Ernesto Puglia Neto * e Frederico Afonso Izidoro *
Em evento organizado pela Universidade de São Paulo (USP) e transmitido ao vivo pela internet, no dia 9 passado, o tenente-coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo Evanilson Correa de Souza foi covardemente agredido. Ao proferir a palestra “A estruturação do programa de combate ao racismo desenvolvido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo”, ele foi alvo do mesmo racismo que visa a combater. A transmissão foi hackeada, e sobre os slides que ele exibia foram manchados com rabiscos e a palavra macaco.
Quando um policial militar é vítima de agressão, qualquer que seja, são raríssimas as manifestações de solidariedade. O “normal” são as manifestações de pessoas que até cumprimentam o criminoso pelo fato com frases do tipo “bem feito, a PM é racista, ele teve o que mereceu”. Só que, neste caso, a agressão transcende ao policial!
O tenente-coronel Souza é negro, sofreu agressões racistas ao longo de sua vida. Não apenas por este fato, mas principalmente por sua capacidade ímpar de tratar do assunto, foi escolhido pela Polícia Militar para coordenar a revisão dos protocolos da PM para atendimento ao público, o “Manual de Direitos Humanos e de Cidadania aplicado à Atividade Policial”.
Como o próprio Souza afirmou recentemente, em entrevista ao G1, “o negro tem pressa porque é muito tempo sofrendo a mesma coisa. O racismo está enraizado nas pessoas histórica e culturalmente e elas não percebem isso”.
O que aconteceu no evento da USP foi lamentável. Ver uma atitude dessas ser perpetrada contra um negro, em qualquer circunstância já é por demais aviltante. Porém, quando ela acontece contra quem quer mudar o status quo nos faz perder ainda mais a esperança de que o mundo possa ser modificado para melhor.
Quem quer que tenha agido criminosamente contra o tenente-coronel Souza, contra todos os negros e contra todos os policiais militares, deverá sentir o peso da justiça. Não somente pelo crime que cometeu mas pelo que representa atacar àqueles que querem melhorar o mundo a sua volta. Nunca é demais lembrar que a Polícia Militar prima pelo bom atendimento à população e tem a convicção de que sempre é possível melhorar. E é nisso que o tenente-coronel Souza está empenhado.
É dever de todos buscar uma sociedade melhor, e, no caso do racismo e da discriminação, não bastam proibições. É preciso desenvolver políticas públicas que garantam a inclusão social de todos. E aqui devemos usar a interpretação que o Supremo Tribunal Federal deu ao tema, englobando, praticamente, toda a forma de discriminação nesse crime tão vil e nefasto à sociedade como um todo.
A Defenda PM presta sua solidariedade e apoio ao tenente-coronel Souza e a todas as vítimas desse crime terrível que é o racismo, e reforça que não adianta somente ficarmos ofendidos com esse tipo de agressão mas sim precisamos ir além. Precisamos agir de forma a corrigir aqueles que não conseguem enxergar que as diferenças entre nós servem apenas para nos mostrar, de forma definitiva, que somos indivíduos e que devemos ser respeitados de forma individual para termos uma vida coletiva harmoniosa.
Que eventos como esse nos inspirem a agir de forma enérgica contra todos aqueles que não consigam coexistir com quem é diferente de si.
Policial Militar. Cidadão em geral. É preciso agir contra toda forma de discriminação.
- Ernesto Puglia Neto – Doutor, Mestre e Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Especialista em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Gestão de Pessoas pelo Insper e Mackenzie. HCMP Expert Professional, pelo Human Change Management Institute. Consultor Internacional em Liderança. Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Foi Diretor de Polícia Comunitária e Direitos Humanos da PMESP. Professor de Liderança Organizacional no Doutorado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e de Polícia Comunitária de Segurança Pública e de Liderança em Segurança Pública na Pós Graduação em Segurança Pública da UNISANTA.
- Frederico Afonso Izidoro – Mestre e Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Mestre em Direitos Difusos. Pós-graduado em Direitos Humanos. Pós-graduado em Gestão de Políticas Preventivas da Violência, Direitos Humanos e Segurança Pública. Pós-graduado em Direito Processual. Bacharel em Direito. Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Professor de Direitos Humanos, Direito Constitucional e Direito Administrativo. Autor de diversas obras pelas editoras Saraiva, Forense, Método dentre outras. Articulista.
Nota do Ver-o-Fato
Aberto às opiniões – sem que estas reflitam nossa linha editorial, pois respeitamos a pluralidade de ideias e suas manifestações -, o Ver-o-Fato está à disposição de quem queira publicar artigo igualmente assinado, com visão diferente da acima manifestada.
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