A destruição ambiental no Pantanal de Mato Grosso continua a alarmar, mas a reação dos que antes defendiam ardentemente a floresta amazônica e o Pantanal parece ter esfriado. Quase 1 milhão de hectares já foram consumidos pelo fogo este ano, exterminando animais e devastando a biodiversidade, mas os críticos de outrora estão surpreendentemente calados, inclusive nas redes sociais.
Para tentar controlar a situação e garantir a sobrevivência da fauna, voluntários do Grupo Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap), em Mato Grosso do Sul, têm realizado ações de proteção em locais de risco e fornecimento nutricional em áreas afetadas. Dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA) indicam que os incêndios já atingiram 848.900 hectares no bioma.
O trabalho do Gretap inclui monitorar a fuga dos animais para áreas seguras, acompanhar a progressão do fogo e criar rotas de saída. Utilizando aceiros—faixas sem vegetação criadas de forma preventiva para confinar e isolar incêndios—e fornecendo uma base nutricional para os animais, o grupo tenta mitigar os danos.
“O fogo consome toda a biomassa, prejudicando a alimentação dos animais. Fazemos esse aporte nutricional básico para que eles possam continuar se alimentando até que as áreas se regenerem e a dinâmica do ecossistema retorne”, explica a organização.
Os voluntários destacam que o aporte nutricional é diferente da ceva de fauna silvestre, que é crime ambiental no Brasil, devido a práticas abusivas contra os animais. “O Gretap é o único grupo oficial, criado por decreto do Governo do Estado e também do terceiro setor, que aplica essas técnicas e faz este trabalho de alimentação”, afirmam. Após a realização do aporte, os animais são monitorados pelo grupo, que já observou cervos pantaneiros, aves e roedores se alimentando.
Nas últimas 48 horas, o Pantanal de Mato Grosso do Sul registrou 58 focos de fogo e 645.575 hectares queimados. As queimadas no Pantanal em 2024 já superaram o recorde histórico do bioma, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em 2020, de janeiro a julho, foram destruídos 395.075 hectares. Comparando os períodos, o aumento em 2024 é de 103%.
O fogo, esperado anualmente no Pantanal entre o fim de julho e agosto, foi antecipado este ano devido a eventos climáticos extremos, seca severa e ação humana, começando ainda em junho. Na região da Nhecolândia, um caminhão atolado em uma estrada de areia provocou um grande incêndio na terça-feira (23), quando o motor do veículo pegou fogo e as chamas se espalharam pela vegetação seca.
Bombeiros e brigadistas estão trabalhando intensamente para conter as chamas, com cinco equipes por terra e aeronaves lançando água sobre o fogo. “Este será o grande combate que vamos enfrentar a partir de hoje. Tivemos uma semana um pouco tranquila devido à chuva e baixa temperatura, mas agora os combates estão intensos, especialmente pela sensibilidade da região, que tem muitas fazendas e está próxima do Parque Estadual do Rio Negro”, afirmou o bombeiro Rampazo.
Enquanto isso, a ausência de manifestações dos defensores ambientais levanta questões sobre o comprometimento e a consistência das vozes que antes se erguiam em defesa do Pantanal e da Amazônia. A devastação segue, e a natureza paga o preço. (Do Ver-o-Fato, com informações do G1/MS)