na cabeça e no corpo, em consequência dos golpes e coronhadas recebidos, na última terça-feira, 3 de janeiro.
As denúncias foram feitas pela mãe do garoto, Camila Oliveira Santos, de 34 anos, que identificou o agressor como Valmir Navarro, um policial militar de folga, que estaria embriagado na hora em que a vítima passou de motocicleta na frente da casa dele.
Segundo ela, o militar estava bebendo na Rua 8, no Residencial JP, quando viu o garoto passar de moto e mandou que ele parasse, chamando-o de “neguinho”, já com uma arma de fogo na mão. Em seguida, o militar deu um pisão e derrubou a moto por cima da vítima, passando depois às agressões ao menor. O veículo foi parcialmente destruído pelo militar em fúria.
Valmir Navarro teria dito que o adolescente “apanhou porque mereceu, pois era negro” e que “todo negro era vagabundo e ladrão”. A mãe do menor disse que o caso aconteceu por volta de 10 hora da manhã do dia 3 e logo em seguida ela foi avisada pelo filho. “Quando eu cheguei no local, três policiais militares apreenderam a moto e fizeram o meu marido levar o veículo para a Delegacia, mas não prenderam o agressor, que estava alcoolizado e muito alterado”, disse ela.
“Várias testemunhas viram o meu filho ser espancado pelo policial embriagado e disseram que o garoto não tinha feito nada de errado, inclusive nós sabemos que tem imagens da câmera de um vizinho mostrando o espancamento”, apontou a mãe.
Na Delegacia da Polícia Civil, a delegada Fabíola Vidotti Cândido abriu inquérito para apurar o fato, mandou o adolescente para exame de corpo de delito e ouviu várias testemunhas. Conforme a mãe do garoto, o policial agressor foi indiciado por tentativa de homicídio, pois o laudo apontou que houve sangramento pelo ouvido e perigo de morte. O inquérito, porém, corre em sigilo.
Pai e mãe da vítima também vão responder a processo por permitirem que ele pilotasse a moto sem habilitação.
Lesões na cabeça e nariz quebrado
De acordo com o prontuário de entrada do Hospital de Redenção, o motivo da internação do menor foi “traumatismo intracraniano não especificado”.
O garoto deu entrada naquela unidade de saúde, encaminhado pelo Hospital de Ourilândia do Norte, onde houve o primeiro atendimento, “vítima de agressão física, desorientado, confuso, glasgow 12, com presença de hematomas em face, com otorragia, escoriações mais fratura do nariz”.
O adolescente teve alta do hospital no dia seguinte e está em casa sob observação. A mãe dele informou ao Ver-o-Fato que o garoto ainda está desnorteado e deve voltar a ser atendido após um período de três dias após as agressões.
O militar acusado das agressões não foi afastado do cargo pelo comando da PM local e teria feito ameaça às pessoas que prestaram depoimento sobre o crime. Ele também teria ameaçado o vizinho que estaria de posse das imagens que mostram o espancamento.