O jornalismo que se faz no Ver-o-Fato foi a campo apurar uma informação divulgada nesta tarde de quinta-feira, 06, sobre suposta identificação do primeiro caso de poliomielite no Pará, nos últimos 35 anos. Tal informação é compartilhada por alguns veículos de comunicação sem a devida checagem e até com dose de sensacionalismo que não corresponde à verdade.
Tudo ocorreu depois que o Instituto Evandro Chagas (IEC) informou ter recebido da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa) amostra de fezes de uma criança de 3 anos para pesquisa de Poliovírus. “No dia 04 de outubro, o IEC confirmou o resultado positivo por meio do sistema Gerenciador de Amostras Laboratoriais – GAL. Feitos o isolamento viral e a caracterização intratípica pelo Laboratório de Enterovírus (LEV) do IEC, o vírus foi caracterizado como o vírus vacinal Sabin Like 3”, diz nota do Evandro Chagas enviada ao Ver-o-Fato. Ou seja, o vírus encontrado é aquele do qual a vacina é produzida.
A criança mora em Santo Antônio do Tauá. Os primeiros sintomas que a criança sentiu foram febre, dores musculares, mialgia e paralisia flácida aguda (PFA), que surgiram no dia 21 de agosto. Algumas semanas depois, o menino perdeu a força nos membros inferiores, sem conseguir se manter em pé.
A coleta de fezes foi realizada no dia 16 de setembro, e o laudo, com o resultado positivo para o vírus Sabin Like 3, causador da poliomielite não selvagem, foi emitido na última terça-feira (4). É importante dizer, segundo uma fonte do IEC, que o vírus selvagem transmissor da poliomielite não foi identificado na amostra analisada pelo IEC. Detalhe: a cobertura vacinal da criança estava irregular, o que significa dizer que ela não estava em dia com a vacinação.
Algumas hipóteses sobre as reações apresentadas pela criança após tomar a vacina estão sendo analisadas. Uma delas não foi descartada, como a Síndrome de Guillain Barré. Portanto, o caso segue em investigação conforme o que é preconizado no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde”.
Risco de a Pólio voltar: falta de vacinação
Mas há risco de a Pólio voltar ao País? Sim, há, principalmente se a cobertura vacinal continuar abaixo da média e os pais e responsáveis continuarem a deixar de vacinar seus filhos pequenos, como hoje ocorre. Vacinas sobram nos postos de saúde e o comparecimento é tímido, o que demonstra negligência em cuidar das crianças, levando-as para tomar a vacina. Em Belém, como em outras grandes cidades paraenses, a campanha de vacinação não apenas contra a Pólio, como também contra outras doenças, foi prorrogada.
É preciso entender que em 18 de junho de 2014, foi isolado um poliovírus selvagem do tipo 1 (WPV1) em águas coletadas de esgoto do aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas, SP. O sequenciamento genético da cepa isolada em Campinas é muito similar ao dos casos de pólio recentemente isolados na Guiné Equatorial, sugerindo que essa cepa foi importada daquele país.
Apesar de não ter sido constatado nenhum caso de paralisia e não haver evidências de transmissão do WPV1 no Brasil este fato serve como alerta para o risco de uma doença que ainda não foi erradicada globalmente. A região das Américas foi declarada livre de pólio em 1991 e, no Brasil, nenhum caso de paralisia infantil causada por poliovírus selvagem foi registrado desde 1989.