Há entrevista e entrevista. Entrevista boa, por exemplo, é aquela em que o entrevistado se sai bem, convence, sem enrolação. Já a entrevista ruim, é aquela quando o entrevistado pisa na bola e protagoniza desastres com declarações infelizes.
Mas há também a não-entrevista. Que é aquela para o qual o jornalista é convidado, se prepara, mas na hora o entrevistado é blindado de perguntas impertinentes, que exigem preparo e jogo de cintura. Aliás, bom jornalismo é sempre impertinente e existe para incomodar.
Foi o que aconteceu nesta manhã ensolarada de quarta-feira, 23, com o editor do Ver-o-Fato, convidado a participar de uma daquelas lives que acontecem a todo instante. Só que essa não era uma live qualquer. Era com diretores da JBS, a maior empresa do comércio de carne bovina do planeta.
A empresa iria anunciar – como anunciou – o projeto dela para a “sustentabilidade do bioma amazônico”, região onde mantém negócios bilionários, principalmente no Pará.
Diretores falaram, convocando parceiros – bancos, principalmente, investidores internacionais, etc – para capitalizar o projeto. Só que depois de muito falatório, o principal não acontecia:a tal entrevista com jornalistas. Até que, faltando uns 20 minutos para o final da live, foi apresentado um número de celular para perguntas da imprensa.
Quem não anotou o número do celular da empresa teve de correr e pedir ajuda. Feito isso, poucos conseguiram formular perguntas: Estadão, Band, etc. Da Amazônia, região contemplada com o projeto, nenhuma pergunta foi lida.
Também não foi dito pela apresentadora da live se algum jornalista ou veículo de comunicação da Amazônia estava inscrito. De tudo, uma certeza: o Ver-o-Fato, por meio de seu editor, se inscreveu e fez uma pergunta, além de apresentar sugestão ao projeto da JBS.
Resumo da ópera: Como é que a JBS quer integrar os amazônidas em seu projeto se ela sequer dá vez e voz às perguntas de jornalistas da Amazônia sobre questões de interesse da região, do país e do mundo? Assim, com essa visão excludente, fica difícil pedir engajamento. Ficou no ar um rastro de desconfiança.
Veja a pergunta e a sugestão:
A pergunta:
Sou o jornalista Carlos Mendes – Portal Ver-o-Fato. Como repórter e amazônida, pergunto: todos nós – pessoas, empresas, entidades, etc – devemos aprender com nossos erros e a não repeti-los. A JBS envolveu-se na Lava Jato e sofreu um duro golpe, sendo obrigada a fazer acordos de leniência de R$ 10,3 bilhões. No caso do bioma amazônico, ela vai recuperar sua credibilidade investindo nas comunidades da região para que elas se sintam sujeitos das transformações que o mundo exige, e não somente objeto?
A sugestão:
Outra pergunta: por que a JBS não institui premiações às comunidades e caboclos da Amazônia que mais atuarem nas ações contra queimadas, desmatamento e outras formas de degradação ambiental?
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