Aline (nome fictício) sempre gostou de bater fotos sensuais e compartilhar nas suas redes sociais, principalmente no Instagran. Segundo ela, tudo pela auto estima em alta, além, claro, das curtidas e comentários com elogios. Havia dias que postava mais de cinco, tudo pelo mesmo propósito: ser notada. Mas com o passar do tempo, essa mania foi se tornando menos frequente, isto porque os problemas em casa começaram aparecer, seja pela fofoca de vizinhos ou pelas dificuldades econômicas que sua família vinha passando.
Diante deste panorama, ela começou a trabalhar em um conhecido supermercado de Icoaraci. O salário mínimo ajudava em casa, mas não cessaram as fofocas por conta de suas fotos.
Foi então que, depois de mais um cansativo dia de trabalho, recebeu uma proposta: 50 reais por um vídeo de 30 segundos dela dançando funk. De primeira, pensou em bloquear a pessoa que mandou, mas depois de uma olhada no perfil do homem, suspeitou que talvez fosse seguro e mandou um vídeo simples, depois outro, outro e outro. Nunca havia tido uma grana tão fácil.
Através de outros perfis, foi descobrindo que a prática era bastante difundida no sudeste, então o que era uma venda despretensiosa e privativa, acabou se tornando um negócio.
Primeiro fez um teste de madrugada: quem transferisse 50 reais, ganharia uma surpresa. Três pessoas transferiram e ganharam apenas algumas fotos que comumente já postava nas redes sociais. Foi funcionando, mas ela queria mais.
Com o tempo as fotos se tornaram mais sensuais e profissionais: contratou um fotógrafo e a cada 15 dias ia ao motel atualizar seu book ou, como chamam, seu “pack de fotos”. Também foram criadas subdivisões de produtos: fotos sensuais, apenas com roupa íntima, custavam 80 reais por cinco imagens, o bônus de um vídeo, fechava em 100; já para os chamados nudes – nudez explícita – o valor sua para 150 reais, 180 com um bônus. Era só fazer o pix ou transferência, demonstrar o comprovante e pronto, fotos disponíveis. O supermercado? Pediu demissão.
Assim como Aline, com quem conversei para entender mais, muitas outras mulheres começaram a fazer o mesmo no período de pandemia em Belém. Aparentemente o público consumidor não pára de crescer. Ao que tudo indica, o fascínio pela compra se dá pela proximidade da fotografada. Ou seja, agora se vê a vizinha do bairro e não uma atriz bem distante. Se antes muitas dessas pessoas compravam a Playboy de uma famosa, agora pagam para ver a menina que bomba no Instagran.
Outra prática bastante difundida nesse novo formato de mercado erótico, é a criação de um perfil para clientes vips. É criada uma conta privada no Instagran, com fotos sensuais, que só aceita quem pagar a quantia de 220 reais ao mês. Na verdade, esse é o preço de uma moça, com quem conversei, que está iniciando, ou seja, os preços podem ser ainda maiores.
Mas nem tudo são flores. Como você já deve ter imaginado, não é tão simples expor suas fotos dessa maneira, o perigo é uma constante. Além de muitas terem seus conteúdo roubados e postados em sites de prostituição, acontece de receberem ameaças ou mesmo serem perseguidas por homens desconhecidos. Aline, por exemplo, disse ter feito boletim de ocorrência contra dois que disseram ter descoberto onde ela morava, ameaçando expor as fotos para vizinhos e familiares, o que fez ela criar um novo perfil com nome falso, para despistar eventuais perseguidores.
O “circuito do nudes” não pára de crescer. Seria um sintoma do atual cenário de poucas oportunidades de trabalho satisfatório ou apenas a chegada de um novo nicho? Antigamente as agências selecionavam a capa da revista, agora não há intermediários, elas mesmas cuidam de tudo. Se é bom ou ruim, você quem vai dizer, fato é que esse panorama parece estar apenas no começo.
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