A suspensão protocolar das exportações de carnes bovina do Brasil para a China desde esta quinta-feira (23), após o registro de um caso de vaca louca no Pará, terá um impacto na balança comercial brasileira deste ano de aproximadamente US$ 500 milhões, estima o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro. “O impacto será muito pequeno. Em abril normaliza tudo”, disse. Na sua avaliação, a rápida retomada é favorecida pelas relações entre os governos dos dois países. A China é o maior importador da proteína brasileira.
Estrategista de Comércio Exterior do Banco Ourinvest, o ex-secretário do MDIC Welber Barral disse que também não vê motivos para alarmismo. De acordo com ele, o Ministério da Agricultura já se pronunciou dizendo que o registro no Pará, ao que tudo indica, é de um caso atípico da doença, o que as análises que estão sendo feitas no Canadá deverão confirmar. A doença da vaca louca atípica aparece em animais mais velhos e, ao contrário da clássica, não infecta o ser humano nem se espalha pelo rebanho.
Para o presidente da AEB, é preciso ter em mente que dos US$ 500 milhões a menos que ele estima que não estarão na balança comercial, boa parte virá da queda do preço do produto no mercado externo. “Só em fevereiro houve uma queda de 7,5% (nos preços e, por consequência, na receita) Internamente os preços já vinham caindo esse episódio da vaca louca poderá acelerar a queda”, disse.
Em 2021, quando foi registrado caso de vaca louca no Brasil, a suspensão das exportações de carnes para a China demorou pouco mais de 100 dias. Mas, de acordo com Castro, a demora se deu mais por questão política do que pela sanitária, uma vez que o governo Bolsonaro primava por uma relação diplomática beligerante com o governo de Pequim. Ao contrário do que aconteceu naquele ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só mantém boas relações diplomáticas com a China como visitará o parceiro asiático em março. “Desta vez não haverá suspensão das exportações de carnes mas sim um adiamento dos embarques”, disse o presidente da AEB.
Barral também diz que a solução para a retomada das exportações de carne bovina para a China será mais rápida do que em 2021 porque o diálogo entre os dois governos será mais fluido. Mas destaca a possibilidade de alguns países se valerem desse episódio de vaca louca no comércio global: “Há sempre o risco de países que já têm uma inclinação ao protecionismo demorarem mais para retomar as importações. Mas mais pelo protecionismo do que por questões sanitárias, já que o sistema sanitário brasileiro é muito avançado”, ponderou Barral.
Ainda segundo o ex-secretário, desta vez o Brasil pode ter a seu favor o processo de regionalização, ou seja, o caso do Pará é isolado e grandes Estados produtores não têm qualquer problema para exportar.
Nota do Sindicato da Carne do Pará
“O Sindicato da Carne e Derivados do Pará (Sindicarne), um dos sindicatos filiados à FIEPA, reconhece que o auto embargo do Brasil afeta a exportação de carne bovina, no entanto, é uma prova de que o protocolo sanitário no país é seguido à risca, garantindo assim a confiabilidade do produto brasileiro. Em entrevista nesta quinta-feira (23/02), o presidente do sindicato, Daniel Freire, elogiou a atuação rápida da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), que agiu com transparência ao divulgar o caso suspeito de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EBB), popularmente conhecida como doença da vaca louca, registrado em uma pequena propriedade no Pará.
O presidente do Sindicato destacou que este caso está sendo considerado atípico, ou seja, surgiu de uma forma espontânea no próprio animal e sem riscos à saúde pública. “Houve transparência da Agência, como manda a regra. E mais, esse animal foi detectado em uma propriedade, da porteira para dentro, nem sequer chegou a uma indústria frigorífica. Ou seja, a Adepará neutralizou qualquer risco iminente, mesmo que extremamente improvável, devido aos critérios sanitários aplicados no Brasil”, explicou Daniel.
De acordo com ele, a indústria da carne do Pará espera otimista por um desfecho que provará que o Brasil e o Estado têm controle total da sua produção agropecuária. “A gente queria tranquilizar a população em geral que não há nenhum risco de consumir carne. O produto que está circulando no mercado paraense é 100% saudável. O Brasil tem um regulamento de inspeção federal, estadual e municipal de origem animal muito estrito e muito bem aplicado”, destacou.
Ao longo de 20 anos o Estado do Pará já exportou muitos animais, sem nenhum incidente sanitário. “O Brasil nunca teve um caso de ‘mal da vaca louca’ clássico, que é aquele transmissível aos animais e ao ser humano. Pelo tamanho do Brasil haveria um risco enorme, mas o modo como esse gado é criado torna o País totalmente isento da transmissão. Quando ela ocorreu no Reino Unido, foi exatamente por animais alimentados com ração composta por restos de outros animais, o que no Brasil é proibido”, lembrou Francisco Victer, presidente da Aliança Paraense pela Carne, que congrega indústria, varejo e produtores.
Outra questão colocada pelas entidades representantes do setor é de que no país a indústria da carne tem um auditor fiscal federal na própria unidade operacional, acompanhando todos os animais, antes e depois do abate, o que representa uma fiscalização constante, que não deixaria passar um caso de animal doente.
“As indústrias exportadoras pararam a produção porque o Brasil se auto embarga em um caso suspeito. Mas isso é uma demonstração de clareza, de responsabilidade e de profissionalismo, porque cumpre um protocolo, que diz que, em caso de suspeita, é necessário aguardar o teste final. Isso causa uma diminuição momentânea na produção e na exportação, mas estamos confiantes em um resultado positivo e que a Organização Internacional de Epizootias vai manter o risco do Brasil como desprezível”, afirmou Daniel Freire. Segundo ele, o setor aguarda a contraprova de um laboratório independente do Canadá que recebeu o material enviado pelo Ministério da Agricultura.”