A chegada da COP 30, prevista para acontecer em Belém, vem sendo apresentada pelas autoridades como um marco na defesa do meio ambiente. Contudo, a realidade que paira sobre o Pará e boa parte da Amazônia conta uma história completamente diferente. A fumaça densa que encobre os céus, resultado de queimadas incontroláveis, expõe a incapacidade do governo federal e estadual no combate eficaz a essas tragédias ambientais.
Enquanto políticos se reúnem para discutir o futuro do planeta em conferências e eventos, os incêndios florestais seguem devastando a Amazônia. Em locais como Novo Progresso, São Félix do Xingu e Altamira, cidades que encabeçam o ranking de maiores focos de incêndio no Brasil, o fogo consome vastas áreas de floresta, exacerbado pela ausência de ações contundentes do poder público. Esses municípios são frequentemente associados ao desmatamento ilegal, garimpo clandestino e invasão de terras indígenas – práticas que permanecem praticamente inabaláveis diante da frágil fiscalização.
Em Marabá, há meses a floresta da reserva legal da fazenda Mutamba, uma das últimas ainda protegidas na região, é incendiada por uma organização criminosa que age à sombra da impunidade. Os apelos do pecuarista Sérgio Mutran viram cinzas em meio ao cenário caótico da destruição.
Por sua vez, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1º de julho e 11 de setembro, mais de 44,5 mil focos de incêndio foram registrados nas 20 cidades com maior incidência de queimadas no Brasil. No topo dessa lista estão São Félix do Xingu (com 5.146 registros), Altamira (4.421) e Novo Progresso (4.279) – todas no Pará, um estado que, ironicamente, será sede da COP 30. A cada dia, a floresta perde hectares de vegetação, agravando a crise climática e colocando em xeque o compromisso das autoridades em proteger o bioma amazônico.
Discurso para inglês ouvir
A contradição entre o discurso político e a realidade ambiental é evidente. Enquanto se exalta a escolha de Belém como palco da COP 30, quase nada é feito para frear as chamas que consomem a Amazônia. Operações pontuais da Polícia Federal, como a recente Aurum Protection em São Félix do Xingu e a Surtur em Altamira, são incapazes de conter o ciclo de destruição alimentado pelo desmatamento e pelo garimpo ilegal. E, enquanto isso, o fogo avança.
A falta de estrutura do governo para combater as queimadas reflete-se no desespero das comunidades locais e na devastação de terras indígenas, como as da etnia Kayapó, que, mais uma vez, são as principais vítimas desse descaso. Mesmo com toda a visibilidade internacional que eventos como a COP 30 podem trazer, o Pará parece incapaz de demonstrar a competência necessária para enfrentar os desafios ambientais de forma eficiente.
Ao invés de ações concretas, o que se vê é uma floresta em chamas, comunidades indígenas sofrendo, e uma promessa de preservação que, na prática, continua apenas no discurso.
Para os moradores de São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, cidades que já ganharam notoriedade pela grilagem de terras e pelo garimpo ilegal, o céu encoberto pela fumaça é um lembrete constante de que, enquanto o mundo debate o futuro do planeta, suas florestas continuam sendo destruídas, dia após dia, à vista de todos.