As festas de Natal e Ano Novo, onde proliferaram aglomerações de pessoas, muitas sem máscaras e relaxadas nos cuidados de higienização das mãos contra a Covid-19 já trazem resultados preocupantes no Pará: segundo números da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em apenas quatro dias de funcionamento, a Unidade Móvel da Policlínica Metropolitana, instalada no estacionamento do Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, já atendeu 1.067 pessoas, sendo 345 só ontem.
No local funciona atendimento para pessoas com sintomas leves e moderados de Covid-19 e outras síndromes gripais, disponibilizando consultas médicas, exames de RT-PCR para diagnóstico de Covid e medicamentos, quando necessário. De acordo com a Sespa, o serviço conta com uma equipe de 23 profissionais de saúde. As pessoas são atendidas e, caso haja necessidade, já saem da Policlínica com a medicação.
A Sespa ressalta que pessoas com sinais e sintomas mais graves, como falta de ar, devem procurar atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e prontos-socorros. Para o secretário de Estado de Saúde Pública, Rômulo Rodovalho, a reabertura da Unidade Móvel da Policlínica “é uma medida de caráter preventivo, considerando a aproximação do período de chuvas mais intensas, o chamado inverno amazônico, momento em que há aumento de casos de síndromes gripais causadas por diversos vírus”.
Rodovalho lembra que agora “além dos vírus que já circulavam no Estado, como Influenza A H1N1 e Influenza A H3N2, entre outros, temos o SARS-CoV-2, causador da Covid-19”. Para ele, como os sinais e sintomas dessas doenças são bem parecidos, é importante que a pessoa procure atendimento para saber qual doença está lhe acometendo e, assim, fazer o tratamento adequado e evitar que o caso evolua para uma síndrome respiratória aguda grave (SRAG), ocasionando a internação hospitalar.
O secretário chama a atenção da população, afirmando também ser fundamental que ela “faça sua parte, mantendo as medidas preventivas contra o novo coronavírus, que servem contra qualquer doença respiratória: evitar aglomerações, usar máscaras o tempo todo e higienizar as mãos com água e sabão ou álcool 70%”. A Unidade Móvel da Policlínica no Hangar funciona todos os dias, das 8 às 17 h, para atendimentos de casos leves e moderados de síndromes gripais.
Panorama nos estados
A nova alta de infecções pela covid-19 tem feito governos reabrirem ou estenderem o prazo de funcionamento de hospitais de campanha pelo País, como forma de desafogar e evitar o colapso da rede de saúde. O total de mortos pelo vírus no Brasil se aproxima dos 200 mil. As estruturas de emergência atenderam parte significativa da demanda no 1º semestre, mas também estiveram ligadas a suspeitas de desvio de verbas e falhas de planejamento.
O atendimento de pacientes em centros provisórios foi retomado em capitais, como Fortaleza, Teresina e Belém – nessa última, para casos leves e moderados. É também alternativa no interior e em regiões metropolitanas, que têm oferta mais limitada de leitos, em Estados como São Paulo, Minas e Ceará.
Em Osasco, Grande São Paulo, o hospital de campanha fechou em setembro e reabriu mês passado para atender casos leves. Tem 70 leitos, mas pode chegar a 300. No início da semana, a cidade tinha 57% dos leitos de emergência para covid ocupados. A nova gestão em Diadema anunciou intenção de erguer uma unidade. Em Bauru, o Estado renovou o contrato, que terminaria semana passada, diante do aumento de doentes. Araraquara fez o mesmo.
Em Ilhabela, litoral norte, o plano em dezembro era montar estrutura para pacientes de outras doenças e liberar leitos a infectados pela covid. O novo prefeito, Toninho Colucci (PL), mandou desfazer a unidade, que ainda estava incompleta. Optou por instalar até 20 leitos em um prédio municipal. Diz que vai economizar R$ 900 mil e transformá-lo em hospital definitivo. Ainda não disse se seguirá a ideia da gestão anterior, de receber pacientes que não sejam de covid. A cidade tem visto crescer o fluxo de turistas nas últimas semanas, o que pode elevar a transmissão do vírus.
Um dos problemas de hospitais de campanha é investir em estrutura que será desfeita. Walter Cintra, professor de Administração Hospitalar da FGV, acredita que as unidades provisórias podem ser necessárias com o maior contágio após as festas de fim de ano. Mas vê alternativas. “Concluir a ativação de hospitais que não estejam totalmente ativados, e reativar hospitais desativados por qualquer razão no passado. Após a pandemia, esses leitos podem ser usados para outras finalidades, principalmente no SUS que carece de vagas”, diz.
Novo prefeito de Presidente Prudente, Ed Thomas (PSB) cobra mais leitos ou hospitais de campanha. “É competência do Estado, não do município.” Pela classificação estadual, a cidade está na fase vermelha (mais restritiva). Thomas resistiu em fechar o comércio, mas cedeu após pedido do Ministério Público. A Secretaria Estadual da Saúde disse monitorar o cenário para preparar leitos, quando necessário, e apoiar gestores.
Risco de explosão de casos
O risco da explosão de casos após o Natal e do réveillon é um dos argumentos de Varginha (MG) para estender o contrato. “Pedimos a prorrogação ao governo federal, que participa da gestão da estrutura com o envio de recursos. A situação estava controlada, mas em dezembro deu uma piorada e achamos melhor manter o funcionamento até ao menos fevereiro”, diz o prefeito Verdi Lúcio Melo (Avante). “Você dá uma volta na cidade e de cada dez, três usam a proteção.”
Há mais dois hospitais no município: um regional, que atende cidades vizinhas, e um privado, respectivamente, com 66% e 72% de ocupação de UTIs. A unidade de campanha tem mais oito vagas – metade ocupada.
Em Mariana (MG), até o então prefeito Duarte Júnior (Cidadania) precisou ser internado na vizinha Ouro Preto para tratar da doença em dezembro. A unidade de campanha local já estava pronta, mas só foi usada a partir do fim do ano, quando os hospitais de Mariana e de Ouro Preto ficaram com 100% das UTIs lotadas.
O governo de Minas – que chegou a montar um hospital de campanha que não foi utilizado em Belo Horizonte – diz que agora a rede está melhor equipada do que no início da crise sanitária. “Lá no início, tínhamos um cenário de guerra. Os momentos são muito diferentes”, diz o secretário estadual da Saúde, Carlos Eduardo Amaral, em vídeo enviado pela assessoria.
Pernambuco estuda reabrir os 102 leitos de terapia intensiva no hospital de campanha de Petrolina. Conforme o governo, a ocupação de UTIs no Estado subiu para 80% e de enfermaria para 66% nas últimas semanas. Em Mato Grosso do Sul, o Hospital da Cassems, da rede privada de Campo Grande, começou a remontar a estrutura destinada a pacientes com a covid em sua área externa.
Em Cascavel (PR), um hospital de campanha que funcionou no Centro de Eventos está com a estrutura pronta para ser reativada, com macas, cilindros de oxigênio e mais equipamentos, mas só será colocada em operação se os casos continuarem aumentando, diz a prefeitura. (Do Ver-o–Fato, com informações da Agência Pará e Estadão)
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