A lição do nascimento e morte de Jesus. Ele nasceu denunciando a rejeição, a exclusão da família pobre.
Josué Costa – jornalista e ex-seminarista
Jesus poderia aparecer do deserto, do nada, como João Batista, por exemplo. Mas a economia da salvação se nô-lo apresenta na gravidez instigante de uma mulher. E que mulher! O oposto de Eva.
Jesus nasceu denunciando a rejeição, a exclusão da família pobre. Sem sequer ter direito aos cuidados do SUS. Nasceu ao lado de animais, num estábulo possivelmente fedorento, com seus pais pisando em fezes de vaca, de carneiros e ovelhas.
A romantização do Natal de Jesus, artisticamente projetada nos presépios, esconde verdades que precisam ser ditas. A principal delas é a de que Deus não é excludente, mas radicalmente é a favor dos pobres, dos despossuídos. Não só de espírito, como quer ensinar a conveniência dos púlpitos.
Deus dispensa pompas e privilégios. Sem meios termos. É pobre no sentido pleno da palavra: quis sê-lo. José , seu pai, decerto deve ter doado o ouro que seu Filho ganhou dos magos, doado parte do dinheiro, depois de subtrair a parte de César, e o comprado umas ferramentas novas para o exercício da marcenaria, sua fonte de vida. Afinal, a vida seguiu.
Jesus nasceu sentindo a dor da miséria. Sem leito e cobertas. Numa manjedoura improvisada pelo pai, forrada com capim seco. Era a Santa Casa, cheia de Misericórdia, que lhe cabia naquele momento.
O cenário de miséria do nascimento de Jesus é minimizado pelo discurso teológico dos cristãos. Pela exegética da ciência. Menos pela imagem. A esta cabem outras muitas palavras, sentimentos, sem a necessidade da academicidade dos doutos. Um olhar sincero para a cena vale muito. Há aí pobreza que rende ensino infindo sobre as virtudes proclamadas como canais de santidade. Há sentido para a luta dos irmãos que hoje militam na afirmação dos direitos humanos.
Jesus é o cara. Do nascimento à morte quis usar o mesmo discurso. Talvez diferentes apenas no nível de tortura. Mas, manjedoura e calvário são a mesma metáfora. Apenas as narrativas diferem. Tanto num como noutro Jesus aparece num cenário de tortura e abandono. Nasceu marginal e morreu marginal. E até hoje é marginalizado nas crianças que nascem desprovidas de dignidade e nos homens e mulheres que morrem à míngua.
Jesus é o cara. Nasce e morre a toda hora