Artur Ramoile Alves da Silva e Silva, de 34 anos, tem a vida cercada de crimes, dele próprio e de pessoas próximas. Neto do fazendeiro Darly Alves, condenado por matar o ambientalista Chico Mendes, ele ajudou a propagar a facção carioca Comando Vermelho (CV) no Acre.
No mundo do crime, Artur é conhecido como Russo, o oitavo batizado (filiado) no CV no estado. O padrinho de Russo dentro da facção é o criminoso Deibson Cabral, o Tatu, de 33 anos, um dos fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) nesta semana.
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Todo batizado na organização criminosa tem um “padrinho”, que é o criminoso que já faz parte da facção e endossa a entrada do novo membro.
Importante e fundador
Relatório de inteligência do Ministério Público do Acre, ao qual a reportagem teve acesso, descreve Artur Ramoile como um “importante faccionado” do CV.
“Verificou-se ainda que Russo referendou (apadrinhou) o ingresso de outros faccionados, contribuindo assim para o crescimento da organização criminosa”, diz trecho do relatório, que é baseado em documentos do Comando Vermelho encontrados no celular de um membro do grupo.
Para o Ministério Público, Deibson e Artur estão entre os fundadores da facção criminosa no Acre. Os dois já foram condenados por organização criminosa por causa do vínculo com o CV.
Desde a adolescência, Russo coleciona casos de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, assassinatos, assaltos e tentativas de fuga do sistema prisional, onde ele segue preso.
Discordância com facção
Uma conversa interceptada pela Polícia Civil do Acre entre duas mulheres ligadas ao Comando Vermelho, em 2018, revelou que Russo teria discordado do conselho da facção e sido agredido por conta disso.
De acordo com relatório da interceptação, uma das mulheres relata que membros da facção estavam planejando uma fuga do presídio estadual de segurança máxima Antônio Amaro Alves, mas o plano teria sido abortado por conselheiros do CV.
“Os caras iam fugir e o irmão do conselho pegou ele. Foi um bagulho doido. Ele (Russo) contou quase chorando, porque ele (Russo) é da lei dos trinta, não sai da cadeia mais. Ele contou assim: ‘Esse Comando Vermelho é uma farsa’. Eu vi ódio na cara dele. Os irmãos do conselho pegou ele pelo pescoço, e ele não pode reagir porque o João, que é um dos conselheiros, estava com uma faca para furar ele”, descreveu uma das mulheres na conversa.
Violento e sem solidariedade
De acordo com o g1 Acre, Artur foi apreendido quando tinha 17 anos em Xapuri (AC), acusado de matar o estudante Raele Lorenzone. Na época, a mãe da vítima disse para o jornal que o crime foi anunciado: “Ele disse que ia matar meu filho e matou. Avisei a polícia, mas ninguém levou a sério”.
Já maior de idade, Artur foi condenado a mais de 50 anos de prisão por dois latrocínios com arma de fogo, que foram cometidos em um mesmo final de semana. Morreram o gerente de loja de roupas Carlos Luiz da Silva e o vendedor de frutas Raimundo Lustosa Leão, nos dias 28 de fevereiro e 1º de março de 2009.
“A personalidade do réu é de pessoa violenta e destituída de um mínimo de solidariedade, com total desprezo à dignidade e à vida humana”, escreveu a juíza Denise Castelo, na sentença.
Tentativas de fuga
Além da fuga frustrada pelo próprio Comando Vermelho, a imprensa local do Acre já noticiou pelo menos outras duas vezes que Artur Ramoile tentou escapar da prisão.
Na manhã de 11 de janeiro de 2016, ele e outros sete presos serraram as grades do presídio estadual, mas foram contidos por uma equipe de agentes prisionais.
Já em 2013, Artur e um outro detento aguardavam uma audiência na cela do Fórum de Rio Branco, capital do Acre, e saíram correndo algemados quando a polícia abriu as grades. Artur acabou caindo e foi recapturado.
Em uma entrevista para a TV Record em 2015, quando foi acusado de tentar matar um outro detento durante o banho de sol, batendo a cabeça da vítima contra o concreto e deixando ela em estado grave, Russo aproveitou a câmera ligada para reclamar do sistema prisional.
“Ao contrário do que o policial civil ali acabou de falar, o presídio não recupera ninguém. O Estado não se esforça para recuperar ninguém. A realidade é essa, nem a nossa comida que a família compra eles deixam entrar. É perseguição contra preso, contra visita do preso, e ainda somos taxados de monstro por todo mundo”, reclamou.
Sem ligação com avô condenado
O fazendeiro Darly Alves e o filho foram condenados em 1990 por matar Chico Mendes com uma escopeta em 1988. Darly foi apontado como o mandante e o filho o executor. O fazendeiro era conhecido por ser um grileiro na região.
Familiares de Artur dizem que os crimes cometidos por ele não têm qualquer ligação com a condenação do avô. A mãe de Artur é filha de Darly.
Chico Mendes era um ambientalista e ativista de reconhecimento internacional. Darly e o filho chegaram a fugir da prisão em 1993 e foram recapturados em 1996. O fazendeiro nega o crime e diz que foi injustiçado.
A reportagem tenta localizar a defesa de Artur e não conseguiu até a publicação desta reportagem.
Com informações do portal Metrópoles