Paulo Jordão – repórter
Ganância, poder e dinheiro. Dezenas de milhões de reais em jogo. Estes componentes explosivos estão associados aos assassinatos de três prefeitos da região dos lagos, sudeste do Estado. Mas não parou aí. Uma apuração mais profunda nos casos aponta que outras mortes também foram encomendadas nesta disputa, chegando a nove no total.
João Gomes de Souza, de Goianésia do Pará; Diego Keilling, de Breu Branco e Jones Williams, de Tucuruí, foram mortos em uma sequência macabra por estes motivos. A polícia apurou que todos os homicídios, com as mesmas características, foram de encomenda.
As cidades de Goianésia, Breu Branco e Tucuruí ficam bem próximas. As duas últimas estão a menos de 10 km uma da outra. Ambas recém royalties do governo federal por estarem na área de inundação da hidrelétrica de Tucuruí.
João Gomes, o “Russo”, 66 anos, natural de Barras, Piauí, foi o primeiro da lista. Ele foi morto a tiros na noite de 24 de janeiro de 2016, um domingo, quando estava dentro de um velório no centro da cidade. O pistoleiro tinha informações da chegada do prefeito e já estava no local esperando. Ele fez os disparos e fugiu na garupa de uma moto que o aguardava.
O pistoleiro Agnaldo Peixoto de Alencar, que também usava o nome de Benedito Peres Campelo foi preso no Piauí e a polícia chegou à conclusão de que a motivação do crime foi a disputa de poder. A receita do município em 2018 foi de R$ 82 milhões e 181 mil, sendo R$ 10,5 milhões em royalties. Tudo indica que quem mandou matar queria ter a chave do cofre municipal.
Pistoleiros costumam não falar sobre quem dá a ordem e faz o pagamento pelas mortes. Alencar não entregou ninguém, mas uma investigação feita pela Procuradoria da Prefeitura de Tucuruí associa o assassinato de Russo a um consórcio de agiotas que atua na região.
Antes de “Russo”, segundo a polícia, em outubro de 2015, Alencar havia sido contratado para executar o ex-secretário de Administração de Goianésia, Eduardo dos Santos, 59 anos, cujo corpo foi encontrado em uma estrada vicinal da PA-150, com marcas de tortura e um tiro na cabeça. A orelha foi cortada e levada como troféu.
Alencar também foi acusado de assassinar o vereador José Ernesto da Silva Branco, testemunha da morte de “Russo”, um mês após a morte do prefeito.
De olho nos royalties
O prefeito de Breu Branco, Diego Kolling, 34 anos, o “Alemão”, foi o segundo. Na manhã de 17 maio de 2017, enquanto andava de bicicleta com amigos em um trecho da rodovia PA-263, que liga Tucuruí a Goianésia do Pará, dois homens o esperavam em uma moto e o executaram.
A polícia apurou que o presidente do Partido Social Democrático (PSD) do município de Breu Branco, Ricardo Peçanha, o “Chegado”, foi um dos mandantes; O gestor havia sido eleito pelo mesmo partido. O executor, Lelo Batata, foi preso com “Chegado”.
A receita de Breu Branco em 2018 foi de R$ 107,5 milhões, sendo R$ 4,6 milhões de royalties. Na cidade, o comentário era de que o grupo de “Chegado” queria tomar conta dos cofres municipais. Só ele foi indiciado como mandante. Os outros não apareceram.
O terceiro prefeito da lista foi o de Tucuruí, Jones William, 42 anos, assassinado com vários tiros em 25 de julho de 2017. Dois homens em uma moto o esperavam na estrada que liga a cidade ao aeroporto, quando ele vistoriava uma operação tapa buraco.
A receita de Tucuruí em 2018 foi de R$ 304,4 milhões, sendo R$ 12 milhões de royalties repassados pela Eletronorte. Uma notícia crime encaminhada ao Ministério Público do Estado indica que um consórcio de agiotas desviou R$180milhões dos cofres públicos. Essa mesma denúncia aponta que a organização criminosa também agia em Goianésia e mais 10 prefeituras do Pará.
Testemunhou, morreu
Uma testemunha do crime também foi assassinada na noite de 24 de março do ano passado, um sábado, em Tucuruí. Francisco Valcione Soares de Souza foi perseguido e executado a tiros. Ele correu para um bar pedindo ajuda e o segurança do estabelecimento, Silvano Fernandes Barbosa, tentou conter o pistoleiro, mas também foi baleado e morreu.
Mas as mortes de pessoas envolvidas na disputa não cessaram. Bruno Marcos de Oliveira, pistoleiro acusado de matar William, foi um dos mortos durante tentativa de resgate do complexo penitenciário de Santa Izabel do Pará, em abril do ano passado.
Entre os denunciados estão Artur de Jesus Brito, que era vice-prefeito e assumiu o cargo; Lucas Michel Silva Brito, irmão de Artur e vereador da cidade; a mãe deles, Josenilde Silva Brito, além do ex-chefe de gabinete, Wilson Wischansky e o empresário, Marlons Frank Possebon, que teriam planejado o crime.
Também foram acusados Flávio Rodrigues Porto, que seria o agenciador que contratou os assassinos; Deivid da Conceição Veloso, que pilotava a moto onde estava o executor do crime e Paulo Ricardo Rodrigues Vieira, que acompanhava o prefeito e teria indicado o alvo aos criminosos.
Flávio, o agenciador, contou à polícia que temia ser morto pelo consórcio. Ele era gerente da fazenda do empresário José David de Lucas, apontado também pela polícia como intermediário do crime. O fazendeiro foi morto no dia 6 de setembro de 2017, também em Tucuruí, em episódio considerado como queima de arquivo.
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