Josué Alves Ferreira – capelão presbiteriano *
Fico maravilhado quando começo a observar a vida em geral. Semana passada, estava sentado no sofá da sala quando ouvi latidos da Pipoca, uma cachorrinha que pertence à minha filha Débora. No meio dos latidos, um alvoroço de cantos de pássaros, saí e vi, no jardim, cinco passarinhos voando e picando a cachorrinha, enquanto ela, com olhos fixos no canto da parede, cercava um filhotinho de pássaro, ainda sem penas para voar. Corri, peguei o filhotinho que estava muito assustado e o livrei daquele momento difícil.
Com aquele episódio, fiquei pensando em tantas representações de sentimentos e atitudes:
• Cachorrinha Pipoca: Instinto de caçadora, sobrevivência, busca alimento, apesar de ter alimento em abundância em casa.
• Passarinho pequeno: sobrevivência, medo, fragilidade.
• Família do passarinho pequeno, digo família porque eram cinco pássaros, provavelmente a mãe, o pai e os irmãos, ou mesmo parentes da mesma espécie: sobrevivência, amor, coragem, pois enfrentar um animal daquele tamanho não era fácil. Bem, para mim é pequenina, mas para eles a Pipoca é “gigante”. Apesar disso, eles não mediram esforços e enfrentaram o “gigante” para salvar e proteger o amado, a continuação da espécie.
Trazendo essa experiencia para nós, seres humanos, concluí que precisamos nos unir cada vez mais, para os mesmos propósitos encontrados nos personagens desse acontecimento, a cachorrinha, o filhotinho, os “pais” e parentes: vida e sobrevivência.
Devemos nos unir não somente nas horas difíceis e frágeis, quando o “gigante” chegar. Aquele filhotinho indefeso não deveria ter saído do local protegido, do ninho que seus pais tinham feito com tanto carinho, ele não tinha ainda as condições de “sair de casa”, ficar sozinho, era muito novo. Nossos filhos pequenos, adolescentes, não podem sair e ficar sozinhos diante de tantos “gigantes”: mídias sociais, drogas etc. Eles precisam de nossa presença constante, amor, carinho, alimento, conversa, aconchego, proteção. Precisamos nos unir mais até que eles possam, mais tarde, voar sozinhos, quando chegar o momento certo.
Mas, pode ser que, em algum momento, eles caiam ou saiam do local de proteção. E quantos estão assim! O que fazer? Como enfrentar esse gigante que muitas vezes vem para destruir a vida? Com aqueles passarinhos, podemos aprender a enfrentar o “gigante”, pois eles fizeram a parte deles, cantaram, enfrentaram, gritaram e alguém maior veio para socorrer. Nós também temos de ir à luta e enfrentar os problemas, mas podemos ter certeza de que há alguém bem maior que nossos problemas, que escuta nossos gritos de socorro, livra-nos dos perigos e nos coloca em lugares firmes e com proteção. Dessa forma, então, poderemos cantar um novo cântico.
Leia Salmo 40.1-3
“Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor.”
Quanto ao filhote, demos água para ele, soltei-o no jardim e, no outro dia, estava correndo de um lado para o outro, sob os olhos atentos dos seus “familiares”, que cantavam em cima do muro. Dois dias depois, provavelmente já estava voando, pois não mais o vi. Como diz Salomão, “udo passa rapidamente, e nós voamos”.
- Josué Alves Ferreira é Capelão do Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis.