Em apenas alguns minutos de O Irlandês (2019), qualquer apreciador da obra de Martin Scorsese percebe rapidamente que este é um filme que revisita parte relevante de sua obra: Os filmes de máfia. Esse elemento nostálgico é normalmente usado como uma isca para o público que quer rever artistas em papeis de destaque de sua carreira. Scorsese pega essa estrada da nostalgia para falar do crepúsculo que o cinema vive.
Nos últimos anos, tivemos belíssimos filmes sobre a velhice e a inevitabilidade da morte: Lucky (2017), dirigido por John Carroll Lynch, foi o canto do cisne de Harry Dean Stanton (91 anos), pois ele faleceu no mesmo mês em que o filme foi lançado. Em The Old Man & the Gun (2018), de David Lowery, temos Robert Redford (83 anos), como um assaltante de banco que se recusa a se aposentar; Clint Eastwood (89 anos) é um do atores que melhor fez o retorno às suas origens.
Os Imperdoáveis (1992), foi a volta ao velho Oeste, que o transformou em um ícone, Gran Torino (2008), o qual remetia ao truculento Dirty Harry e, em A Mula (2018), a historia real de um homem que com quase 90 anos, transportava drogas. O ator fez filmes que discutem a natureza desses personagens e seu lugar no mundo.

Algo que também foi visto em Hollywood, em meados dos anos 60 e 70, foi quando a geração do cinema clássico começou a se aposentar. Em O Último Pistoleiro (1976), John Wayne (72 anos na época), o mais icônico pistoleiro da historia do cinema morrendo de câncer, ao mesmo tempo em que o ator sofria da doença realmente, ali era o ponto onde essa Hollywood clássica se despedia e a Nova Hollywood nascia, trazendo com ela, novas formas de fazer cinema. Foi onde a carreira de Martin Scorsese (77 anos) começou e assim como ele, a de Robert De Niro (76 anos), Al Pacino (79 anos) e Harvey Keitel (80 anos).

Em O Irlandês, diretor e seu elenco conseguem mostrar, como em nenhum outro filme, onde uma era se despede e a autoconsciência dessa inevitabilidade do tempo se reflete bem na escolha do CGI para rejuvenescer o elenco. É algo que não nos distancia da consciência de que, por trás do rejuvenescimento, temos atores muito mais próximos dos personagens velhos e cansados visto perto do fim do filme.

Estamos testemunhando o fim iminente de uma geração, e em alguns anos, a alcunha de veterano será dos diretores que iniciaram nos anos 90, sendo que muitos deles estão entre os que fizeram os melhores filmes de 2019: James Gray (50 anos), Quentin Tarantino (56 anos), Bong Joon-Ho (50 anos), James Mangold (55 anos), citando apenas alguns. Essa geração ainda tem fortes laços com a geração dos anos 70 e, constantemente, expressam isso em seus filmes e através deles ainda persiste uma certa tradição, já um pouco corrompida, mas que ainda serve de consolo.
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