É com uma revolta profunda que assistimos à corrupção eleitoral em plena ebulição no Pará nesta eleição de 2024. O que está em jogo é muito mais do que práticas ilícitas; estamos diante de um desrespeito gritante à democracia e à vontade popular. A cena que se desenhou nas últimas horas não é apenas chocante — é um verdadeiro assalto à cidadania, sem esquecer que onde existe um candidato corruptor existe também um eleitor corrupto. Portanto, ambos criminosos. Em duas operações da Polícia Federal, no aeroporto de Belém e em Castanhal, mais de R$ 6 milhões em espécie foram apreendidos.
Em Castanhal, um coronel da Polícia Militar paraense e outro militar de baixa patente foram presos em flagrante ao sacarem mais de R$ 5 milhões de um banco daquela cidade. O tenente-coronel, segundo matéria exclusiva do site Opinião em Pauta (veja abaixo), é o coronel Francisco de Assis Galhardo do Vale, lotado na Casa Militar da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). Galhardo, como o coronel é conhecido na caserna, segundo ainda o site, era tenente-coronel e foi promovido no último dia 25 pelo governador Helder Barbalho.
Em Belém, no aeroporto internacional, ontem pela manhã, 4, a PF flagrou a milionária quantia de R$ 1.149.300 sendo transportada em um jato de pequeno porte. Quando a aeronave estava prestes a decolar, um funcionário público foi preso com o dinheiro em uma mala. Um episódio que escancara o cinismo de quem acredita que pode manipular o processo eleitoral como se fosse um mero jogo.
O montante, destinado à compra de votos, de acordo com a investigação, é um tapa na cara da população que ainda acredita na importância do voto, na democracia e no estado democrático de direito, tão propalados por supostos defensores da moralidade pública . Isto é um insulto à dignidade de cada cidadão que vai às urnas esperando mudanças reais, acreditando no processo eleitoral como instrumento de melhorias para todos.
E não para por aí. O indivíduo preso no aeroporto, além de ser parte desse esquema de corrupção, foi autuado por porte ilegal de arma, portando uma pistola e quatro carregadores municiados. Que tipo de segurança temos quando até as instituições que deveriam ser guardiãs da ordem se veem envolvidas em práticas tão nefastas? O fato de que essa aeronave, avaliada em R$ 11 milhões, esteja sendo utilizada para corromper a democracia é, no mínimo, estarrecedor.
Um inquérito foi instaurado, mas a pergunta que ecoa é: quantos mais estão envolvidos nessa trama suja?
Momento da prisão em Castanhal, na saída de um banco
Uma fonte da PF disse ao Ver-o-Fato que nesse caso o avião iria para Tucuruí e o dinheiro seria usado na compra de votos naquela cidade, mas os detalhes sobre a quem beneficiaria tamanha corrupção na prostituição de consciências ainda está sendo investigado, embora haja fortes indícios.
Em resumo: a desfaçatez com esses fatos vêm à tona revela uma podridão institucional. A corrupção não é mais um mal invisível; ela está exposta, escandalosamente à vista de todos, e a pergunta que nos fazemos é: até onde isso vai parar? O que mais precisamos ver para que haja uma reação efetiva?
Novas operações da PF
A Polícia Federal está nas ruas e, pelo volume assustador de dinheiro circulando para comprar votos, deve ter reforço de agentes e muito trabalho pela frente até a manhã, 6, durante todo o dia e final da votação.
As eleições são um momento sagrado para o povo. Não podemos deixar que os interesses escusos de uma minoria comprometam a voz da maioria. A integridade das urnas deve ser garantida, e a luta contra a corrupção deve ser incessante. Chega de conivência.
O Pará merece líderes comprometidos com a ética e a transparência, e não figuras que se utilizam de práticas criminosas para assegurar poder.
Se não reagirmos agora, o futuro da nossa democracia estará em risco. Que o clamor por justiça ecoe em cada canto do Pará, que a indignação se transforme em ação. A corrupção eleitoral deve ser exposta e combatida com toda a força que temos.
Chegou a hora de dar um basta.
Alepa vai apurar envolvimento de coronel
O Ver-o-Fato procurou a Alepa para ouvir o que o presidente da Casa, deputado Chicão, tem a dizer sobre o envolvimento no caso do coronel Francisco de Assis Galhardo do Vale, lotado na Casa Militar do legislativo. A assessoria de Chicão informou que o deputado “não compactua com atos ou ações individuais de ninguém que eventualmente aqui esteja lotado”.
E prometeu que, na segunda-feira, 7, irá abrir espaço à defesa e contraditório do coronel para posteriormente tomar as medidas cabíveis.
VEJA IMAGENS DA PRISÃO EM CASTANHAL
Um coronel na parada de R$ 5 milhões
Veja a íntegra da matéria do site Opinião em Pauta:
“Coronel Galhardo, ajudante de ordens e homem de confiança do deputado federal Antônio Doido (MDB), candidato a prefeito em Ananindeua, foi preso com mais de R$ 5 milhões em uma agência bancária de Castanhal na tarde desta sexta-feira (4). A Polícia Federal no Pará (PF-PA) trabalha com forte suspeita de que a dinheirama seria utilizada para compra de votos em favor de Antonio Doido, apoiado ostensivamente pelo governador Helder Barbalho (MDB), que pretende criar obstáculos à reeleição do atual prefeito do município, Daniel Santos (PSB), o seu principal desafeto político na atualidade.
De acordo com a PF, o coronel Galhardo foi preso com cerca de R$ 300 mil e o praça da Polícia Militar do Pará que o acompanhava estava com o restante do dinheiro. A prisão ocorreu quando eles saiam do banco, após sacarem direto da boca do caixa o montante. A reportagem do Opinião em Pauta apurou que o coronel Francisco de Assis Galhardo do Vale é lotado na Casa Militar da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), comandada pelo deputado Francisco das Chagas Silva Melo Filho (MDB), mais conhecido como Chicão, aliado de primeira ordem do governador Helder Barbalho. O governador, inclusive, promoveu Galhardo a coronel fechado no último dia 25.
Ainda de acordo com a apuração do Opinião em Pauta, o coronel é homem de extrema confiança de Antonio Doido a bastante tempo. Galhardo é casado com Soraia de Nazaré Oliveira do Vale, que foi secretária de Finanças do município de São Miguel do Guamá, durante o período que o prefeito era, justamente, Antonio Doido (2017-2020).
Ainda na gestão de Doido como prefeito, Francisco de Assis foi condecorado com o título de cidadão guamense pelos “relevantes serviços prestados ao município”. Na eleição municipal seguinte, quando Antonio Doido tentou a sua reeleição e foi derrotado, Francisco foi um dos principais doadores da sua campanha com a cifra de R$ 20.000,00, de acordo a página de Divulgação de Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Conforme a PF, o coronel e o praça envolvidos foram conduzidos para Superintendência da Polícia Federal. A PF ainda explicou à reportagem do Opinião em Pauta que o valor exato do dinheiro apreendido está sendo contabilizado, mas já é possível garantir que ultrapassa, em muito, a marca dos R$ 5 milhões inicialmente anunciado pela corporação. “A apreensão dos aparelhos celulares deles e a continuação do inquérito policial aberto devem esclarecer mais sobre o caso e apontar outros possíveis participantes do crime em apuração”, diz a nota da PF”.