Pessoas de baixa renda, moradoras de Vila de Beja, no município de Abaetetuba, voltam a denunciar a Celpa por cobrança abusiva da taxa de energia elétrica. Elas gravaram um vídeo, pedindo ajuda às autoridades e na esperança de que alguma providência seja tomada.
A concessionária, que investe pesado em propaganda para dizer que cuida do bem-estar dos consumidores e que utiliza a tarifa social para pessoas de baixa renda, não está cumprindo o que diz, ao menos em Vila do Beja. “Tarifa social é propaganda enganosa da Celpa, porque ela não cumpre”, acusa uma moradora.
Suelen de Sousa Nunes, por exemplo, faz flores para vender e ganhar a vida. A Celpa cobrou um preço além do que ela pode pagar e cortou a luz da casa dela. “As minhas filhas ficam com medo do escuro, porque cortaram a luz e eu tenho de sair para vender flores. Elas querem ver a novela, mas não tem energia”, desabafa ela, chorando.
A tristeza de Suellen é por não poder fazer nada. Ela tem que fazer a comida cedo, aproveitando a claridade do dia. A trabalhadora responde para a filha, que pergunta pela energia: “eu não tenho dinheiro para pagar, se não vai faltar para o teu leite”.
Já a asmática Edicarla disse, também chorando, que não pode ligar o aparelho de aerossol dela, porque vai aumentar a conta da luz e ela não tem dinheiro para pagar.
Outra moradora de Vila do Beja, Gina Rosa, afirma que a energia da casa dela foi cortada porque não tem condições de pagar o valor que estão cobrando. “Dói nosso coração, como mãe, vendo nosso filho no escuro sem poder fazer nada no momento”.
A Idosa Luzia Carneiro Xavier também não está suportando pagar a tarifa de luz cobrada pela Celpa. “Está muito caro. Eu moro só e tenho apenas uma geladeira e uma televisão. Como posso pagar duzentos e poucos reais? Não tem condições. Me ajudem”. A conta dela passa de mil reais. Analfabeta, ela conta que na Celpa “esfregaram” os dedos dela num papel como confissão de dívida.
A moradora Lucilena Nunes disse que tem um débito com a Celpa de 15 mil reais. Outra afirmou que teve de vender a casa onde morava por causa da dívida com a Celpa, pois ela nunca conseguia religar a luz.
Outra senhora informou que está sendo ameaçada pelos funcionários da concessionária por causa de uma dívida de R$ 14,996,39. “Disseram que se eu não pagar eles vão me levar presa”. Outra mulher também confirma as ameaças e pede socorro, “Eu faço um apelo, porque devo 15 mil reais e estou sendo ameaçada pelo pessoal da Celpa”.
O morador Paulo Zulu afirma que os funcionários da Celpa que estão ameaçando as moradoras são covardes. “Eles fazem isso quando tem só mulher em casa pois quando tem homem eles não vêm com toda essa arrogância”. Outro morador reclamou que uma conta de R$ 65.00 pulou para R$ 413,00 e depois veio no valor de R$ 350,00. Outro reclamou de uma cobrança absurda de R$ 2.742,00.
Mas não é apenas em Vila do Beja que as pessoas estão reclamando do preço absurdo cobrado pela rede Celpa. Na Região Metropolitana de Belém, as reclamações são aos milhares, inclusive com campanhas nas redes sociais pedindo providências das autoridades.
Recentemente, durante solenidade em Belo Monte, na presença do presidente Jair Bolsonaro, o governador Hélder Barbalho (MDB) fez um discurso destacando o Pará como produtor de energia elétrica para o país e afirmando que, apesar disso, tem a terceira energia mais cara do Brasil. Na ocasião, Hélder falou da necessidade de mudanças na legislação para corrigir as distorções. Mas, passada a solenidade, desmontado o palanque, o governador não apontou o caminho da luz do fim do túnel.
Empresa diz que resolveu, mas é desmentida
A Celpa foi procurada sobre as denúncias dos moradores, mas a justificativa da empresa é que o vídeo é antigo (teria mais de dois meses) e que a situação dos moradores já teria sido resolvida. O Ver-o-Fato telefonou para Vila do Beja e constatou que as alegações da Celpa são mentirosas.
Suellen disse que o problema dela não foi resolvido coisa nenhuma. Pelo contrário, a Celpa mandou para ela novas contas e ameaçou cortar novamente a energia caso ela não pague o que deve.
Jessé Negrão, outra vítima da empresa, foi taxativo: “a Celpa jogou uma bola de neve em cima de mim e eu para ter energia em minha casa fui obrigado por ela a fazer uma renegociação com valores absurdos”. E fulminou: “vamos acabar com esse roubo da Celpa”.
Lucilena também desmente a Celpa. “Não resolveu minha situação. Pior, minha dívida aumentou pra mais de 15 mil reais”.
Como as queixas continuam, confirmadas em novos vídeos, gravados nesta tarde de segunda-feira,2, o terror da Celpa continua. É o massacre do alicate elétrico, que faz vítimas aos montes. Pobres consumidores.
A Celpa, aliás, está mudando de nome. Agora, passará a se chamar Equatorial Energia.
Ou seja, muda de nome, mas as velhas e maléficas práticas contra a população continuam as mesmas.
Tudo sob o “manto sagrado” da impunidade.