Na terça feira dia 24 de maio, a comunidade de Vila Cruzeiro/RJ acordou sob forte rajadas de tiros. Uma operação policial, que segundo a inteligência da PM, tinha sido planejada há mais de um mês. O argumento já bem conhecido: desmantelar o tráfico de drogas prendendo os chefes do crime.
Contudo, o que o Brasil assistiu foi a segunda maior chacina do Estado do Rio de Janeiro, as informações mais recentes dão conta de 26 mortos, sendo 1 pessoa moradora de Chatuba comunidade vizinha, a Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, atingida dentro da própria casa. Qualquer pessoa sensata, minimamente inteligente, sabe que o tráfico de drogas e de armas não terá um fim à base de tiros, a política de segurança pública brasileira está equivocada e vem há anos destruindo centenas de famílias, tanto de moradores das comunidades quanto de agentes das polícias, de Norte a Sul do país.
No Rio de Janeiro, o atual governador Claudio Castro (PL), apoiador de Jair Bolsonaro, implantou o programa Cidade Integrada, que segundo Daniel Hirata – Coordenador do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF) -, “o programa instituído pelo governador pode passar de uma vitrine para suas pretensões eleitorais para um grande fracasso que terá consequências inesperadas para o Rio de Janeiro.”
Em seu twitter Jair Bolsonaro parabenizou a ação da Polícia Militar e do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) considerando a operação um sucesso, sem mencionar as 26 famílias em luto. A discussão, de fundo, que deve ser feita é se essa política de extermínio, sobretudo, de pessoas pobres e negras, está exterminando também a rede de tráfico de drogas e de armas, segundo estudiosos do tema, especialistas sérios, a resposta é: não.
Nas favelas está o elo mais frágil dessa rede, que se articula dentro dos grandes condomínios de luxo das grandes cidades. Por exemplo, em 2019 houve uma operação policial no condomínio Vivendas da Barra (Barra da Tijuca) – bastante conhecido por ser o local da residência do Presidente da República, que por “coincidência” foi o local onde o suspeito pela morte da Vereadora Marielle Franco, foi visitar no mesmo dia da execução desta, e por “personalidades” que saíram de lá dentro do camburão -, onde se apreendeu 117 fuzis e nenhum tiro foi dado, nenhum policial tinha autorização para entrar atirando no condomínio.
Já em Jacarezinho (2021) foram apreendidos 6 fuzis e 25 foram mortas. Em Cidade Cruzeiro, nesse dia 24 de maio de 2022, segundo o BOPE, foram 13 fuzis, 4 pistolas e 12 granadas, e uma quantidade que ainda não foi informada, de drogas, e 26 mortos. De 2018 até agora houve um crescimento exponencial da violência policial, do assassinato de pessoas negras pelas mãos de agentes da segurança pública, como o mais recente e registrado à luz do dia, de Genivaldo de Jesus Santos em Umbaúba/SE, preso numa espécie de câmara de gás no porta-malas do carro da polícia rodoviária federal daquele Estado.
Torturado e obrigado a inalar gás lacrimogêneo até a asfixia, homem negro, pobre e paciente esquizofrênico. Mesmo com a enorme repercussão e indignação nacional Jair Bolsonaro se manifestou dizendo que vai “se inteirar”, as únicas palavras.
Há uma autorização tácita para o genocídio das maiorias sociais, sobretudo, pobre e preto, todo o discurso de Bolsonaro desde a campanha de 2018 refletia isso, não à toa todas as violências tem batido recordes, há uma profunda naturalização. E negritando a Coalizão Negra por Direitos: “enquanto houver racismo, não haverá democracia”.
Mas também há muita movimentação dos de baixo e organização política para derrotar esse projeto de ódio e autorização para matar. Os gritos saem da garganta diariamente, há mais denúncias e respostas em forma de protestos, o que precisamos é unificar essas dores e potência de levante, transformando em força para virar o jogo. E não pode passar desse ano
- Gizelle Soares de Freitas é Assistente Social/Mestra em Serviço Social pela UFPA.