Oswaldo Coimbra *
Jornalista e professor, depois de décadas de atividades profissionais, ele chegara a um ponto em que nada mais o obrigava a escrever. Nem reportagens, nem artigos, nem livros, nem mesmo um simples comentário crítico. De início, a chegada destas desobrigações pareceu garantir-lhe paz. Mas, ele não demorou a lembrar que a produção de textos, na sua juventude, fora algo que procurara e se impusera. Criar a necessidade de escrever no exercício de dois ofícios, muitas vezes, ele vira como uma conquista sua, valiosa.
Porém, a verdade, é que, nem por isto, em momentos de autoquestionamento, ele deixara de se perguntar por que havia sido movido tão fortemente na direção de brechas que lhes permitissem entrar e se integrar em ambientes de trabalho nos quais há permanente produção de textos. Às vezes, ele via a si próprio como apenas um bobo narcisista, viciado no cultivo da vaidade de se exibir para outras pessoas através do que escrevia. Quando tais situações se repetiam com frequência, ele sentia-se cansado ante às teclas de seu computador das quais tinha de extrair seu trabalho.
Mas, para surpresa dele, a sua completa ausência, em sites e jornais, onde, por anos a fio, tinha sido publicada sua produção, provocou-lhe medo e angústia, sem que ele pudesse compreender logo por que.
Estes sentimentos incômodos, contudo, lhe trouxeram, por fim, a consciência daquilo que – ele intuía – devia existir na sofreguidão por escrever – algo necessariamente diferente e mais profundo que a necessidade de exibicionismo intelectual. E, como havia demorado para ele a chegada da consciência daquilo! Que, agora, inesperadamente, vinha junto com os mal-estares provocados por seu silêncio.
Ele compreendeu que a informação mais importante transmitida nos seus textos era destinada a nenhum outro leitor, se não ele mesmo. E, que esta informação – a mais relevante para ele – não aparecia escrita literalmente. Apenas subjazia em meio às suas palavras: a de que ele continuava capaz de escrever.
Perder esta capacidade, ante a possibilidade do seu silêncio se prolongar indefinidamente, se constituía para ele num pesadelo, numa tragédia semelhante a um estrangulamento, a um sufocamento, a um abafamento interior, que retiraria dele até a capacidade de conversar consigo mesmo.
- Oswaldo Coimbra é escritor, jornalista e pesquisador